É claro que você já ouviu falar em “um é pouco, dois é bom e três é demais”. Pois bem, Momentos Negros III é o ponto final, o rito de passagem, resurgimento da fênix, embora o que tenha saído das cinzas parecesse mais um urubu sapecado!
Depois de fumar meu primeiro e último baseado, tentar afogar as mágoas em martines de melancia e escrever meu primeiro texto depressivo em inglês, eu fiz o que qualquer pessoa normal faria para sair da fossa: uma tatuagem! Eu andei com essa foto por uns dois meses no meu computador , impossível contar as horas eu gastei em frente a tela do laptop ao som de Belle and Sebastian analisando os pormenores daqueles rabiscos.
Enfiei na cabeça que para fazer aquilo, eu precisava de alguém bom. O marido da minha prima, que tem quatro tatuagens, se ofereceu logo para achar o estúdio, e achou. O cara que tatuou a Débora Seco, o bam-bam-bam do Itaim Bibi. Ele estava com a agenda lotada, mas como eu disse que tinha pouco tempo em Sampa ele deu um jeito. Seriam duas visitas, cada uma de duas horas. A segunda, quinze dias depois da primeira, para a pele ter tempo de cicatrizar. A primeira, para desenhar e a segunda, para colorir o desenho.
Ah, eu mencionei que eu tenho medo de agulha? Medo, provavelmente não seria o melhor termo, o certo seria pânico! Eu consigo lidar com agulha por uns dez segundos, depois disso eu entro em pânico, morro de nojo e nervoso. Mas o pior erra o medo de mim mesma. E se eu desse um pulo na cadeira e ele acabasse rabiscando minhas costas pra sempre com um borrão?! Me agarrei na cadeira com toda a força, para evitar o pulo assustado que poderia me custar a traseira rabiscada. O cara era enorme, 1,90m de altura, careca e todo tatuado. Impossível não reparar o quanto ele era bonitão. Devia estar beirando os quarenta anos, lembrava muito o Daniel Day-Lewis , tinha um olhos azul muito claro. Infelizmente, ele estava tatuando minhas costas, por isso quem se beneficiou da vista foram minhas primas que estavam por lá demonstrando suporte. Apesar do tamanho e da cara de mal, o tatuador era um doce! A maior dor que eu senti no começo era a tensão nos meus músculos. Claro que isso não permaneceu assim por muito tempo.
Duas coisas mudaram drasticamente meu estado de espírito. A primeira foi uma espiadinha que eu dei. Fui olhar pro besourinho no meu ombro, mas em vez disso, vi a minha pele meio esfolada nas extremidades do desenho. Minha pressão foi pro pé, mas eu tinha colocado na minha cabeça que eu não ia dar pití e que eu não ia dar vexame. Eu sabia que ia doer, que era agulha, se eu resolvi fazer, era problema meu! Respirei fundo e tentei relaxar, mas aí eu comecei a ver ele jogar bolos e bolos de papel higiênico no lixo. Ele ia desenhando, limpando minhas costas e jogando o papel fora. Tinha muita tinta no papel, preta e vermelha. Resolvi perguntar: “ Você já está colorindo?” Ele respondeu: “Não, por enquanto, eu estou usando só tinta preta.” A suposta tinta vermelha era sangue! Minha pressão caiu, meu estomago embrulhou. Eu pensei no tanto de suco de beterraba que eu ia ter que tomar para evitar minha velha amiga anemia.
Quando eu pensei que ia ter que pedir pinico, o recepcionista do estúdio entrou na sala. Ele conversava sem parar de me tatuar. O assistente veio dizer que o próximo cliente estava esperando. Meu alivio ao ouvir isso durou pouco, meu tatuador respondeu que ainda ia trabalhar 40 minutos nas minhas costas. Ele me perguntou se eu me incomodava do cara vir falar com ele, eu disso que não. O cara entrou na sala. Ele estava “fechando as costas”, o que no mundo da tatuagem que dizer tatuar 100% das costas. O cara entrou reclamando da dor que ele tinha sentido da última vez e que era melhor ele ter bastante xilocaina dessa vez. O recepcionista comentou: “ Cara, não tem vergonha não! A mina aqui tá tatuando a uma hora e meia ninguém nem ouviu a voz dela ainda, você ainda nem começou a tatuar e já ta reclamando!” Quando os dois saíram da sala meu tatuador comentou como o cara era chato e completou : “ Ah, se todo cliente meu fosse assim calmo como você...” Ah se ele soubesse que naquele ponto a única coisa que passava pela minha cabeça era: O que diabos eu estava pensando quando eu me meti a fazer isso?!
