Em julho de 2006, eu escrevi um texto que se chama “Eu hein, incoviniença...”. Esse texto falava sobre como até 2006, aquecimento global aqui nos Eua era considerado bobajada de ambientalista a toa. Depois do lançamento e do tremendo sucesso do filme “An inconvinient truth” do ex-candidato a presidência dos EUA, Al Gore, muita coisa mudou.
Agora, da noite para o dia os Americanos acordaram para a realidade, mas em vez de se reeducarem, como sempre, eles dão um jeito de encabrestar o resto do mundo. Por aqui, só se fala no perigo que é o crescimento econômico da China e da Índia, por que com o poder aquisitivo desses paises aumentando, a utilização de recursos naturais, a produção de lixo e a emissão de gás carbônico, podem facilmente causar o colapso ambiental do planeta. A resposta do chineses é simples (na verdade, em forma de pergunta): A China, com a população que tem, emite muito menos gás carbônico que os Estados Unidos. Por que eles tem que sacrificar o crescimento econômico do país, para os bonitão americanos continuarem a viver estupidamente na mordomia?
Enquanto o bicho pega entre os estúpidos de longa data e os imbecis de vanguarda e mais e mais pessoas se preocupam com o futuro do mundo, eu tento convencer meu atual Namorado (eu sei que ainda não cheguei nessa parte, mas eu adianto, existe um novo namorado na história!) a estudar engenharia ambiental. Olho para trás e fico brava comigo, por que se eu tivesse pensado nisso antes, tinha eu feito engenharia ambiental!
Durante os últimos meses, ando bem perdida profissionalmente e muito indecisa sobre o que fazer do futuro. Quando isso acontece, geralmente acho que o meu cérebro precisa ser estimulado, por isso, nas duas últimas semanas em que eu fiquei só em casa (o bofe novo foi visitar a família) assisti em média dois documentários por dia. Todos muito bons. Assisti um sobre fanatismo evangélico no interior dos EUA. Aí, para fazer o contrapondo, assisti um sobre o que o ocidente precisa saber sobre o Islã. Outro, sobre como a arte salvou a vida das crianças nos campos de refugiados de Uganda. Uns meio assustadores, outros animadores, uns instigantes ( acabei de comprar o Korão e um livro sobre a vida do Muhammed, que para mim é mesmo que tá vendo o Hitler), mas o mais importante para a minha vida, foi o que eu vi hoje pela manhã: The future we will create: Inside the world of TED.
TED significa Technology, Entertainment , Design. Começou como um pequeno encontro e hoje virou o congresso de fomentação das idéias mais revolucionárias da atualidade. Nos últimos anos, TED tem, cada vez mais, se voltado a questões ambientais e sociais, mas o encontro é tão diverso que é difícil de explicar. Fundadores do Google, Amazon.com, Netflix, Al Gore, o criador da tecnologia toch screan, os maiores nomes da física, química, medicina, etc... A idéia é colocar os maiores cabeçudos do mundo junto com cabeçudinhos desconhecidos e deixarem eles apresentarem idéias e pesquisas. Depois, eles vão tomar café e numa parceria criada ali, tomando um expresso, a vida de milhões de pessoas pode mudar radicalmente!
Lembrei de quando eu tinha 14 anos. Meu professor de sociologia me designou para um debate. Fiquei umas 5 horas conversando com meu pai sobre política, meios de produção, dívida externa, incentivos fiscais, me preparando para o tal debate que nunca aconteceu. Nessa época, resolvei que o único jeito, ia ser virar milionária. Tinha tantas idéias de como mudar o mundo... mas elas custavam dinheiro e a minha mesada, mesmo não sendo de se jogar fora, não ia ser o suficiente. Tinha essa convicção de que minha missão no mundo era fiçar muito rica para poder fazer tudo que eu queria: Financiar pesquisas na área de agricultura e irrigação no nordeste, de nutrição, utilização inteligente dos recursos naturais... Queria diminuir o êxodo rural do nordeste promovendo sustentabilidade de pequenas comunidades. Claro que sustentabilidade é um termo moderno e na época eu não usava ele, mas eram esses meus planos: criar comunidades auto sustentáveis nas zonas de grande êxodo no Brasil. Na minha, cabeça isso faria do Brasil o pais perfeito, as grandes cidades iriam desafogar, a violência urbana diminuiria, as regiões pobres do país seriam menos dependente financeiramente das mais ricas, e por aí iria!
