segunda-feira, agosto 31, 2009

TED


Em julho de 2006, eu escrevi um texto que se chama “Eu hein, incoviniença...”. Esse texto falava sobre como até 2006, aquecimento global aqui nos Eua era considerado bobajada de ambientalista a toa. Depois do lançamento e do tremendo sucesso do filme “An inconvinient truth” do ex-candidato a presidência dos EUA, Al Gore, muita coisa mudou.

Agora, da noite para o dia os Americanos acordaram para a realidade, mas em vez de se reeducarem, como sempre, eles dão um jeito de encabrestar o resto do mundo. Por aqui, só se fala no perigo que é o crescimento econômico da China e da Índia, por que com o poder aquisitivo desses paises aumentando, a utilização de recursos naturais, a produção de lixo e a emissão de gás carbônico, podem facilmente causar o colapso ambiental do planeta. A resposta do chineses é simples (na verdade, em forma de pergunta): A China, com a população que tem, emite muito menos gás carbônico que os Estados Unidos. Por que eles tem que sacrificar o crescimento econômico do país, para os bonitão americanos continuarem a viver estupidamente na mordomia?

Enquanto o bicho pega entre os estúpidos de longa data e os imbecis de vanguarda e mais e mais pessoas se preocupam com o futuro do mundo, eu tento convencer meu atual Namorado (eu sei que ainda não cheguei nessa parte, mas eu adianto, existe um novo namorado na história!) a estudar engenharia ambiental. Olho para trás e fico brava comigo, por que se eu tivesse pensado nisso antes, tinha eu feito engenharia ambiental!

Durante os últimos meses, ando bem perdida profissionalmente e muito indecisa sobre o que fazer do futuro. Quando isso acontece, geralmente acho que o meu cérebro precisa ser estimulado, por isso, nas duas últimas semanas em que eu fiquei só em casa (o bofe novo foi visitar a família) assisti em média dois documentários por dia. Todos muito bons. Assisti um sobre fanatismo evangélico no interior dos EUA. Aí, para fazer o contrapondo, assisti um sobre o que o ocidente precisa saber sobre o Islã. Outro, sobre como a arte salvou a vida das crianças nos campos de refugiados de Uganda. Uns meio assustadores, outros animadores, uns instigantes ( acabei de comprar o Korão e um livro sobre a vida do Muhammed, que para mim é mesmo que tá vendo o Hitler), mas o mais importante para a minha vida, foi o que eu vi hoje pela manhã: The future we will create: Inside the world of TED.

TED significa Technology, Entertainment , Design. Começou como um pequeno encontro e hoje virou o congresso de fomentação das idéias mais revolucionárias da atualidade. Nos últimos anos, TED tem, cada vez mais, se voltado a questões ambientais e sociais, mas o encontro é tão diverso que é difícil de explicar. Fundadores do Google, Amazon.com, Netflix, Al Gore, o criador da tecnologia toch screan, os maiores nomes da física, química, medicina, etc... A idéia é colocar os maiores cabeçudos do mundo junto com cabeçudinhos desconhecidos e deixarem eles apresentarem idéias e pesquisas. Depois, eles vão tomar café e numa parceria criada ali, tomando um expresso, a vida de milhões de pessoas pode mudar radicalmente!

Lembrei de quando eu tinha 14 anos. Meu professor de sociologia me designou para um debate. Fiquei umas 5 horas conversando com meu pai sobre política, meios de produção, dívida externa, incentivos fiscais, me preparando para o tal debate que nunca aconteceu. Nessa época, resolvei que o único jeito, ia ser virar milionária. Tinha tantas idéias de como mudar o mundo... mas elas custavam dinheiro e a minha mesada, mesmo não sendo de se jogar fora, não ia ser o suficiente. Tinha essa convicção de que minha missão no mundo era fiçar muito rica para poder fazer tudo que eu queria: Financiar pesquisas na área de agricultura e irrigação no nordeste, de nutrição, utilização inteligente dos recursos naturais... Queria diminuir o êxodo rural do nordeste promovendo sustentabilidade de pequenas comunidades. Claro que sustentabilidade é um termo moderno e na época eu não usava ele, mas eram esses meus planos: criar comunidades auto sustentáveis nas zonas de grande êxodo no Brasil. Na minha, cabeça isso faria do Brasil o pais perfeito, as grandes cidades iriam desafogar, a violência urbana diminuiria, as regiões pobres do país seriam menos dependente financeiramente das mais ricas, e por aí iria!

Em algum lugar no espaço, meus ideais se perderam, não seu se na hiper- introspectividade da época do teatro, ou se no meio dos meus devaneios amorosos, mas de vez em quando, meus projetos infantis de mudar o mundo reapareciam para mim e nunca soube o que faze com eles. Por mais que eu me esforçasse para tentar achar um ponto de equilíbrio entre a ingenuidade infantil da minha utopia e a minha frívola realidade de produto do sistema, tudo sempre parecia intangível.

Ha um mês atrás, enquanto tentava ajudar o bofe novo a resolver a sua vida, pela primeira vez elaborei algo palpável. Ele deveria se formar em engenharia ambiental, vender umas propriedades da família que estão paradas, e abriria uma empresa de reciclagem! Em dois dias, já tinha lido tanto sobre reciclagem, que até ele se assustou! Era a resposta que eu esperava, o caminho do meio! Depois de alguns dias, as dificuldades começaram a me desanimar, e de repente, lá estava eu de novo, com meu pensamento pequeno burguês reclamando que iria fazer 30 anos sem ter uma casa...

Nesse clima de depressão e indecisão, resolvi ver o documentário que eu tinha menos interesse de ver na minha lista de filmes : The future we will create. O filme estava na minha lista, mas achei que ia ser um monte de baboseira tecnológica, o que eu acho legal, mas só quando estou com humor para essas coisas! Estava redondamente enganada. Esse foi um dos filmes mais humanos que eu vi nos últimos tempos, absolutamente inspirador.

Talvez, não seja só o filme. Talvez, essa coisa de chegar perto dos 30anos seja legal mesmo, como algumas pessoas dizem. Talvez, a coisas comecem realmente a fazer mais sentido. Talvez a gente tenha serenidade para finalmente descobrir o que é que falta para a gente ser feliz. Talvez, talvez, talvez...

