sexta-feira, julho 08, 2016

Meus dias como Lydia


 Quase  três anos se passaram desde a última vez que escrevi por aqui. Não sei se por causa do trabalho, do casamento, de outros projeto de escrita, ou só mesmo a falta de vontade.

Ontem depois de andar vinte e quatro quarteirões, pegar três trens, cheguei ao trabalho. Lembrei do meu blog e senti saudade de escrever. O problema é que embora tenha batido saudade,  inspiração que é bom, nada... Ai, pensei - “Estou enferrujada! Hoje a noite quando chegar em casa, tento escrever algo.” Divaguei um pouco sobre algumas coisas, mas logo fui absorvida pela rotina do escritório e deixei esse devaneio de lado.

Algumas horas depois meu celular vibrou. Era uma mensagem no Facebook. Não reconheci o nome, mas como minha memória é péssima abri a mensagem mesmo assim.  O redator se desculpava por “invadir” meu espaço e garantia ser uma pessoa normal. Era um velho amigo de meu irmão mais novo e queria dividir uma história comigo.  Espremi o cérebro, reli seu nome dez vezes tentando me lembra de um amigo de meu irmão que pudesse ser esse moço, mas não fui capaz, mesmo assim continuei a ler seu texto.

Depois de estabelecer a própria sanidade ele se descreveu como um cara comum, casado que ainda vivia na minha cidade natal Teresina. Estava revendo uns texto antigos e se deparou com uma coisa que tinha escrito ha muitos anos parcialmente inspirada por mim. O texto se chamava Lydia.

Prosseguiu me contando que quando menino gravava filmes em VHS e os assistia nos fim de semana repetidamente. Um dos seu favoritos era BeetleJuice de Tim Burton. Nesse filme Winona Ryder atuava como a personagem Lydia.

Aos doze anos ele inspecionava o mural da escola quando uma menina se aproximou. A garota era um pouco estranha, extremamente pálida com cabelos negros e curtos. Devia ser um anos mais velha que ele. Ficou olhando tentando procurar uma forma de se comunicar com ela, mas o máximo que consegui elaborar foi: “Você parece muito com uma moça de um filme.” A garota olhou para o menino e sem pestanejar disse: “E se eu te dissesse que eu sou ela?” Ele ficou embasbacado com o coração acelerado sem entender exatamente o que estava acontecendo.

Um tempo passou e o garoto fez um novo amigo. Um dia durante uma visita a casa desse amigo, o garoto avistou “Lydia”, ela era a irmã mais velha de seu novo companheiro de encrencas. Não sabia se a garota se lembrava dele, mas não teve coragem de mencionar o encontro prévio.

A amizade dos dois rapazes durou alguns tempo e o garoto frequentou a casa de “Lydia” varias vezes sem nunca mencionar o ocorrido. Com o tempo “Lydia” se mudou de cidade, os moços se distanciaram.

A mensagem do rapaz continuava, mas minha atenção ficou presa ao primeiros parágrafos. “E se eu te dissesse que eu sou ela?”- aquela garota pretensiosa de treze anos era Laurinha. Achei inconcebível que não conseguisse  me lembra do ocorrido, ou ao menos do protagonista da história. Mandei uma mensagem para meu irmão perguntando se ele tinha um amigo com esse nome. Ele confirmou, me disse o apelido do garoto e comentou que o garoto havia dormido varias vezes na nossa casa. Eu era adolescente quando tudo isso aconteceu, não uma criança, deveria ser capaz de lembrar pelo menos da existência dessa pessoa, mas minha memória me traia e não deixava emergir se quer uma mísera  referencia de quem ele fosse.

Fiquei sentada olhando para o meu computador chateada com a sensação de perda. As vezes se  tivesse escrito um diário quando criança poderia voltar, rever minhas memória, mas agora era tarde, tantas coisas devem ter se perdido, quantas histórias minha memória poderia ter engolido? Parecia um sinal, um aviso do universo dizendo que eu não precisava de uma grande inspiração para escrever, apontando que as vezes as histórias mais interessantes não são as mais memoráveis a primeira instância. Meu cérebro supersaturado e minha memória caquética era motivos o suficiente para voltar a escrever.

Terminei meu longo dia de trabalho e durante minha jornada de volta para casa (caminhada de vinte e quatro quarteirões e três trens) reli a mensagem algumas vezes. Sempre que chegava na parte que dizia “E se eu te dissesse que eu sou ela?”, tentava me imaginar fazendo aquilo, mas não conseguia. Essa garota parecia confiante, segura e despachada e essa não é a lembrança que tenho da minha adolescência. Era pálida, tinha cabelos cortados sob a influencia de meu pai arquiteto que adorava cabelo curto em mulher, usava roupas largas por que nasci me achando gorda e sempre tive olheiras, graças a insônia que segundo minha mãe começou a me atormentar assim que aprendi a andar. Essa união fazia de mim uma pessoa exótica na escola. Admito que em um momento mais tardio da minha juventude, minha estranheza virou uma opção estética, mas até aquele momento eu era naturalmente estranha e não tinha a menor ideia de como as outras pessoas me viam.