Em algum lugar no espaço, meus ideais se perderam, não seu se na hiper- introspectividade da época do teatro, ou se no meio dos meus devaneios amorosos, mas de vez em quando, meus projetos infantis de mudar o mundo reapareciam para mim e nunca soube o que faze com eles. Por mais que eu me esforçasse para tentar achar um ponto de equilíbrio entre a ingenuidade infantil da minha utopia e a minha frívola realidade de produto do sistema, tudo sempre parecia intangível.
Ha um mês atrás, enquanto tentava ajudar o bofe novo a resolver a sua vida, pela primeira vez elaborei algo palpável. Ele deveria se formar em engenharia ambiental, vender umas propriedades da família que estão paradas, e abriria uma empresa de reciclagem! Em dois dias, já tinha lido tanto sobre reciclagem, que até ele se assustou! Era a resposta que eu esperava, o caminho do meio! Depois de alguns dias, as dificuldades começaram a me desanimar, e de repente, lá estava eu de novo, com meu pensamento pequeno burguês reclamando que iria fazer 30 anos sem ter uma casa...
Nesse clima de depressão e indecisão, resolvi ver o documentário que eu tinha menos interesse de ver na minha lista de filmes : The future we will create. O filme estava na minha lista, mas achei que ia ser um monte de baboseira tecnológica, o que eu acho legal, mas só quando estou com humor para essas coisas! Estava redondamente enganada. Esse foi um dos filmes mais humanos que eu vi nos últimos tempos, absolutamente inspirador.
Talvez, não seja só o filme. Talvez, essa coisa de chegar perto dos 30anos seja legal mesmo, como algumas pessoas dizem. Talvez, a coisas comecem realmente a fazer mais sentido. Talvez a gente tenha serenidade para finalmente descobrir o que é que falta para a gente ser feliz. Talvez, talvez, talvez...
O Brasil também foi assunto no TED. A revolução do Etanol e o vanguardísmo da tecnologia dos carros Flex deixou até os cabeções do TED de queixo caído. Fiquei tão orgulhosa de ver o Brasil começando em aparecer no lado bacana das estatísticas! Fiquei tão feliz de ser brasileira, por estar viva, e por ter, depois de tanto tempo, revisitado o grande potencial que eu sei que carrego comigo como ser humano e cidadã. De repente, me lembrei de tudo, de por que eu sou do jeito que eu sou, de por que eu acredito nas coisas que acredito, de por que eu cancelei a TV a cabo mês passado! Nós somos capazes de muito mais do que fazemos, e a recompensa para os que perseveram é a infinita satisfação de nunca ter perdido o elo com o seu sonho infantil utópico!
PS: Se você entende inglês o filme completo está disponível de graça no you tube:
http://www.youtube.com/watch?v=cLWEgp0BdvU
Se você quer saber mais sobre o TED, aqui vai o site:
Se você ficou interessado nos outros documentários citados nesse texto aí vão os nomes:
War Dance – Sobre as crianças de Uganda se preparando para a competição em um festival de arte escolar.
http://www.youtube.com/watch?v=2saj4gJ4Lvw
Jesus Camp – Sobre a lavagem cerebral que está sendo feita em crianças do interior dos Estados Unidos para que elas virem o “exército do Cristianismo.”
http://www.youtube.com/watch?v=V3PIoI2Bp40
Islam- What the wester needs to know – Sobre a imagem errônea que o mundo ocidental tem do caráter pacífico do islamismo.
Primeira Parte:
http://www.youtube.com/watch?v=mjq5Vi9Gc68