O Brasil também foi assunto no TED. A revolução do Etanol e o vanguardísmo da tecnologia dos carros Flex deixou até os cabeções do TED de queixo caído. Fiquei tão orgulhosa de ver o Brasil começando em aparecer no lado bacana das estatísticas! Fiquei tão feliz de ser brasileira, por estar viva, e por ter, depois de tanto tempo, revisitado o grande potencial que eu sei que carrego comigo como ser humano e cidadã. De repente, me lembrei de tudo, de por que eu sou do jeito que eu sou, de por que eu acredito nas coisas que acredito, de por que eu cancelei a TV a cabo mês passado! Nós somos capazes de muito mais do que fazemos, e a recompensa para os que perseveram é a infinita satisfação de nunca ter perdido o elo com o seu sonho infantil utópico!


PS: Se você entende inglês o filme completo está disponível de graça no you tube:

http://www.youtube.com/watch?v=cLWEgp0BdvU

Se você quer saber mais sobre o TED, aqui vai o site:

http://www.ted.com/

Se você ficou interessado nos outros documentários citados nesse texto aí vão os nomes:

War Dance – Sobre as crianças de Uganda se preparando para a competição em um festival de arte escolar.

http://www.youtube.com/watch?v=2saj4gJ4Lvw

Jesus Camp – Sobre a lavagem cerebral que está sendo feita em crianças do interior dos Estados Unidos para que elas virem o “exército do Cristianismo.”

http://www.youtube.com/watch?v=V3PIoI2Bp40

Islam- What the wester needs to know – Sobre a imagem errônea que o mundo ocidental tem do caráter pacífico do islamismo.

Primeira Parte:

http://www.youtube.com/watch?v=mjq5Vi9Gc68

terça-feira, agosto 18, 2009

Panamá

Dia cinco de janeiro, embarquei para Nova Iorque. A maravilhosa lembrança das 12 horas de escala no Panamá encheram meu peito de angustia, tempo demais para pensar em bobagem. Na inda pro Brasil, eu contei com um ótimo passatempo. Estava terminando de ler os quadrinhos Estranhos no Paraíso, a leitura mais viciante que eu já vivenciei. Na ida, eu ainda tinha umas 120 páginas e Estranhos no Paraíso, mas agora, lá estava eu sem a companhia de Katchoo ou Francine (personagens do quadrinho) para fazer as horas passarem mais rápido...

Terminei de ler o livro Dias e Dias de Ana Miranda nas primeiras horas de aeroporto. O livro é legal, por isso, ainda me rendeu uma boa meia hora ruminando sobre a vida do Gonçalves Dias até que o tédio me fez procurar um café. Sem sorte, não achei lugar pra sentar no ´UNICO café no aeroporto internacional do Panamá (parecendo o aeroporto de Teresina!) . Voltei para minha poltrona no portão de embarque vasculhei minha mochila e contemplei Amor no Tempo do Cólera. Eu tenho um período de incubação de livro. É como uma virose que fica no seu corpo por um determinado tempo até sarar. Quando eu termino de ler um livro,tenho que esperar um ou dois dias antes de começar outro, se não eu me sinto desrespeitadora da obra que eu acabei de ler. É como se eu limitasse a obra do autor. Por dois dias, eu penso no que eu li, relembro algumas passagens, elaboro pontos de vista que muito raramente são compartilhados e permito que alguma ficha que tenha permanecido suspensa caia. Infelizmente, naquele dia não pude dar esse tempo a Ana Miranda. Absolutamente consumida pelo tédio, fui obrigada a inicia a leitura de Garcia Maquez (Eh, pode criticar... eu ainda não tinha lido O Amor no tempo de Cólera ).

Depois de horas lendo sobres as cartas de amor de Florentino e Fermina, reparei um rapaz olhando para mim. Não era bonito nem feio, meio cafoninha, mas tinha um sorriso bonito. Perguntou em inglês se eu gostava do livro. Reconheci o sotaque latino e respondi em espanhol que sim. Perguntou meu nome, se apresentou...e continuou a conversa metade em inglês, metade em espanhol. Era colombiano, por isso me perguntou: “Você sabe de onde é o Garcia Márquez?”

Antes que eu respondesse um agente da Copa air lines chamou meu nome no auto falante. Quando cheguei no balcão eles me perguntaram se eu estava viajando só, eu disse que sim. Do meu lado, um senhor quase aos prantos. O vôos teve overbook e o senhor estava sem acento marcado. Ele viajava com o resto da sua família que tinha seus acentos garantidos. Copa me ofereceu um hotel cinco estrelas com tudo pago, um city tour e $400 em milhagem para eu ficar um dia no Panamá e voar no dia seguinte. O velhinho fez a maior cara de pena e depois de ficar 11 horas no aeroporto, eu disse que sim! Fui levada pra outra sala enquanto esperava por alguém para me buscar, comigo muitas outras pessoas também voluntárias. Depois de cinco minutos, lá vem o colombiano, foi recrutado depois de mim para ceder o lugar para outra pessoa.


O colombiano tinha 18 anos, sua conversa rendia muito pouco e me lembrava os meus alunos de teatro em Venda Nova, Belo Horizonte. A caminho do hoteleu fui conversando com outro recrutado, um senhor de uns 50 anos que vive entre Nova Iorque e a Cidade do Panamá. Ele se aposentou como inválido quando perdeu dois dedos no antigo emprego. Com a indenização abriu o próprio no Panamá, distribuição de roupas esportivas... me lembrou o Lula...

O Hotel era enorme, bem bonito, assim como meu quarto. Deixei as malas no quarto e fui encontrar o “Lula” e o Colombiano para jantar as custa da Copa Air Lines. Depois do jantar, fui passear. Lula conhecia a área e nos guiou pelos cassinos do Panamá. Lugarzinhos deprimentes os tais cassinos. O cheio de carpete, aquelas luzes cafonas e as pessoas, gente com cara de quem não devia estar ali. Agradeci o passeio e me retirei aos meus aposentos. Dormi igual a um bebê, acordei desorientada. Não fazia idéia da hora. Meu celular estava no horário do Brasil, lap top de Nova Iorque e o rádio relógio do quarto estava parado. Calcei o tênis e me vesti. Tomei o café da manhã e fui para a academia, lá descobri que eram 8am. Corri 15 minutos, mas tinha uma criança muito barulhenta na academia apesar do aviso: Não é permitida a entrada de crianças. Entrei na piscina, nadei, boiei e mergulhei até enrugar! A caminho do quarto vi o colombiano que estava meio submerso na extremidade oposta a mim na piscina. Acenei de longe.

Yoga...banho demorado...preguicei na cama até o almoço. Alimentada, parti para o que supostamente seria a melhor parte da minha estadia no Panamá: city tour!