Sempre fui assombrada por uma ideia absurda de que nós não temos como saber se o mundo que nós enxergamos é visto do mesmo jeito pelos outros. Se azul é a mesma cor para todos nós ou se cada um vê azul de uma forma diferente mas aprendeu que aquilo é azul e assim ficamos... Pensei na aplicação da minha teoria sobre as pessoas. Laurinha aos treze anos era uma garota que se sentia extremamente ordinária, tímida e retraída na escola. Para esse rapaz, Laurinha era o máximo, meio nojentinha e convencida, mas mesmo assim, o máximo!

Essa história que me escapava a memória me fascina por que vinha cercada de dualidade. O que disse para aquele menino na frente do mural da escola soava aos meus ouvidos como algo que passaria pela cabeça da Laurinha de treze anos e não algo que ela diria em voz alta. Nunca vou saber se esse foi um dia em que me sentia especialmente cheia de autoconfiança ou se era assim sempre e me enxergava de outra forma. 

Depois de descrever essa memória o rapaz me contou que agora depois de crescido, ele passeava no shopping com uma camiseta do Jurassic Park e um garotinho perguntou se ele trabalhava no parque. Ele disse que se lembrou na hora -“E se eu te dissesse que eu sou ela?”- e disse pro garoto que sim, ele trabalhava no parque mas que estava de férias. O menino saiu pinoteando animado. Confessou que ficou imaginado se seria para o menino o que eu fui para ele um dia.

Agradeci o moço pelo texto, mas esqueci de agradecer pela memória e pela oportunidade de me ver pelos olhos de outra pessoa. Se não fosse por sua “invasão” do meu espaço, nunca saberia que já fui Lydia. 

Isso tudo me deixou pensando na repercução de todos os encontros casuais que nos passam desapercebidos. Nós não temos como saber o impacto que podemos causar na vida de outras pessoas. E as outras personagens que já fui sem saber? As outras interações esquecidas com pessoas que o tempo desbotou? Quantas versões de mim mesma vagam no subconsciente alheio? Não vou saber nunca... ou pelo menos não até meu telefone vibrar novamente com um outro nome desconhecido.

sexta-feira, setembro 13, 2013

Como organizar uma festa de casamento em 14 dias.


Tudo começou muito descompromissadamente. Nós iriamos ou City Hall, eu compraria um vestido e um anel em um brechó só para tirar umas fotinhas para a posteridade, mas assim que contei para as amigas que ia me casar...

“Você vai usar um vestido?”
“Eu posso ir?”
“Eu posso levar flores?”
“A gente pode ir almoçar depois?”

Antes que percebesse, meu casamento tinha virado uma festa! O único problema era que a data marcada era em 2 semanas.

Depois de arrumar um Marido em 13 horas, agora era hora de organizar um casamento em 14 dias. Quem me conhece sabe que para mim, 14 dias é tempo suficiente pra  construir um foguete e ir e voltar 2 vezes a lua. O problema era arrumar o tal do casamento numa NYC toda estropiada por furacão, trabalhando 10 horas por dia, 5 vezes por semana e sem gastar dinheiro! Como sempre a solução foi a mesma: vou fazer tudo eu mesma!

Lá sai a louca no meio de NYC caminhando a pé por que os metros ainda não estavam funcionando depois das estações de baixa Manhattan terem sido inundadas pelo furacão. Caminhei da rua 73 até a 33 onde encontrei uma amiga que perambulava a deriva pela cidade esperando a hora de encontrar com seu amado. Ela me acompanhou até Mood Fabrics. Quando a gente entra nas grandes lojas de tecido de NYC a gente fica tão encantada com a quantidade de tecido, que nunca imagina entrar no lugar e não achar o que precisamos, mas é claro que isso aconteceu comigo.

O único tecido que na loja inteira que gostei era uma seda. A seda mais lida com a cor perfeita e um caimento de deusa... O problema era que só tinha um metro e meio da bendita seda e por mais que eu fosse econômica, eu ainda não era milagreira. Minha amiga me perguntou:

“E aí!? Vai levar a que você gosta, ou a seda que você pode comprar no tamanho suficiente?”

“Meu pai sempre diz que mais vale um gosto do que uma carrada de abóboras! Eu dou um jeito, mas eu caso com essa bendita seda!”- comprei a diaba e voltei andando para casa reclamando a falta de transporte público!

O tecido era tão delicado que se você olhasse para ele torto ele já puxava um fio, por isso resolvi costurar uma saia a mão! Tudo bem... ia ter uma saia, mas e o resto? Convoquei todas as meninas que moravam comigo:

“Preciso que vocês despenquem do guarda roupa de vocês tudo que vocês tem em branco ou tons neutros!”