Os últimos vinte minutos foram os piores. Meu ombro já estava bem machucado e começando a inflamar, por isso a dor estava piorando. Então, quando eu já estava pensando que aquilo não ia ter fim, o milagre aconteceu. “Por hoje chega!” As palavra mais doces que eu podia ouvir.
Ele me lambrecou de pomada cicatrizante, cobriu a tatuagem com papel filme foi comigo a recepção marcar a segunda visita. Quando minha prima voltou para me buscar, eu estava muito grogue. No carro eu reparei que eu ainda esta sangrando um pouco. Quando cheguei em casa, eu tinha certeza que estava com febre, morrendo de frio em dezembro em São Paulo. Resolvi tomar um banho para abaixar a febre e trocar o curativo. Quando eu fui ensaboar a tattoo eu quase vomitei. A tatuagem estava em alto relevo nas minhas costas... claro que depois de pensar por dois segundos aquilo era óbvio, mas quem disse que eu estava esperando aquela textura nas minhas costas.
Quando eu acordei na manhã seguinte, a febre tinha passado e minha pouca cor tinha voltado para o meu rosto. Os próximos 15 dias seriam uma sucessão de esbarrões no metro ou um carinho desatento da minha prima que iram me relembrar constantemente da minha tatuagem. Comecei a achar que quando o dia da segunda visita chegasse, eu não teria coragem de voltar, mas foi quando eu descobri a ciência da tatuagem.
Quinze dias era o intervalo perfeito. Depois de doze dias, eu já tinha me esquecido da dor por completo, e até a última casquinha da minha tattoo tinha caído. Cheguei no estúdio bem mais confidente do que da primeira vez e fui quando algo mágico aconteceu: Ele começou a me tatuar e eu fiquei calminha da Silva! Quase não sentia dor e para falar a verdade, o barulhinho da máquina me lembrava o barulho de ar condicionado. Foi me dando um sono... teve uma hora que eu estava quase dormindo. Ele parou de me tatuar abismado com o meu estado de relaxamento. Acho que ele me tutucou para ver se eu ainda estava viva. Percebendo que ele tinha parado, abri os olhos. “Você está quase dormindo, não está?” – ele perguntou. Respondi que sim com um sorriso preguiçoso. “Ah se todo mundo que eu tatuasse fosse assim!”- ele comentou pela segunda vez. A calma foi tanta que ele me tatuou direto sem para por um segundo. Assim, antes que eu pudesse imaginar: “Pronto!”
O mais importante tinha sido o rito de passagem. Enterrei o defunto!A mulher da história
Momentos Negros Parte II tinha morrido. Tratei de enterrá-la e prestar homenagem com um jardim de crisântemos nas minhas costas.
A Morta tinha sofrido muito, mas como ela mesma disse: “Bad things are necessary”. Depois do enterro, prometi nunca me esquecer dela e de seu sofrimento, mas sempre buscando coisas felizes. Momentos Negros Parte III, foi o último! Agora, se iniciavam meus Momentos de Paz.
Ps: eu não posso terminar essa história sobre o comentário do meu pai ao descobrir que a tatuagem nas minhas costas não era de Hena: “Aff , tu ta parecendo um azulejo!”
Depois de fumar meu primeiro e último baseado, tentar afogar as mágoas em martines de melancia e escrever meu primeiro texto depressivo em inglês, eu fiz o que qualquer pessoa normal faria para sair da fossa: uma tatuagem! Eu andei com essa foto por uns dois meses no meu computador , impossível contar as horas eu gastei em frente a tela do laptop ao som de Belle and Sebastian analisando os pormenores daqueles rabiscos.
Enfiei na cabeça que para fazer aquilo, eu precisava de alguém bom. O marido da minha prima, que tem quatro tatuagens, se ofereceu logo para achar o estúdio, e achou. O cara que tatuou a Débora Seco, o bam-bam-bam do Itaim Bibi. Ele estava com a agenda lotada, mas como eu disse que tinha pouco tempo em Sampa ele deu um jeito. Seriam duas visitas, cada uma de duas horas. A segunda, quinze dias depois da primeira, para a pele ter tempo de cicatrizar. A primeira, para desenhar e a segunda, para colorir o desenho.