Era um dia bem feio, nublado e com uma garoa fina. Apesar da chuvinha chata, passear pelo centro antigo da cidade foi bem legal. Os prédios era muito bonitos e apesar da maioria estar praticamente ruindo, parece que o governo está tentando restaurar esse parte da cidade. Seguimos para a famosa ponte da amizade. Eu tenho um problema com pontes! Por mais que eu saiba que as pontes são essas grandes maravilhas da engenharia eu não consigo achar graça em ponte. Tudo bem, eu amo a ponte do Brooklyn, mas aí são outros quinhentos. Passar pela ponte da amizade para mim foi uma experiência parecida com minha ida a Mumbai: eu não gostei muito, mas é uma ótima história para você contar para o resto da vida. Eu vou ter 110 anos de idade e vou estar dizendo: “Quando eu cruzei a ponte da amizade... por que na Índia é diferente....”.

Cheguei ao mirante e vi, de um lado o Atlântico, do outro, o Pacífico... achei que ia ser algo legal assim como o encontro do rio Negro com o Solimões, estava enganada, nada de mais. O que me chamou a atenção no Panamá foi algo que todo mundo está careca de saber, mas que toda vez que eu tenho a recorrente confirmação de que é verdade me espanta: tem chinês em todo lugar!

Levantem uma pedra, vai ter um chinês em baixo, jogue uma pedra pra cima, quando cair, a pedra vai acertar um chinês! É fato! Pois o mirante construído pelo governo do Panamá para observar canal e a ponte de Amizade é uma homenagem a imigração chinesa no Panamá! Assim como em New York, lá também tem o Bairro chinês, que os americanos chamam Chinatown e os espánico, Barrio Chino.


Voltei pro hotel a tempo de um banho e fechar minha mala. Foi para o aeroporto e por duas horas fiquei jogando conversa fiada com o colombiano. Copa air lines nos ofereceu mais um dia de graça por que o segundo vôo também tinha overbook, mas eu resolvi que era tempo de enfrentar a realidade.

Quando olhei meu bilhete de embarque vi que tinha sido posta no pior acento do avião, na frente da saída de emergência, por isso minha cadeira não inclinava. Fiquei p... da vida e pedi para falar com a pessoa que recrutava os voluntários a ficar no Panamá. Expliquei para ele que eu achava um abuso eu ceder o lugar no meu vôo e se colocada no pior acento do avião no dia seguinte. O cara pegou meu ticket e voltou com um novo: “Na classe executiva!”

Dormi feliz da vida na minha poltrona grande muito orgulhosa do meu piti! Dormi até me lembrar do frio que estaria fazendo em NYC quando eu chegasse sem casaco de frio. Como eu tinha saído quase fugida de NYC 4 meses antes, não levei meu casaco. Roubei o cobertor do avião e os comissários de bordo devem ter pensado: “ Isso que dá, por pobre na primeira classe, robam atee esses cobertores de quinta!”

Se tem uma coisa que você aprende ao viver em NYC, é a não dar a mínima para o que as pessoas pensam sobre você, e se eu já era assim em Teresina, imagina agora! Sem dar importância a cara de nojo da aeromoça eu saí com meu cobertor. Passei pela imigração (ah é tão bom ter green card!) e tive a agradável surpresa de que não estava assim tão frio. Peguei um táxi e fui para casa.

Depois de quatro meses, eu estava de volta. Pela janela do carro, eu olhava a inesperada chuva caindo em janeiro. Pensei no aquecimento global, no pouco de dinheiro que eu tinha na minha conta, nos chineses do Panamá, me sentindo um pouco enjoada, pensei devia ser cansaço, confusão mental e ajuste de fuso horário, eu pensei...

...errado de novo! Acordei só bagaço.

BEM VINDA A NEW YORK, VOCE ESTA COM SALMONELA!

sábado, agosto 15, 2009

Momentos Negros Parte III

É claro que você já ouviu falar em “um é pouco, dois é bom e três é demais”. Pois bem, Momentos Negros III é o ponto final, o rito de passagem, resurgimento da fênix, embora o que tenha saído das cinzas parecesse mais um urubu sapecado!

Depois de fumar meu primeiro e último baseado, tentar afogar as mágoas em martines de melancia e escrever meu primeiro texto depressivo em inglês, eu fiz o que qualquer pessoa normal faria para sair da fossa: uma tatuagem! Eu andei com essa foto por uns dois meses no meu computador , impossível contar as horas eu gastei em frente a tela do laptop ao som de Belle and Sebastian analisando os pormenores daqueles rabiscos.

Enfiei na cabeça que para fazer aquilo, eu precisava de alguém bom. O marido da minha prima, que tem quatro tatuagens, se ofereceu logo para achar o estúdio, e achou. O cara que tatuou a Débora Seco, o bam-bam-bam do Itaim Bibi. Ele estava com a agenda lotada, mas como eu disse que tinha pouco tempo em Sampa ele deu um jeito. Seriam duas visitas, cada uma de duas horas. A segunda, quinze dias depois da primeira, para a pele ter tempo de cicatrizar. A primeira, para desenhar e a segunda, para colorir o desenho.

Ah, eu mencionei que eu tenho medo de agulha? Medo, provavelmente não seria o melhor termo, o certo seria pânico! Eu consigo lidar com agulha por uns dez segundos, depois disso eu entro em pânico, morro de nojo e nervoso. Mas o pior erra o medo de mim mesma. E se eu desse um pulo na cadeira e ele acabasse rabiscando minhas costas pra sempre com um borrão?! Me agarrei na cadeira com toda a força, para evitar o pulo assustado que poderia me custar a traseira rabiscada. O cara era enorme, 1,90m de altura, careca e todo tatuado. Impossível não reparar o quanto ele era bonitão. Devia estar beirando os quarenta anos, lembrava muito o Daniel Day-Lewis , tinha um olhos azul muito claro. Infelizmente, ele estava tatuando minhas costas, por isso quem se beneficiou da vista foram minhas primas que estavam por lá demonstrando suporte. Apesar do tamanho e da cara de mal, o tatuador era um doce! A maior dor que eu senti no começo era a tensão nos meus músculos. Claro que isso não permaneceu assim por muito tempo.

Duas coisas mudaram drasticamente meu estado de espírito. A primeira foi uma espiadinha que eu dei. Fui olhar pro besourinho no meu ombro, mas em vez disso, vi a minha pele meio esfolada nas extremidades do desenho. Minha pressão foi pro pé, mas eu tinha colocado na minha cabeça que eu não ia dar pití e que eu não ia dar vexame. Eu sabia que ia doer, que era agulha, se eu resolvi fazer, era problema meu! Respirei fundo e tentei relaxar, mas aí eu comecei a ver ele jogar bolos e bolos de papel higiênico no lixo. Ele ia desenhando, limpando minhas costas e jogando o papel fora. Tinha muita tinta no papel, preta e vermelha. Resolvi perguntar: “ Você já está colorindo?” Ele respondeu: “Não, por enquanto, eu estou usando só tinta preta.” A suposta tinta vermelha era sangue! Minha pressão caiu, meu estomago embrulhou. Eu pensei no tanto de suco de beterraba que eu ia ter que tomar para evitar minha velha amiga anemia.