Uma pilha de blusas, saias e vestidos se formou na minha frente sem com que minhas amigas entendessem nada comecei a examinar as peças. Achei um vestido curtíssimo, altamente periguete, mas com um tecido bonito. Coloquei o vestido sob os olharem curiosos de minhas amigas e comecei a repuxa-lo para todos os lados. Prendia uma parte um cinto, outra com um broche, outras com alfinetes e acabei fazendo uma blusa drapiada do  vestido. Peguei a seda embolei sob a blusa e prendi com um alfinete. Me olhei no espelho e me virei para as minhas amigas:

“E ai?”

Elas me olhavam meio abobadas principalmente a dona do vestido.

“Como diabos vocês fez isso?”

Eu ainda não tinha feito, mas ia fazer! Passei as noite e as manhas costurando a saia pacientemente a mão com a agulha mais fininha de todas, com fé de que terminaria a tempo.

O vestido, todo mundo esperava que eu conseguisse fazer, inclusive eu! O problema era o resto! Decoração, bebida, comida, organização... Resolvi casar no Central Park e fazer a festa na varanda da minha casa, tudo muito prático, um vez que meu apartamento ficava a um quarteirão de lá!

Fui passear no Central Park assim que ele foi reaberto depois do Sandy. Várias árvores haviam caído, muitas que tinham sido comprometidas estavam sendo cortadas, mas aquele parque é o parque, principalmente no Outono! Por isso não ouve furação que os despenteasse o suficiente! Andamos procurando o lugar ideal, mas na hora de resolver, o coração bateu mais forte e escolhi um gramado a frente do lado onde havia levado o Grandalhão para fazer o seu primeiro pic-nic.

Logo depois de escolher o Parque como local, o noivo começou e a se preocupar. O clima instável do início de Novembro não era dos mais confiáveis para um casamento ou ar livre. Para reforçar essa preocupação, no fim de semana após o furação, NYC foi atingida por uma nevasca!

“Qual é o plano B?”- ele me perguntou.

“Não tem plano B! Agente vai casar no parque e a festa vai ser na varanda!”

“E se chover?”

“Não vai chover!”

“E se nevar?!”

“Ia ser lindo, mas também não vai nevar! Vai ser um dia lindo, você vai ver! Eu não preciso de plano B!”

Nem ele nem ninguém com um pingo de juízo acreditavam que depois de um furação e uma nevasca, o tempo ira milagrosamente melhorar, só eu! Continuei arrumando a decoração, encomendando as bebidas e desenvolvendo o cardápio, sem pensar no tempo.

Alguns dias antes da data marcada, iniciei a parte mais difícil: Cozinhar para 30 pessoas! Sempre cozinho para muita gente, mas havia prometido ao Grandalhão que no dia do casamento não cozinharia: Menti!

Na noite anterior não fui dormir até as 3 horas da manhã. As últimas coisas que ficaram para a manhã seguinte foram quibe veganos, que foram assados enquanto fui no supermercado comprar flores. Na manhã do casamento acordei as 7 da manhã depois de 4 horas mal dormidas enfiei os quitutes no forno com o fogo baixo e  fui resolver o resto das coisas.

Quase desloquei o ombro carregando uma quantidade sobre humana de flores na rua. Todo mundo me parava e perguntava:

“Nossa para que tantas flores?”

“Eu vou casar hoje.”

“Hoje? E você que anda carregando as flores?”

“Pois é o casamento é daqui a 3 horas, tenho que correr!”

“Parabéns!”

“Obrigada!”

Tive essa conversa 3 vezes no caminho de casa. Quase cai escada a baixo subindo os 4 andares até chegar no meu apartamento encharcada de suor! Tirei o quibe do forno antes que o noivo chegasse e brigasse comigo por estar cozinhando no dia do casamento. Escolhi as flores para o boque, peguei um retalho que havia sobrado da saia e coloquei o dito cujo de lado. Arrumei os vasos e foi tempo suficiente para que minhas amigas e o Grandalhão chegasse com meu cunhado.

O noivo olhou para o meu quarto que estava de pernas para o ar com pedaços de panos flores e todo o tipo de parafernália espalha por todos os lados! Se sentou na cama e soltou um grito! Se levantou e quando eu vi tinha uma tesourinha pendurada na bunda do pobre coitado!

“Au!!! Onde já se viu deixa tesoura na cama!”

Pedi desculpas, desinfetei o machucado e fui atrás de um band aid.

“Só tem Band aid do Snoopy, tem problema?”
Ele riu e foi se arrumar para se casar comigo com a bunda remendada com um band aid do Snoopy!