Ah, eu mencionei que eu tenho medo de agulha? Medo, provavelmente não seria o melhor termo, o certo seria pânico! Eu consigo lidar com agulha por uns dez segundos, depois disso eu entro em pânico, morro de nojo e nervoso. Mas o pior erra o medo de mim mesma. E se eu desse um pulo na cadeira e ele acabasse rabiscando minhas costas pra sempre com um borrão?! Me agarrei na cadeira com toda a força, para evitar o pulo assustado que poderia me custar a traseira rabiscada. O cara era enorme, 1,90m de altura, careca e todo tatuado. Impossível não reparar o quanto ele era bonitão. Devia estar beirando os quarenta anos, lembrava muito o Daniel Day-Lewis , tinha um olhos azul muito claro. Infelizmente, ele estava tatuando minhas costas, por isso quem se beneficiou da vista foram minhas primas que estavam por lá demonstrando suporte. Apesar do tamanho e da cara de mal, o tatuador era um doce! A maior dor que eu senti no começo era a tensão nos meus músculos. Claro que isso não permaneceu assim por muito tempo.
Duas coisas mudaram drasticamente meu estado de espírito. A primeira foi uma espiadinha que eu dei. Fui olhar pro besourinho no meu ombro, mas em vez disso, vi a minha pele meio esfolada nas extremidades do desenho. Minha pressão foi pro pé, mas eu tinha colocado na minha cabeça que eu não ia dar pití e que eu não ia dar vexame. Eu sabia que ia doer, que era agulha, se eu resolvi fazer, era problema meu! Respirei fundo e tentei relaxar, mas aí eu comecei a ver ele jogar bolos e bolos de papel higiênico no lixo. Ele ia desenhando, limpando minhas costas e jogando o papel fora. Tinha muita tinta no papel, preta e vermelha. Resolvi perguntar: “ Você já está colorindo?” Ele respondeu: “Não, por enquanto, eu estou usando só tinta preta.” A suposta tinta vermelha era sangue! Minha pressão caiu, meu estomago embrulhou. Eu pensei no tanto de suco de beterraba que eu ia ter que tomar para evitar minha velha amiga anemia.
Quando eu pensei que ia ter que pedir pinico, o recepcionista do estúdio entrou na sala. Ele conversava sem parar de me tatuar. O assistente veio dizer que o próximo cliente estava esperando. Meu alivio ao ouvir isso durou pouco, meu tatuador respondeu que ainda ia trabalhar 40 minutos nas minhas costas. Ele me perguntou se eu me incomodava do cara vir falar com ele, eu disso que não. O cara entrou na sala. Ele estava “fechando as costas”, o que no mundo da tatuagem que dizer tatuar 100% das costas. O cara entrou reclamando da dor que ele tinha sentido da última vez e que era melhor ele ter bastante xilocaina dessa vez. O recepcionista comentou: “ Cara, não tem vergonha não! A mina aqui tá tatuando a uma hora e meia ninguém nem ouviu a voz dela ainda, você ainda nem começou a tatuar e já ta reclamando!” Quando os dois saíram da sala meu tatuador comentou como o cara era chato e completou : “ Ah, se todo cliente meu fosse assim calmo como você...” Ah se ele soubesse que naquele ponto a única coisa que passava pela minha cabeça era: O que diabos eu estava pensando quando eu me meti a fazer isso?!
Os últimos vinte minutos foram os piores. Meu ombro já estava bem machucado e começando a inflamar, por isso a dor estava piorando. Então, quando eu já estava pensando que aquilo não ia ter fim, o milagre aconteceu. “Por hoje chega!” As palavra mais doces que eu podia ouvir.