Quando eu pensei que ia ter que pedir pinico, o recepcionista do estúdio entrou na sala. Ele conversava sem parar de me tatuar. O assistente veio dizer que o próximo cliente estava esperando. Meu alivio ao ouvir isso durou pouco, meu tatuador respondeu que ainda ia trabalhar 40 minutos nas minhas costas. Ele me perguntou se eu me incomodava do cara vir falar com ele, eu disso que não. O cara entrou na sala. Ele estava “fechando as costas”, o que no mundo da tatuagem que dizer tatuar 100% das costas. O cara entrou reclamando da dor que ele tinha sentido da última vez e que era melhor ele ter bastante xilocaina dessa vez. O recepcionista comentou: “ Cara, não tem vergonha não! A mina aqui tá tatuando a uma hora e meia ninguém nem ouviu a voz dela ainda, você ainda nem começou a tatuar e já ta reclamando!” Quando os dois saíram da sala meu tatuador comentou como o cara era chato e completou : “ Ah, se todo cliente meu fosse assim calmo como você...” Ah se ele soubesse que naquele ponto a única coisa que passava pela minha cabeça era: O que diabos eu estava pensando quando eu me meti a fazer isso?!

Os últimos vinte minutos foram os piores. Meu ombro já estava bem machucado e começando a inflamar, por isso a dor estava piorando. Então, quando eu já estava pensando que aquilo não ia ter fim, o milagre aconteceu. “Por hoje chega!” As palavra mais doces que eu podia ouvir.

Ele me lambrecou de pomada cicatrizante, cobriu a tatuagem com papel filme foi comigo a recepção marcar a segunda visita. Quando minha prima voltou para me buscar, eu estava muito grogue. No carro eu reparei que eu ainda esta sangrando um pouco. Quando cheguei em casa, eu tinha certeza que estava com febre, morrendo de frio em dezembro em São Paulo. Resolvi tomar um banho para abaixar a febre e trocar o curativo. Quando eu fui ensaboar a tattoo eu quase vomitei. A tatuagem estava em alto relevo nas minhas costas... claro que depois de pensar por dois segundos aquilo era óbvio, mas quem disse que eu estava esperando aquela textura nas minhas costas.

Quando eu acordei na manhã seguinte, a febre tinha passado e minha pouca cor tinha voltado para o meu rosto. Os próximos 15 dias seriam uma sucessão de esbarrões no metro ou um carinho desatento da minha prima que iram me relembrar constantemente da minha tatuagem. Comecei a achar que quando o dia da segunda visita chegasse, eu não teria coragem de voltar, mas foi quando eu descobri a ciência da tatuagem.

Quinze dias era o intervalo perfeito. Depois de doze dias, eu já tinha me esquecido da dor por completo, e até a última casquinha da minha tattoo tinha caído. Cheguei no estúdio bem mais confidente do que da primeira vez e fui quando algo mágico aconteceu: Ele começou a me tatuar e eu fiquei calminha da Silva! Quase não sentia dor e para falar a verdade, o barulhinho da máquina me lembrava o barulho de ar condicionado. Foi me dando um sono... teve uma hora que eu estava quase dormindo. Ele parou de me tatuar abismado com o meu estado de relaxamento. Acho que ele me tutucou para ver se eu ainda estava viva. Percebendo que ele tinha parado, abri os olhos. “Você está quase dormindo, não está?” – ele perguntou. Respondi que sim com um sorriso preguiçoso. “Ah se todo mundo que eu tatuasse fosse assim!”- ele comentou pela segunda vez. A calma foi tanta que ele me tatuou direto sem para por um segundo. Assim, antes que eu pudesse imaginar: “Pronto!”

Foto de referência para minha tattoo
A tatuagem era bonita, mas não achei que tinha ficado igual a da foto que eu tinha. A cor era diferente e o detalhamento não era tão delicado como o da minha foto. Demorou um tempo para eu me acostumar. Minha tatuagem ficou linda, mas como eu tinha a foto na cabeça, era difícil parar de comparar! Depois de um tempo eu entendi que para quem não tinha visto a foto de referência, minha tatuagem era linda de morrer, e como eu não ia andar com a foto original pregado no meu outro ombro para comparação, estava tudo bem.

O mais importante tinha sido o rito de passagem. Enterrei o defunto!A mulher da história
Momentos Negros Parte II tinha morrido. Tratei de enterrá-la e prestar homenagem com um jardim de crisântemos nas minhas costas.

A Morta tinha sofrido muito, mas como ela mesma disse: “Bad things are necessary”. Depois do enterro, prometi nunca me esquecer dela e de seu sofrimento, mas sempre buscando coisas felizes. Momentos Negros Parte III, foi o último! Agora, se iniciavam meus Momentos de Paz.


Ps: eu não posso terminar essa história sobre o comentário do meu pai ao descobrir que a tatuagem nas minhas costas não era de Hena: “Aff , tu ta parecendo um azulejo!”

terça-feira, agosto 11, 2009

Momentos negros parte II

The Lady, the blind woman, the boy, the man of the law and the man


The young lady and the blind woman



It was all lost!

Where did all the love go? It was so real we could touch.

But I judged him a lot, I expected too much… He didn't want to share his air, and I was dieing slowly.

But now, aren’t you dieing anyways? You try to look away, but all seam to be there!

There is nothing anywhere else. I will die here as well.

Where could you go? What could you do? Who would help you?

Nowhere, nothing, nobody… it is lost… even if God himself would hear me crying… it is just too late. I have ruined…

You did? Have you lost also your mind? It was him the one who didn’t give you air.

But it wasn’t air what needed, was love…

But love doesn’t resist without air.

Why not? Couldn’t love sprout in any condition?

I guess so… so what went wrong?

I though I was doing the right thing, I though he was wrong…

Wasn’t he?

I don’t know, maybe… it was sabotage.

Who would do such horrible thing?

I did!

You?

I guess so…



The boy and the lady



Why are you so pale?

I don’t feel my blood running anymore.

How come? If that were true, you would be dead!

Am I not?

Sure not miss… I can see you are alive. Let me feel your pulse.

So?

I don’t know how is possible. You are talking to me! Why did it stop?

My heart was lost.

Where? Maybe I can find it for you!

Aren’t you sweet?




The man of the law and the lady



You can’t stay here, miss. It is too late already, may be dangerous.