O Grandalhão e o irmão foram para o terraço com uma lista de instruções de como terminar a decoração da varanda, uma amiga recebeu uma lista de como arrumar as comidas e outra de como se encontrar com os convidados no local marcado e leva-los para o local da cerimônia. A última amiga a receber função foi a que me casaria. Entreguei o texto que ela leria na cerimônia, que tinha escrito naquela semana cheia. Depois de distribuir mil funções, olhei para o relógio!

“Droga! O casamento é em uma hora, não vai dar tempo de fazer minhas unhas!”

Fui tomar banho, escovei os cabelos, fiz o penteado, a maquiagem e achei uma luvinha branca que cobrisse as minhas unhas de pedreiro e coloquei o vestido.

“Droga! A saia está caindo!”

Um clássico! Havia trabalhado tanto no casamento que emagreci demais e a saia não cabia mais. Peguei uns 3 alfinetes apertei e fui embora!

Encontrei como meu amigo que me levaria até o Grandalhão uma vez que meu pai não estava presente e acompanhada peal fotógrafa fomos até a Central Park West Avenue. Todo mundo achando que eu ia me casar com meu amigo, nos parava e nos dava os parabéns. Eu ria, agradecia e continuava andando, algumas meninas japonesas pediram para tirar foto comigo, mas quando realmente comecei a andar dentro do parque, fiquei nervosa.


Era o dia mais bonito de qualquer Outono em Nova Iorque. Era como se a primavera tivesse de repente visitado o Outono, trazendo um dia morno e ensolarado em meio ao colorido das árvores caducifólias da estação. Meu amigo não cansava de repetir, quanta sorte eu tinha de ter um tempo tão perfeito no meio de Novembro um mês geralmente, frio, cinzento e chuvoso!

“Sabia que não precisava de plano B!”- respondi sorrindo!

 

Meu amigo me levou ao local onde o Grandalhão esperava nervosamente por mim. Seu amigo, vocalista de uma banda de rock, tocava no violão e cantava a meu pedido All day and all of the night dos The Kinks, mas o nervosismo impediu que percebesse que andava depressa demais e o pobre coitado só teve tempo de cantar:

“Girl, I want to be with you
all of the T...”



Como o tempo era de primavera, a natureza fez questão de nos lembrar que era Outono e quando minha amiga que realizava a cerimônia começou a falar uma folha enorme caiu bem no meio da cara dela, desconcertando a garota e levando os convidados as gargalhadas. E em uma cerimônia de pouco mais de 5 minutos, eu e o Gradalhão fomos pronunciados marido e mulher!
 

Voltamos para casa onde bebemos, lamentamos os ausentes, ligamos paras pais, cortamos bolo, comemos minha comida (100% vegana!), quase destruímos a casa e por fim tivemos que enxotar os amigos Irlandeses do Gradalhão que poderiam ter ficado na varando bebendo por 3 dias seguidos se não fossem interrompidos!


Fui dormir exausta! Como se tivesse corrido uma maratona, mas aí um enorme sorriso me disse por meio a uma barba ruiva:

“Good job! That was a great wedding!”

“É, fui um casamento ótimo!”- resolvi orgulhosa!

Eu e o Grandalhão nos casamos em 14 dias. Meu boque custou $9, meu vestido $30 e a festa toda $1,000.00, para o desespero dos organizadores profissionais de casamento ;)

Para que fosse perfeito, só faltaram os amigos e os familiares do Brasil e da Irlanda!


Link do vídeo colagem de fotos do casamento no meu Facebook:
https://www.facebook.com/photo.php?v=10152272685190570&set=vb.117319914963594&type=2&theater 

segunda-feira, agosto 12, 2013

Abaixo as expectativas!


Cheguei no trabalho hoje incapaz de me concentrar. Depois de uma semana turbulenta no meu casamento (nada fora do comum) e uma longa conversa com uma amiga vivendo em uma situação de limbo amoroso e profissional, meu cérebro não conseguia computar outra coisa além do conceito de expectativa.

Lembrei de uma entrevista que vi em um documentário com Dalai Lama. O repórter lhe disse que em suas vastas viagem pelo mundo, os lugares mais pobres eram onde as pessoas aparentavam ser mais felizes. Ele perguntou ao líder espiritual o qual achava ser o motivo e tal fenômeno. Dalai Lama sorriu muito simpático e respondeu que era a expectativa. Essas pessoas pobres e felizes não tinham grandes ambições, tinha o suficiente para viver e clareza para apreciar o que tinham. Pessoas com grandes expectativas vivem sempre no futuro, passam desapercebidos pelo presente e vivem constantemente com o sentimento de frustração.


Esse conceito de desapego é o inferno para mim, sempre sonhei alto, fiz e aconteci, tive ambição, por isso esse desapego com o futuro sempre me pareceu marasmo e conformismo. Acontece, que quanto mais perto a gente chega dos sonhos e das realizações, nós (pelo menos eu!) vemos as realizações sendo substituídas por outras ambições e um círculo vicioso onde nos encontramos destinados a desejar e se frustrar!