Ele me lambrecou de pomada cicatrizante, cobriu a tatuagem com papel filme foi comigo a recepção marcar a segunda visita. Quando minha prima voltou para me buscar, eu estava muito grogue. No carro eu reparei que eu ainda esta sangrando um pouco. Quando cheguei em casa, eu tinha certeza que estava com febre, morrendo de frio em dezembro em São Paulo. Resolvi tomar um banho para abaixar a febre e trocar o curativo. Quando eu fui ensaboar a tattoo eu quase vomitei. A tatuagem estava em alto relevo nas minhas costas... claro que depois de pensar por dois segundos aquilo era óbvio, mas quem disse que eu estava esperando aquela textura nas minhas costas.
Quando eu acordei na manhã seguinte, a febre tinha passado e minha pouca cor tinha voltado para o meu rosto. Os próximos 15 dias seriam uma sucessão de esbarrões no metro ou um carinho desatento da minha prima que iram me relembrar constantemente da minha tatuagem. Comecei a achar que quando o dia da segunda visita chegasse, eu não teria coragem de voltar, mas foi quando eu descobri a ciência da tatuagem.
Quinze dias era o intervalo perfeito. Depois de doze dias, eu já tinha me esquecido da dor por completo, e até a última casquinha da minha tattoo tinha caído. Cheguei no estúdio bem mais confidente do que da primeira vez e fui quando algo mágico aconteceu: Ele começou a me tatuar e eu fiquei calminha da Silva! Quase não sentia dor e para falar a verdade, o barulhinho da máquina me lembrava o barulho de ar condicionado. Foi me dando um sono... teve uma hora que eu estava quase dormindo. Ele parou de me tatuar abismado com o meu estado de relaxamento. Acho que ele me tutucou para ver se eu ainda estava viva. Percebendo que ele tinha parado, abri os olhos. “Você está quase dormindo, não está?” – ele perguntou. Respondi que sim com um sorriso preguiçoso. “Ah se todo mundo que eu tatuasse fosse assim!”- ele comentou pela segunda vez. A calma foi tanta que ele me tatuou direto sem para por um segundo. Assim, antes que eu pudesse imaginar: “Pronto!”
Foto de referência para minha tattoo
A tatuagem era bonita, mas não achei que tinha ficado igual a da foto que eu tinha. A cor era diferente e o detalhamento não era tão delicado como o da minha foto. Demorou um tempo para eu me acostumar. Minha tatuagem ficou linda, mas como eu tinha a foto na cabeça, era difícil parar de comparar! Depois de um tempo eu entendi que para quem não tinha visto a foto de referência, minha tatuagem era linda de morrer, e como eu não ia andar com a foto original pregado no meu outro ombro para comparação, estava tudo bem.O mais importante tinha sido o rito de passagem. Enterrei o defunto!A mulher da história
Momentos Negros Parte II tinha morrido. Tratei de enterrá-la e prestar homenagem com um jardim de crisântemos nas minhas costas.
A Morta tinha sofrido muito, mas como ela mesma disse: “Bad things are necessary”. Depois do enterro, prometi nunca me esquecer dela e de seu sofrimento, mas sempre buscando coisas felizes. Momentos Negros Parte III, foi o último! Agora, se iniciavam meus Momentos de Paz.
Ps: eu não posso terminar essa história sobre o comentário do meu pai ao descobrir que a tatuagem nas minhas costas não era de Hena: “Aff , tu ta parecendo um azulejo!”
3 comentários:
A tatoo ficou linda!
A primeira a gente nunca esquece, mas sempre será só a primeira... hehehe!
Bem vinda ao time da coceira.
sua tatoo é linda, já tinha comentado no seu orkut. só ainda não disse que admiro vc, mesmo assim de longe. linda de dentro pra fora, de fora pra dentro. adoro lêr você. beeeijos.
Marcela.
Curti muito sua tatoo
Agora deixa eu te explicar o motivo do comentário; Tava eu aqui na net procurando uma imagem no intuito de “gravar” essa imagem na minha guitarra, eu encontrei (risos)... um amigo meu vai fazer esse feito na minha guitarra ele tbm curtiu muito sua tatoo, tenho certeza eu que vai ficar show. Eu só queria que você me informasse que tipos de flores são essas as da sua tatoo e a outra, queria que você me ajudasse mais uma vez por que assim eu posso aprofundar-me e explicar pra aquele cara estranho que eu sei que vai chagar e perguntar – Ei que flor é essa?, Mas ela tem significado?.
E se possível add meu Orkut e msn, olha aew!, eduardo.ramos77@hotmail.com
Abraços!
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