I have no place to go, sir. He’s there, but I am not welcome anymore.

Did that monster mistreat you? I should kill the man that could let a lady at such condition.

No, he didn’t. I was vain. I was false. I pretend to be good, but deep inside, just want to prove I was right. And he believed so, but I was wrong…

Can’t you tell him? Tell him the truth. Let him know it was all a big miss understanding.

It wasn’t just that… He was raw and I made him believe that was evil! But the evil doesn’t exist.

I can tell you, miss: Evil does exist! I am a man of the law and I have seen evil. Bad things happen.

Bad things are necessary. Evil does not exist.

Does he believe in evil now?

He sees it inside himself, but it is not there. I was blind, because I was too proud and I lied to him.

Even if you did so, you don’t deserve to lay here and wait for something bad to happen. You are just a young lady, you have all you life ahead you.

I am not that young anymore, not innocent either.



The boy is back


Miss, I found it! I have it! I have found your heart!

Let me see.

Is it yours?

Well…I don’t know.

Don’t you recognize it?

How could I?

It is yours.

It has not belonged to me for a long time. It just beat inside me.

To whom does it belong now?

My love.

Where is him?

Gone.

If that is the case, may I keep it?



The boy is still there

I am not sure if I will survive.

You need it back, right?

I suppose so.

But if I give it back, you will be strong again, and then you will leave.

Where would I go?

Fallow him, the one who owns your heart. I have it, but he owns it, I am just a thief.

No dearest, you can’t say that of yourself. If you prefer, I should die here, at you side. You can keep it.

What is the point of having the heart of a death lady? No, I will give it to you, if…

If…?

You permit me do say…

I may say what you desire.

He lost it once, would be imprudent give it back to him?

I am sure he will lose it again.

But you are going to give it anyways, aren’t you?

As long, as I live.



The man and the boy



Little fellow, have you seen a lost heart?

It is you! I have never seen you, but in my blood I feel you are the one who hurts my lady and my love.

Aren’t you too young to love?

But one day I will be a man!

Then, it will be to late for her.

How can you hold somebody’s heart so carelessly?

It is the only way I know how to do it, but now I see is not enough. I will not take with me anymore. I just want to give it back to whom it belongs.

But it does belong to you!

Who said so?

She did.

Still?

As long as she lives, she said.

So, do you know where is it?

I have it with me. She decided she didn’t want it back.

We most find her and make she keep it.

The boy, the man and the lady



Are you sure this is the way?

We are almost there. Right there, I see her tiptoes.

She looks blue.

She is even more pale than when I found her.

My lady?

She is opening her eyes. She will speak.

Have you called me “my lady” again?

Yes, I am sorry, I know you are no longer mine.

I see you have found my dearest friend.

He brought me to you.

I known he would.

She looks so weak. Is she dieing?

She can’t be.

I am afraid it is too late.

I am sorry I dropped you heart, look what I have done.

You didn’t do it. I did.

What is she talking about?

While you were sleeping I left the house and dropped my own heart in the woods. I let you think you had lost for miss-care.

Why would she do that?

Because I am as not good as it may seam. I am vain, proud… I was wrong about you and I didn’t want to admit. The evil is not inside you.

No?

No, the evil does not exist.

But I feel it. It makes me do bad things to you.

Bad things are necessary. I through my heart away, so you could meet my dearest friend. He is so kind. He reminds me of you when we met.

We met and we came to save you.

There is no salvation for a soul that through it’s own heart away, my love.

Did you call me “my love”?

It is what you are.

Your skin is so cold. Let me bring you closer to me, I will keep you warm.

My love, I am sorry I lied to you.



Is she dead?

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Tradução para o português

A mulher, a cega, o garoto, o homem da lei e o homem

A mulher e a cega

Foi tudo perdido!

Onde foi parar todo o amor? Era tão real que se podia tocar.

Mas eu o julguei demasiadamente, tive expectativas exageradas... ele não quis dividir seu ar, e eu morria lentamente.

Mas e agora? Você não está morrendo de qualquer forma? Você tentar avistar algo diferente, mas tudo parece estar lá.

Não há nada em qualquer outro lugar. Morrerei aqui da mesma forma.

Onde você poderia ir? O quê poderia fazer? Quem poderia ajuda-la?

Lugar algum, nada, ninguém... está perdido... mesmo se o próprio Deus me ouvisse chorar... é simplesmente tarde demais. Eu arruinei...

Você? Mas foi ele quem não te deu ar.

Mas não era de ar que eu precisava, era de amor...

Mas amor não sobrevive sem ar.

Por que não? Não pode o amor brotar em condições adversas?

Penso que sim... mas se é assim, o que deu errado?

Achei que fazia o certo, achei que ele estava errado...

E ele não estava?

Não sei, talvez... foi sabotagem.

Quem faria algo tão horrível?

Eu fiz!

Você?

Eu acho...


O menino e a mulher



Por que você está tão pálida?

Não sinto mais o meu sangue correr.

Como assim? Se isso fosse verdade, estaria morta!

Não estou?

Claro que não senhorita... posso ver que está viva. Deixe-me sentir seu pulso.

E então?

Não entendo como é possível. Você está falando comigo! Por que parou?

Meu coração foi perdido.

Onde? Talvez eu possa encontra-lo para você!

Como você é doce.


O homem da lei e a mulher

Você não pode ficar aqui senhorita. Já é tarde. Pode ser perigoso.

Não tenho para onde ir. Ele está lá, mas eu não sou mais bem vinda.

Aquele monstro a destratou? Mataria o homem que fosse capaz de deixar uma dama nessas condições.

Não, ele não fez nada. Eu fui vaidosa. Fui falsa. Fingi ser boa, mas no fundo, só queria provar que estava certa. E ele acreditou em mim, mas eu estava errada...

Não pode dizer isso? Contar-lhe a verdade? Diga-lhe que tudo não passou de um grande engano.

Não foi só isso. Ele era visceral e eu o fiz crer isso era perverso! Mas a perversidade não existe.

Posso afirmar senhorita: A perversidade existe! Eu sou um homem da lei e já a vi! Coisas ruins acontecem.

Coisas ruins são necessárias. A perversidade não existe.

E ele agora acredita na perversidade?

Ele a vê dentro de si, mas não está lá. Eu fui cega, por que fui orgulhosa e menti para ele.

Mesmo que isso seja verdade, você não merece ficar aqui largada esperando que algo de ruim aconteça. Você é tão jovem, tem toda a vida pela frente.

Eu não sou mais tão jovem assim, nem tão inocente também.


O garoto retorna

Senhorita, encontrei! Eu o tenho! Trouxe seu coração!

Deixe- me ver!