Esse conceito fica nebuloso na nossa vida profissional, por que em teoria, na vida profissional, existe sempre um degrau a cima, por isso a ambição tem o seu lugar de uma certa forma, mas quando transportamos ele para nossa vida pessoal, tudo fica claro como cristal!

As mulheres da minha geração foram criadas para terem tudo: carreira, família, amor. Nós esperamos isso da vida! Independência financeira, carreiras estimulantes, um grande amor, os frutos de um grande amor... Pouco sabemos nós que o dia só tem 24 horas, que eficiência tem limite e que as vezes uma coisa pode entrar no caminho da outra e nos deixar em uma encruzilhada onde decisões nada agradáveis tem que ser feitas. O pior é  saber que não existem garantias de qual seja a escolha certa.

Digo sempre para o meu marido que cresci achando que era destinada a grandes atos. Meus infantis sonhos de filantropia tropeçaram na minha incapacidade de ficar podre de rica, pelo menos até agora.

Minha mãe me disse que quando era criança, durante uma conversa com uma prima, ela observou o seguinte diálogo:

“Quando crescer, vou fazer filmes e vou morar em Nova Iorque”- Laurinha.

Minha mãe para a minha priminha:

“E você meu bem? O que vai ser quando crescer!?”

“Vou ser advogada e ganhar bastante dinheiro para visitar a Laurinha em Nova Iorque!”

Minha prima é procuradora do estado de Mina Gerais e já veio me visitar duas vezes em Nova Iorque. Prova de que a tal ambição quando direcionada pode nos levar onde desejamos ir, mas nós nunca vamos saber a real extensão do que foi perdido durante esse caminho... as pessoas que foram deixadas para trás, os amores que não tiveram chance contra o sonho de trabalhar em uma indústria tão específica quanto a minha.

No meu primeiro casamento, quando a ansiedade me consumiu até a raiz destruindo qualquer possibilidade de felicidade amorosa, esses conceitos de desapego me pareciam deliciosos! O problema é a diferença entre o entendimento racional e a capacidade de utilização pratica!

No meu segundo casamento, recebi uma aula prática, quase uma demonstração, como se o mundo dissesse: “Aqui Laura, a gente vai explicar para você como se você fosse uma criança de dois anos...”

Quando conheci meu segundo marido (hahahha... muito engraçado, me sinto a Elizabeth Taylor... “meu segundo marido”... ai, ai...), estava de malas prontas para voltar para o Brasil e ele, havia acabado de chegar da Irlanda. Nosso relacionamento começou com data para terminar. Isso que para muito pode ser motivo para chorosas noites em claro, para mim significou ausência de expectativa! Não queria que aquele rapaz que havia acabado de conhecer fosse nada, simplesmente permitindo que o pobre fosse ele mesmo! Os efeito funcionou comigo mesma. Sem pressão, fui capaz de relaxar, aproveitar o momento e me sentir o mais próxima que já me senti de mim mesma.

O que esse cenário me proporcionou  foi nada mais que a ausência de expectativa, por consequência anulando o medo de uma futura  frustração e a insegurança causada pelo mesmo. Insegurança é um dos maiores fatores alteradores de personalidade que eu já pude perceber. A insegurança destrói a base de nossa identidade, nos fazendo duvidar de coisas bem mais profundas do que o peso na balança ou as ruga que não estava ali na semana passada. O que começa na vida amorosa se espalha para a vida profissional e vice versa. Por que o problema não se encontra ali pelas periferias de nosso subconsciente e sim nas raízes mais profundas da nossa relação com nossa própria identidade. Quando conseguimos tomar conta, estamos duvidando todas a nossas capacidades e funções nesse mundo!


No meu primeiro casamento (lá vem de novo!), quanto mais o relacionamento piorava, mas eu tentava mudar, busca uma outra pessoa ou personalidade que talvez pudesse ser mais amada do que eu era naquele momento. Me afastei tanto de mim mesma, que tanto me separei e parei para me olhar no espelho, não me reconheci!

Então como lidar com esses monstros???? A expectativa que nos impregna, nos cegando a todas as qualidades dos nossos parceiros , por  estávamos muito preocupados com tudo o que eles não são! A insegurança que deforma nossa personalidade em busca de amor e aprovação constante?


A resposta é outra daquelas coisas que a gente aprende racionalmente, mas que sabe-se lá quando vamos conseguir (se é que algum dia conseguiremos) aplicar no nosso dia a dia. Aceitação. Aceitar quem somos primeiramente, imperfeitos e constantemente em mutação. Aceitar quem está ao nosso redor, aceitar o amor que eles nos tem para dar e não o que nos queremos receber, por que boas surpresa podem surgir.

