Dia cinco de janeiro, embarquei para Nova Iorque. A maravilhosa lembrança das 12 horas de escala no Panamá encheram meu peito de angustia, tempo demais para pensar em bobagem. Na inda pro Brasil, eu contei com um ótimo passatempo. Estava terminando de ler os quadrinhos Estranhos no Paraíso, a leitura mais viciante que eu já vivenciei. Na ida, eu ainda tinha umas 120 páginas e Estranhos no Paraíso, mas agora, lá estava eu sem a companhia de Katchoo ou Francine (personagens do quadrinho) para fazer as horas passarem mais rápido...
Depois de horas lendo sobres as cartas de amor de Florentino e Fermina, reparei um rapaz olhando para mim. Não era bonito nem feio, meio cafoninha, mas tinha um sorriso bonito. Perguntou em inglês se eu gostava do livro. Reconheci o sotaque latino e respondi em espanhol que sim. Perguntou meu nome, se apresentou...e continuou a conversa metade em inglês, metade em espanhol. Era colombiano, por isso me perguntou: “Você sabe de onde é o Garcia Márquez?”
Antes que eu respondesse um agente da Copa air lines chamou meu nome no auto falante. Quando cheguei no balcão eles me perguntaram se eu estava viajando só, eu disse que sim. Do meu lado, um senhor quase aos prantos. O vôos teve overbook e o senhor estava sem acento marcado. Ele viajava com o resto da sua família que tinha seus acentos garantidos. Copa me ofereceu um hotel cinco estrelas com tudo pago, um city tour e $400 em milhagem para eu ficar um dia no Panamá e voar no dia seguinte. O velhinho fez a maior cara de pena e depois de ficar 11 horas no aeroporto, eu disse que sim! Fui levada pra outra sala enquanto esperava por alguém para me buscar, comigo muitas outras pessoas também voluntárias. Depois de cinco minutos, lá vem o colombiano, foi recrutado depois de mim para ceder o lugar para outra pessoa.
O colombiano tinha 18 anos, sua conversa rendia muito pouco e me lembrava os meus alunos de teatro em Venda Nova, Belo Horizonte. A caminho do hoteleu fui conversando com outro recrutado, um senhor de uns 50 anos que vive entre Nova Iorque e a Cidade do Panamá. Ele se aposentou como inválido quando perdeu dois dedos no antigo emprego. Com a indenização abriu o próprio no Panamá, distribuição de roupas esportivas... me lembrou o Lula...
O Hotel era enorme, bem bonito, assim como meu quarto. Deixei as malas no quarto e fui encontrar o “Lula” e o Colombiano para jantar as custa da Copa Air Lines. Depois do jantar, fui passear. Lula conhecia a área e nos guiou pelos cassinos do Panamá. Lugarzinhos deprimentes os tais cassinos. O cheio de carpete, aquelas luzes cafonas e as pessoas, gente com cara de quem não devia estar ali. Agradeci o passeio e me retirei aos meus aposentos. Dormi igual a um bebê, acordei desorientada. Não fazia idéia da hora. Meu celular estava no horário do Brasil, lap top de Nova Iorque e o rádio relógio do quarto estava parado. Calcei o tênis e me vesti. Tomei o café da manhã e fui para a academia, lá descobri que eram 8am. Corri 15 minutos, mas tinha uma criança muito barulhenta na academia apesar do aviso: Não é permitida a entrada de crianças. Entrei na piscina, nadei, boiei e mergulhei até enrugar! A caminho do quarto vi o colombiano que estava meio submerso na extremidade oposta a mim na piscina. Acenei de longe.
Yoga...banho demorado...preguicei na cama até o almoço. Alimentada, parti para o que supostamente seria a melhor parte da minha estadia no Panamá: city tour!