É seu?

Bem... não estou certa.

Não o reconhece?

E como poderia?

Ora, pois se é seu!

Ele não pertence a mim a muito tempo. Apenas batia dentro do meu peito.

A que ele pertence então?

Meu amor.

Onde ele está?

Ele se foi.

Se esse é o caso, posso ficar com ele para mim?


O garoto continua

Não tenho certeza se vou resistir.

Precisa dele de volta, não é?
Penso que sim.

Mas se devolvo-lhe, ficará forte novamente e então partirá.

E para onde iria?

Atrás dele, o dono de seu coração. Eu o possuo, mas é ele o verdadeiro dono, eu não passo de um usurpador.

Não querido amigo, não pode falar assim de si mesmo. Se assim o prefere, devo morrer aqui ao seu lado. Você pode ficar com ele.

E qual seria o sentido em possuir o coração de uma mulher morta? Não, devo devolver-lhe, se...

Se?

Se me permitir dizer algo.

Diga o que assim desejar.

Ele o perdeu uma vez, não seria imprudente devolver?

Tenho certeza que o perderá de novo.

Mas mesmo assim, vai entrega-lo, não é?

Enquanto eu viver.


O garoto e o homem

Pequeno amigo, você viu algum coração perdido?

É você! Nunca o vi pessoalmente, mas em meu sangue sinto que é você o vilão que feri minha senhorita, minha amada.

Você não é muito jovem para amar?

Mas um dia eu serei um homem feito.

Mas aí será tarde demais para ela.

Como você pode guardar o coração de alguém tão descuidadamente?

Era a única forma que eu sabia como fazê-lo, mas agora vejo que não era o suficiente. Não ficarei mais com ele. Só pretendo devolve-lo a quem o pertence.

Mas ele pertence a você.

Quem afirma isso?

Ela o fez.

Ainda.

Enquanto viver, ela disse.

Então você sabe onde está?

Eu o tenho. Ela não o quis de volta.

Temos que encontra-la e fazer com que o aceite de volta.


O garoto, o homem e a mulher

Tem certeza que esse é o caminho?

Estamos quase lá. Ali, vejo a ponta de seus dedos.

Ela parece azul.

Está ainda mais pálida de que quando a encontrei.

Minha amada?

Ela abre os olhos, vai falar.

Você me chamou de minha amada novamente?

Perdão, sei que não é mais minha.

Vejo que encontrou meu doce amigo.

Ele me trouxe a você.

Sabia que o faria.

Parece tão fraca. Está morrendo?

Ela não pode!

Temo que seja tarde demais.

Eu sinto muito, perdi seu coração, veja o que eu fiz!

Você não, eu o fiz.

O que ela quer dizer?

Enquanto dormia, levantei-me a noite e joguei meu próprio coração na floresta. Depois, deixei com que pensasse que o perdera por descuido.

Por que ela faria isso?

Por que não sou tão boa quanto pareço. Sou orgulhosa e vaidosa... estava errada sobre você e não quis admitir. A perversidade não está dentro de você.

Não?

Não, a perversidade não existe.

Mas eu posso senti-la. Me induz a fazer coisas ruins com você.

Coisas ruins são necessárias. Joguei meu coração na floresta, para que conhecesse meu doce amigo. Ele é tão querido, me lembra você quando nos conhecemos.

Nos conhecemos e viemos te salvar.

Na há salvação para a alma que atira fora o próprio coração, meu amor.

Você me chamou de meu amor?

É o que você é.

Sua pele está tão fria. Deixe que traga-a perto de mim, eu vou aquecê-la.

Meu amor, eu sinto muito ter mentido para você.

...

Ela está morta?


Por que os remédios normais não aliviam a pressão...


Momentos negros de depressão... pela milionésima vez o Namorido surtou... depois de passar o dia cozinhando comigo e assistindo TV, ele fez a velha conhecida cara de constipado quem quer dizer algo e não tem coragem. Eu, de saco cheio perguntei, já sabendo a resposta:

“Do you still love me?”

Resposta:
“NO...”

Demorou dez minutos até eu descobrir que eu estava entrando em estado de piração aguda! Resolvi ir embora, juntar os trapos e ir pro Brasil. Minha amigas que viviam comigo ficaram em choque. Eu resolvi ver Procurando Nemo por que assistir a Dori sempre me faz feliz. Uma das minhas companheiras de república começou a rir: “Procurando Nemo?! A gente vai ter que fumar um!” Aí eu tive que vir com meu papo de virgem: “Eu nunca fumei.” Eu tenho todos os motivos no mundo pra não fumar esse bagulho, o maior motivo é o tráfego de drogas, eu sempre me recusei a financiar o mercado ilegal que é o maior gerador de violência urbana no Brasil. Mas naquela noite era diferente, eu estava exausta, depois de 3 anos e meio de desperdício de energia, eu ia por um basta naquele relacionamento auto-destrutivo. Eu deveria ter ido fazer Yoga, em vez de fumar um beck, mas enfim, ninguém é perfeito.

Completamente retardada pelos efeitos da bendita ervinha, eu não conseguia parar de rir e de repente a existência do Namorido nem parecia assim tão importante. Entendi por que muita gente recorre a esse método: “os remédios normais não aliviam a pressão!”Claro que minha sorte de principiante fez com que eu desse com a cara no peito de um policial enquanto eu e minhas amigas agíamos de acordo com o retardamento esperado na busca desesperada de sorvete pra curar a larica. Graças a deus a autoridade estava mais interessado no seu lanchinho da madrugada do que em mim!

Dormi igual a um bebê e depois de 28 anos de insônia eu tenho que admitir que eu cogitei a possibilidade de virar maconheira, aposto que tem menos efeito colateral que remédio pra dormir, mas quando eu senti o gosto na minha boca eu desisti! Além disso, bastaram cinco minutos depois de desperta pra minha conciência social, tederminar que aquela tinha sida a primeira e última vez!

Saí da cama, empacotei os meus livros preferidos, fechei a mala e fui embora, se deixar pro Namorido endereço ou telefone 3 dias antes do seu aniversário...

Índia Parte II

Assim que eu cheguei em Mumbai o Namorido perguntou se eu gostaria de jantar. Depois de toda a comida que eles servem na primeira classe, só em pensar em comida, eu queria vomitar!!! Ele me explicou que era o último dia desse colega de trabalho na Índia e que ele queria levar a ente pra jantar. Fazer o que? Fui né!

O colega de trabalho era mais velho cinqüenta e poucos, um cara agradável, mas que já não tinha muita paciência pra aventuras, ele estava a duas semanas em Mumbai e estava mais do que pronto pra ir embora. Mais tarde, eu entenderia esse sentimento!