Meu marido só pode me amar do jeito que ele sabe me amar. Nem uma outra forma de amor é possível! Da mesma forma que eu só posso ama-lo como eu amo. O negocio é esquecer o que desejamos para que possamos usufruir do que possuímos! O desejo cega!

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Cara-de-pau ao quadrado!


Claro que rolaram umas briguinhas aqui e ali, mas a melhor parte de namorar o Grandalhão era perceber o quanto era fácil de resolver as nossas dificuldades juntos. A pior, era pensar que estava praticamente de malas prontas para voltar para o Brasil! Tinha falado pra ele que ia embora no dia em que nos conhecemos, por tanto isso sempre foi uma sombra sobre o nosso relacionamento que havia nascido já com data de validade.

O que deveria ser um problema, acabou nos unindo. Estranho como quando não temos expectativas a serem alcançadas nós nos libertamos. Entrar em um relacionamento sem expectativas é pedir demais de qualquer pessoa normal. Quando conhecemos alguém, nós automaticamente projetamos nossos desejos e sonhos nesse pobre coitado. O pior é que infelizmente é algo que fazemos inconscientemente. No meu caso, o que me salvou dessa armadilha foi justamente o fato de o futuro não ser uma possibilidade para nós dois.

Pode parecer deprimente, mas resolvemos aproveitar o tempo que tínhamos em vez de ser preocupar com a separação eminente. Foi assim até a hora da tal “eminência” chegar perto. Nós já estávamos tão envolvidos que a separação havia se tornado uma inviabilidade.

Quando o Grandalhão teve que renovar o seu visto, fui quanto me deparei com um drama que a alguns anos tinha sido meu. Ao renovar seu visto, o moço seria autorizado a ficar no país, mas se precisasse deixar a América por algum motivo, não voltaria. Me lembrei de quando cheguei. Minha avó estava muito doente e eu temia diariamente ter que escolher entre estar com minha família em um momento importante e nunca mais poder voltar aos EUA. O Grandalhão que não sentia a pressão óbvia de ter um parente doente, não percebeu a encruzilhada, mas eu mal pude deixar de lado o fantasma de sete anos atrás. Depois de muito ouvir as idas e vindas com sua advogada minha ansciedade foi se acentuando até que um dia explodiu:

“Amor, na vida encontramos problemas que nós não podemos evitar. Esse seu problema não é um deles!”- disse segura de mim mesma.

“Como assim?”- indagou meu amado.

“Eu vou casar com você, a gente resolve esse problema, assim nós nos concentramos nos outros tipos de problemas”- respondi.

Ainda estava de viagem marcada, mas na minha cabeça, mesmo voltando para o Brasil, eu preferia deixar o Grandalhão em uma situação legal favorável. Mesmo que não fosse para ficarmos juntos, queria que ele ficasse bem, e foi o que eu disse para ele.

Comovido com o gesto, ele agradeceu e disse que renovaria o visto por 3 meses o que nos daria tempo de discutir melhor o casamento. Algumas semanas se passaram. Andava em uma lojas de departamentos procurando vestidos para minha mãe comparecer ao casamento de minha prima quando meu telefone tocou.

“Queria falar com você sobre o casamento!”

Ele repetiu várias vezes o quanto era grato. Expliquei que ele teria que ficar casado comigo por pelo menso dois anos antes de poder se separar. Uma expressão de confusão tremulou sua voz.

“Se separar? Por que eu iria me separar?”

Explicou que se casaria comigo no civil para que a papelada se adiantasse, mas que assim que nos fosse conviniente que faríamos duas festas de casamento: uma no Brasil e uma na Irlanda. Completou dizendo que só se casaria comigo se fosse de verdade. Ele sabia que era muito precipitado, mas que tinha certeza de estar tomando a decisão certa.

A idéia era ridícula! Nós estavamos juntos a quatro meses. Muitos de meus amigo de NYC não haviam ainda nem conhecido o Grandalhão, mas por mais que tentasse ponderar, não consegui achar dentro de mim um motivo para não seguir a diante. E foi assim, conversando com ele no telefone no dia em que o furacão Sandy atingiria Nova Iorque, que fiquei noiva. Quando minhas amigas no Brasil me perguntaram como fiquei noiva, a resposta é a menos romántica possível: "Eu falei pra ele que ia casar com ele!" Cara-de-pau essa Laurinha!

 Havia acabado de falar com minha mãe por umas 5 horas quanto tive essa conversa com meu bofe. Resolvi espera até o outro dia para ligar e avisa minha família da minha decisão. Já era bem tarde quando o Noivo me mandou uma mensagem perguntando se podia colocar no Facebook que a gente estava noivo. Concluí que meus pais estariam dormindo e disse sim. Meu plano era acordar e ligar para os dois de manhã cedo contando a novidade. Claro que não foi isso que aconteceu...