Era um dia bem feio, nublado e com uma garoa fina. Apesar da chuvinha chata, passear pelo centro antigo da cidade foi bem legal. Os prédios era muito bonitos e apesar da maioria estar praticamente ruindo, parece que o governo está tentando restaurar esse parte da cidade. Seguimos para a famosa ponte da amizade. Eu tenho um problema com pontes! Por mais que eu saiba que as pontes são essas grandes maravilhas da engenharia eu não consigo achar graça em ponte. Tudo bem, eu amo a ponte do Brooklyn, mas aí são outros quinhentos. Passar pela ponte da amizade para mim foi uma experiência parecida com minha ida a Mumbai: eu não gostei muito, mas é uma ótima história para você contar para o resto da vida. Eu vou ter 110 anos de idade e vou estar dizendo: “Quando eu cruzei a ponte da amizade... por que na Índia é diferente....”.
Cheguei ao mirante e vi, de um lado o Atlântico, do outro, o Pacífico... achei que ia ser algo legal assim como o encontro do rio Negro com o Solimões, estava enganada, nada de mais. O que me chamou a atenção no Panamá foi algo que todo mundo está careca de saber, mas que toda vez que eu tenho a recorrente confirmação de que é verdade me espanta: tem chinês em todo lugar!
Levantem uma pedra, vai ter um chinês em baixo, jogue uma pedra pra cima, quando cair, a pedra vai acertar um chinês! É fato! Pois o mirante construído pelo governo do Panamá para observar canal e a ponte de Amizade é uma homenagem a imigração chinesa no Panamá! Assim como em New York, lá também tem o Bairro chinês, que os americanos chamam Chinatown e os espánico, Barrio Chino.
Voltei pro hotel a tempo de um banho e fechar minha mala. Foi para o aeroporto e por duas horas fiquei jogando conversa fiada com o colombiano. Copa air lines nos ofereceu mais um dia de graça por que o segundo vôo também tinha overbook, mas eu resolvi que era tempo de enfrentar a realidade.
Quando olhei meu bilhete de embarque vi que tinha sido posta no pior acento do avião, na frente da saída de emergência, por isso minha cadeira não inclinava. Fiquei p... da vida e pedi para falar com a pessoa que recrutava os voluntários a ficar no Panamá. Expliquei para ele que eu achava um abuso eu ceder o lugar no meu vôo e se colocada no pior acento do avião no dia seguinte. O cara pegou meu ticket e voltou com um novo: “Na classe executiva!”
Dormi feliz da vida na minha poltrona grande muito orgulhosa do meu piti! Dormi até me lembrar do frio que estaria fazendo em NYC quando eu chegasse sem casaco de frio. Como eu tinha saído quase fugida de NYC 4 meses antes, não levei meu casaco. Roubei o cobertor do avião e os comissários de bordo devem ter pensado: “ Isso que dá, por pobre na primeira classe, robam atee esses cobertores de quinta!”
Se tem uma coisa que você aprende ao viver em NYC, é a não dar a mínima para o que as pessoas pensam sobre você, e se eu já era assim em Teresina, imagina agora! Sem dar importância a cara de nojo da aeromoça eu saí com meu cobertor. Passei pela imigração (ah é tão bom ter green card!) e tive a agradável surpresa de que não estava assim tão frio. Peguei um táxi e fui para casa.
Depois de quatro meses, eu estava de volta. Pela janela do carro, eu olhava a inesperada chuva caindo em janeiro. Pensei no aquecimento global, no pouco de dinheiro que eu tinha na minha conta, nos chineses do Panamá, me sentindo um pouco enjoada, pensei devia ser cansaço, confusão mental e ajuste de fuso horário, eu pensei...
...errado de novo! Acordei só bagaço.
BEM VINDA A NEW YORK, VOCE ESTA COM SALMONELA!
2 comentários:
Laura!!!
Estou adorando a volta do "Coisas de Laurinha! :)
Agora só tá faltando escrever sobre a conquista do green card...e o reencontro com o ex(?)-namorido hehehehehe
Bjinhos da sua fã
Kelly
Muito legal Laura, adoreiii!
Vou salvar nos favoritos.
Beijos
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