Depois de jantar a gente resolveu sair, ir a um bar. 14 horas de vôo... eu não conseguia dormir por que estava com o fuso horário todo trocado. Pegamos um carro no hotel com nosso muito simpático motorista Anapá! Anapá foi um ótimo guia, muito explicativo durante o caminho. Era difícil para mim sair pela primeira vez a noite, eu não conseguia ver muito, mas uma coisa me chamou atenção! O flamboiãs, eram muitos, na verdade, as árvores eram muitas, mas aquela hora da noite, eu só identificava os flamboiãs. Eu disse a Anapá que em minha cidade natal, Teresina haviam muitas árvores como aquelas. Foi quando o Namorido e nosso fiel escudeiro Anapá me introduziram a história de Mumbai, antes conhecida como Bombai.

Bombai inicialmente havia sido colônia portuguesa. Foi quando uma princesa portuguesa se casou com um príncipe inglês, que Bombai passou a domínio da coroa inglesa. Bombai foi o dote de casamento da princesa portuguesa. Durante o tempo que pertenceu a coroa inglesa a cidade foi conhecida como Bombai, com a recente independência da Índia, a cidade foi rebatizada como Mumbai.

Chegamos no bar. As rua onde o bar ficava não era pavimentada, me lembrava as cidadezinhas do litoral do Piauí. Por dentro, o bar era parecido com qualquer outro bar, as peculiaridades eram: o numero de homens era absurdamente maior do que o de mulheres, os homens eram animadíssimos, dançarinos entusiastas e extremamente afetuosos entre si. Lembro que eu e o Namorido trocamos olhares de surpresa ao ver tantos homens abraçado de mão dada... por lá isso é normal, para mim, muito engraçado.

Na manhã do dia seguinte, acordei as 5 am, ainda desorientada pelo fuso horário, enrolei o que eu pude , mas as 7 am eu tive que acordar o Namorido. Ele queria me matar! Era sábado e ele tinha acordado cedo a semana toda, mas mesmo contrariado, ele se levantou e foi comigo ao salão do café da manhã. Foi aí que tudo começou a desandar!!!! A orgia gastronômica!!!! O café era uma mistura da exótica comida indiana com delícias tradicionais inglesas que eu regava abundantemente a muito chá de jasmim e suco de melancia.

O Namorido perguntou onde eu queria ir. Eu tinha 3 coisas na minha lista de coisas pra fazer em Mumbai: Assistir um espetáculo de dança tradicional indiana, ir ao Crawlford Market e fazer aulas de culinária indiana. Fomos em busca do Crawlford Market. Para quem conhece mercado central de Belo Horizonte o Crawlford market não parecia assim tão diferente a primeira vista, mas uma vez imersa no lugar, rodeada de curiosos querendo chegar perto de você, o mercado se revela uma experiência única e, a princípio (eu tenho que admitir) assustadora. Demorou um tempo até eu entender todas as pessoas nos seguindo e querendo falar comigo e me cumprimentar. Andávamos e as pessoas me cumprimentavam, perguntavam de onde éramos. Eu e o “Com sorte” resolvemos nos apresentar sempre como brasileiros, ele sempre tem receio de ser maltratado por ser americano quando viaja pelo mundo, muita gente tem raiva de americanos, mas ninguém se ofende com brasileiro. Ele queriam conversar, apertar minha mão e me ver de perto. O mais engraçado foi quando alguém tirou uma foto minha na rua! Eles me achavam parecida com as atrizes de Bolyhood.

Crawford Market

O calor era escaldante, os cheiros da cidade muito fortes, a deliciosa comida do café muito exótica e no meio da tarde eu achei que ia desmaiar. Voltamos para o carro, o Namorido me explicou que eu devia apenas estar cansada e ainda desacostumada com a mudança de fuso, segundo ele, levava quase uma semana pra se adaptar completamente. Entramos no carro e resolvemos deixar o motorista passear por Mumbai. Era impossível não perceber a semelhança entre Mumbai e Teresina, minha cidade natal no Piauí. Pouca gente sabe, mas Teresina é uma cidade muito arborizada, o apelido da cidade é Cidade Verde. Mumbai era muito similar. Eu lembro que eu fechei os olhos no carro quando estava muito cansada e entrei naquele estado de cochilo, onde você está meio dormindo e meio acordada. O Namorido me cutucou bravo, e quando eu abri os olhos, por alguns segundos, eu não sabia onde eu estava, tudo parecia tão familiar, as árvores, principalmente, eram as mesma de Teresina e sob o sol escaldante do verão indiano, era quase impossível pensar que eu não estava em casa. Dois detalhes me tiraram do transe, um templo mulçumano que surgiu em meio a pomposas acácias e amendoeiras, e o cheio. Meu Deus, como aquela cidade cheira mal! Era a frase que mais saia da boca do Namorido durante a viajem, ele olhava para mim e me dizia com seu sotaque de gringo em português “Cheira mal aqui!”

O motorista parou e disse para gente descer do carro. Eu estava muito cansada, mas achei que seria grosseiro da minha parte não seguir o rapaz. Ele apoiou os braços numa muretinha e olhou para baixo. Eu me aproximei para poder ver o que ele observava. Era uma lavanderia gigante!!!! Lembrei das empregadas lavando roupa no rio quando eu era criança na casa de praia do meu avô. Era uma área cheia de tanques, e muitas mulheres e crianças lavando e estendendo infinitos metros de tecido.

Já era tarde, eu estava exausta. Ir de um lugar par o outro em Mumbai era uma tarefa árdua e estressante, e nós demoramos dias até descobrir como as coisas funcionavam por lá quando o assunto em questão era transporte! A maioria das ruas em Mumbai não tem nome, o primeiro mapa oficial da cidade foi feito a pouco tempo. Quando alguém te dá um endereço de um lugar, o endereço é algo mais ou menos assim:

Andari (que seria a região, tipo o Bairro)
Na rua da universidade , do outro lado da rua do Café Coffee, X com o City Bank.

Até os endereços oficiais nos cartões e mas caixas das coisas eram escritos assim. Quando a gente queria ir a um lugar, nós íamos a portaria do hotel pedíamos o endereço, ele escreviam as direções num pedaço de papel, a gente pegava um táxi, carro do hotel, ou um Rickchah, o porteiro do hotel conversava com o motorista para ter certeza que ele sabia onde ele ia e a gente ia. No meio do caminho o motorista parava, saia do carro e ia pedir informação de como chegar no lugar. A gente ficava P... da vida. Eu reclamava: “Se ele não sabe onde é por que disse que sabia?!” Achei que eu falei isso tanto quanto o Namorido disse: “Cheira mal aqui!” Bem, depois de alguns dias eu entendei que essa era a única maneira de se achar no caos de Mumbai. Todos os motorista, até mesmo os melhores, parava umas 10 vezes para encontrar um lugar. O truque era não ficar ansiosa e não sair com pressa pra chegar em lugar algum!!!!