Meu pai, que estava preocupado com a chegada do furacão Sandy a NYC, pediu ao meu irmão que averiguasse se eu estava bem. Meu irmão entrou direto no Facebook e, para minha complicação, viu a mudança de meu relacionamento:

“Ei pai, ela deve tá bem, tá aqui dizendo que ela acabou de ficar noiva!”

O pobre do meu pai não entendeu nada, seguido por minha mãe que também não tinha conseguido dormir pensando no tal furacão. Meu telefone começou a tocar, era ela. O problema era que há essas alturas, o furacão já estava assanhando os cabelos da gente por aqui e o sinal de celular estava uma porcaria. O jeito foi acalmar a pobre pelo Facebook. Minha sorte era que na longa conversa que nós tivemos no mesmo dia ela, não muito discretamente, insinuou várias vezes que ela queria um neto:

Mãe: “NOIVA!!!!!”

Eu: “Você fica aí me pedindo um neto, o jeito foi eu arrumar um noivo :).”

Laurinha, cara-de-pau ao quadrado!

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Como arrumar um marido em 13 horas


Hoje o Grandalhão foi deixar no aeroporto. Depois que ele foi embora me mandou uma mensagem dizendo que que se sentia como um pedaço dele estivesse faltando. Como a gente chegou aqui? Explico.

Depois de mandar a mensagem no primeiro dia que conheci o bofe, acordei com uma sensação estranha. Uma mistura de satisfação e contentamento. Difícil de explicar, quase nada de ansiedade, uma tranquilidade que geralmente não me acompanha. Minha amiga Vanessa interpretou isso como se eu não ligasse muito para o rapaz. O jeito que me sentia me era tão estranho que acabei concordando com ela mesmo sem achar que esse fosse o caso.

Não demorou muito até meu telefone começar a apitar. Minha amiga como sempre reclamando que toda vez que eu fico com alguém, a pessoa liga e que com ela, nunca é assim, bla bla bla... Achei graça da baboseira e a lembrei que se minha vida amorosa fosse assim tão fácil, não teria me divorciado antes dos 30. A resposta veio rapidamente da boca da loira: “Pelo menos você já se casou!” Como não discuto com gente louca, me concentrei nas mensagens de texto que estavam bombardeando meu telefone.

Uma coisa tenho que admitir... tudo estava parecendo muito fácil! Depois de duas ou três mensagens, minha amiga já estava explodindo de curiosidade olhando meu sorrizinho de canto de boca que diz mais do que mil palavras. Quando finalmente desenterrei a cara do celular: “I got a date!” (Tenho um encontro!)

Agora era esperar pelo meu dia de folga. Pelo menos foi o que pensei, mas logo descobrir que o Grandalhão era viciado em mensagem de texto. Quando a véspera do esperado dia finalmente havia chegado, a gente já tinha conversado tanto que parecia estranho ser um “primeiro encontro”.

O Grandalhão com seu jeitão relaxado disse que a gente poderia ir a um bar perto da minha casa, algo que fosse fácil para mim. Euzinha??? Levar o bofe no primeiro encontro num boteco??? Nem morta santa.

Depois de sete anos em NYC já posso ser considerada Novaiorquina, e uma coisa deve ser explicada sobre os Novaiorquinos: Somos orgulhosos dessa bendita cidadezinha imunda onde nós vivemos! New York é muito barulhenta, cheia de gente rabugenta, suja, cara, mas só quem tem direito de dizer isso é quem trabalha 60 horas por semana para conseguir pagar aluguel de um apartamento do tamanho de uma caixa de sapato aqui nesse conglomerado de nacionalidades. Por que nós fazemos isso? Por que esse inferninho que é New York, é a mesma: melhor cidade do mundo! E os habitantes da melhor cidade do mundo adoram mostrar sua cidade.

Como já expliquei, o bofe havia chegado de Dublim há apenas um mês, era a oportunidade perfeita para impressionar o rapaz recém chegado como meus conhecimentos locais. Eleger um bar foi tarefa árdua, Deus abençoe o Google! Para quem vem do Brasil, uma faixinha de areia e um pouco de ar livre pode não parecer grande coisa, mas pra quem vive na selva de pedras, é um oásis! Foi assim que escolhi Beekman Beer Garden. No Pier 17th, a beira da água, uma prainha artificial com a belíssima ponte do Brooklyn como vista...

Diferente do resto de Manhattan onde ruas e avenidas são organizadas por números, Downtown é uma confusão só! Ofereci o bofe pra encontrar na estação de metro e caminhar juntos até o Bear Garden , mas macho que é macho, não se perde e nem pede por direções, por isso, na hora marcada, lá estava Laurinha, linda e cheirozinha esperando o telefone tocar!