Muita coisas aconteceram na Índia, mas a que mais me marcou foi uma descoberta que para muitos pode soar estúpida! De onde veio o jamelão. Eu acho que o jamelão está espalhado pelo Brasil todo, mas em alguns lugares, como em Minas Gerais, as pessoas não sabem que jamelão, além do apelido do mais famoso puxador de samba da Mangueira, também é o nome de uma fruta. Lembro do meu primeiro namorado dizendo que eu ia morrer se eu comece aquela fruta estranha daquela árvore desconhecida na beira do lago de Boa Esperança-MG. Eu ri, e disse que não deixasse a fruta sujar a sua roupa por que mancha de jamelão não há quem limpe! Em um dos café da manhã no hotel de Mumbai, eu vi uma frutinha parecida com uma azeitona preta, quando eu vi de perto, era jamelão! Eu estava certa. Eu tinha visto uma árvore muito parecida, mas do carro não pude confirmar! O Namorido não conseguia entender meu entusiasmo com aquela frutinha. Eram anos de história!!! Teriam os portugueses trazido o jamelão da Índia, quando Bombai ainda era de Portugual??? Fiquei obsecada pelo fato do jamelão ter vindo de tão longe! Perguntei no hotel pelo nome da fruta em hindi: jamom.

Enquanto eu enlouquecia na minha pesquisa botânica, tirando milhões de fotos de todas as árvores em Mumbai para mostrar para o meu pai, um apaixonado por arborização, o Namorido estava obcecado com algo mais misteriosos: Bean bag. Por toda Mumbai haviam pichações em muros que diziam Bean Bag, seguido de um numero telefônico. O Namorido não se continha de curiosidade: “ O que seria Bean Bag? Só pode ser um código!” ele pensava. Bean Bag em português que dizer Saco de feijão. Era difícil imaginar alguém vendendo sacos de feijão por meio de pichações em muros, aquilo tinha cara de contravenção, e isso sim interessava o Namorido. Durante dias, ele perguntou sobre o mistério das pichações, ele especulava tráfico de drogas, prostituição, tráfico de armas, ou até mesmo de escravos... várias vezes ele se sentiu tentado a ligar para o número pichados nos muros só pra descobrir o que estava por trás do mistério do saco de feijão, mas ele tinha medo de se meter em encrenca e acabar boiando morto em um rio fedido da Índia. Pouca gente sabia do que ele falava, o que me impressionava, por que as pichações estavam por todos os lugares. Foi quando a resposta finalmente chegou. Nós estávamos jantando com alguns colegas de trabalho do Namorido quando ele pela centésima vez perguntou: “ Alguém sabe o que há por trás dessas pichações que dizem Saco de feijão por toda a cidade? O que é que eles vendem na verdade?” Rohir, respondeu displicentemente: “Feijão”. Eu não agüentei e quase entalei de tanto rir! Lá ia o mistério do Bean Bag que tirara o sono do Namorido por dias. “ O que você pensou que fosse? Ora, mas se diz saco de feijão, por que você acha que eles iam vender outra coisa?” completou o colega de trabalho! Nada na índia era simples, tudo era uma dificuldade só, a comunicação entre as pessoas era péssima, ninguém se entendia, mas se alguém anunciava um Saco de feijão, era feijão o que eles vendia!!!! A única coisa simples na índia, era comprar feijão!

Falando em falta de simplicidade!!!! A quarta coisa que estava na minha lista de coisas para fazer , era ir a um templo. Queria ver de perto aquela filosofia simplista Hare Rama, que tanto instigava o ocidente desde os anos 70! Pensei que uma visita ao templo seria algo relaxante, pensei errado! Quer simplicidade em Mumbai? Vai comprar feijão! Quando eu cheguei na porta do templo, era uma multidão de pessoas na porta, duas filas, uma de mulheres e uma de homens. Todos passaram por revista, raio X e scanner de bolsas. Eu perguntei ao motorista por que tanto. “Ah madame, um louco tentou explodir o templo a uns anos atrás, agora é assim!” Eu senti uma “infinita paz” dentro do meu coração quando ele me disso isso, desde que eu havia chegado a Mumbai, pelo menos duas bombas haviam explodido em diferentes áreas da Índia, mas ninguém parecia dar importância, era notícia comum. O engraçado era que se acontecia um assassinato, todo mudo ficava chocado e os jornais não falavam de outra coisa. Matar uma pessoa com uma facada é um abominação, explodir 30 é coisa do dia a dia, vai entender! Entrei na fila mesmo assim, um bando de gente tentando me vender flor de plástico, me puxando falando comigo em Hindi. Eu estava só o motorista era mulçumano e não quiz me acompanhar, ia estacionar o carro e esperar que eu ligasse. Depois de 15 minutos na fila, a mulher me disse que eu não podia entrar com um câmera fotográfica na bolsa! Lá vou eu passar pelo inferno de sair pelo lugar que eu entrei, todo mundo me puxando tentando me fazer tirar o sapato, foi me dando um nervoso e eu sai dali correndo e liguei pro motorista. Ele veio me buscar depois de 10 minutos, o trânsito é simplesmente uma loucura. Desisti de deixar a câmera no carro, e voltar ao templo, a idéia de passar por todo aquele povo de novo sozinha não era nada relaxante!!!

Toda aquela história de detector de bombas estava me dando nos nervos , no shopping era a mesma coisa, qualquer lugar onde se aglomeravam muitas pessoas, lá estavam os detectores de metal e os policiais. No último dia em Mumbai, eu finalmente consegui ir ao templo, era de dia, o templo estava mais vazio. Era absolutamente lindo!!!!! Todo branco, acho que uns 4 andares, limpíssimo. O lugar mais limpo que eu estie em Mumbai depois do meu hotel! Eu o Namorido e olhamos todos os altares e lemos a fantásticas histórias de Christna, na saída um americano convertido Hare Rama encontrou a gente e começou a conversar. Era uma conversa sem fim sobre religião, política, sociedade, amor... o cara tava em outro mundo! Mas eu lembro dele dizendo que a gente era um casal que parecia bacana, a se ele soubesse que alguns meses depois eu estaria no Panamá esperando meu vôo para Belo Horizonte saído praticamente fugida do Namorido... as aparências enganam até os mais espiritualizados!

PS: Ah! para mais informações sobre a origem do jamelão:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jamelão