Quinze minutos passaram da hora marcada, quando o telefone tocou com a esperada problemática: O rapaz estava perdido! Mais uma vez, tive chance de me gabar como guia local! Foi andando em direção a esquina onde o Grandalhão estaria me esperando. Esperei que o nervosismo batesse, mas nada. Avistei os reflexos vermelhos na barba e nos cabelos do meu date que não percebeu minha aproximação até quando eu já estava quase na suas fuças!

O meu sorriso atravessava minha face de lado a lado. O moço não pestanejou, me abraçou e me beijou! Dai para frente a tarde e a noite simplesmente pareceram sempre curtas demais. Nós ficamos no Beekman Garden até que o local fechasse, partimos para Sptizer's Corner onde também fomos educadamente requisitados a nos recolher, até que batemos no boteco mais copo sujo do Lower East Side! Nós simplesmente nos recusávamos a ir embora!

Infelizmente, mesmo na cidade que nunca dorme, os bares fecham as quatro da manhã. Então, depois de 13 horas juntos tivemos que nos despedir. Enquanto caminhava para casa, recebi uma mensagem de minha amiga a Loira: “ Kd tu? Como foi?” A minha resposta foi: “Tô indo pra casa, foi ótimo! Acho que eu tô namorando!”

Para vocês que acham que minha previsão de namoro depois de apenas 13 horas pudesse ser precipitada, pasmem com a resposta do Grandalhão quando questionado por seu amigo ao chegar em casa do nosso encontro:

Amigo- “E aí? Como foi o encontro?”

Grandalhão- “O melhor encontro da minha vida!”

Amigo- “Mesmo?”

Grandalhão- “Ela é muito diferente, eu acho que eu vou casar com ela!”


Título do meu primeiro livro talvez seja: Como arrumar um marido em 13 horas!

domingo, outubro 07, 2012

Sonhos de uma noite de verão.

 Tudo começo numa quente tarde de verão caminhando com um amigo brasileiro por Union Square. Nós passamos em frente a uma livraria muito grande aqui nos EUA e vimos um cartaz promocional. O cartaz dizia que em determinado dia, Glen Hansard, um músico Irlandês que eu amo de paixão, estaria na dita livraria assinando CDs. Pensei comigo mesma, se ele está aqui é por que vai fazer show. Fucei na internet, e descobri as datas que coincidiam com a chegada de outro amigo brasileiro que estaria em NYC. Comprei dois ingressos pensando nesse amigo.


O tempo passou e meu amigo chegou. Contei para ele dos ingressos, ele se animou e estava tudo combinado. Nós nos encontraríamos na livraria, pegaria meu autógrafo, a gente jantaria e depois iria para o show. Desencontro clássico de brasileiro sem telefone em NYC... esperei muito, mas ele nada de dar as caras, acabei indo só e atrasada para a livraria.
Quando cheguei lá, não só todas os acentos estavam tomados mas atras das cadeira arranjadas para o evento, uma multidão de gente, pois antes dos autógrafos ele iria tocar algumas músicas. Nem nas pontinhas dos pés eu podia ver nada. Fiquei triste, mas resolvi ficar.

Glen Hansard para quem não conhece é um encanto de pessoa... engraçadíssimo. Tocou duas músicas e se sentiu muito incomodado com a multidão atras das cadeira onde eu estava. Na opinião dele tinha muito espaço mais perto do pequeno palco onde as pessoas poderia ver a performance melhor. A contra gosto da segurança do lugar, a faixa que separava as cadeira e as pessoas de pé onde eu estava foi removida. Onde eu fui parar? Sentada no palco com mais meia dúzia de sortudos. E foi assim que eu ouvi ele cantar, tocar e conversar fiado, as um metro e meio de distância do cara.

Saí de lá em estado de graça, tão feliz que nem liguei de ficar na fila para pegar autógrafo. Hora, mas se eu tinha sentado no palco de um ganhador do Oscar de melhor trilha sonora original... eu lá preciso de autógrafo!!!!

Fui jantar só quando meu amigo finalmente me ligou. Estava na casa do amigo que o hospedava, mas o amigo tinha saído sem chave de casa e se ele saísse o amigo ficaria trancado na rua. Dilema, esperei até a última hora o tal do amigo voltar do lado de fora da casa de show, mas nada... Acabei chamando uma amiga minha na última hora, mas por causa da espera, quando nós entramos, acabamos ficando muito longe do palco. Para piorar a situação, nesse show estavam as pessoas mais altas do mundo!!!! Sem brincadeira!!! Nunca vi tanta gente alta no mesmo lugar. Eu pobre coitada, anã em meio aos gigantes, quase choro de tristeza. Minha amiga, que é brasileira e nunca desiste, rodou o lugar todo até encontrar um lugarzinho que de dava para eu mais ou menos ver show.

Como alegria de pobre dura pouco, percebi que um cara que tinha ido comprar cerveja, estava voltando. Pela cara das pessoas na nossa frente, eles eram amigos e o grandalhão ia se enfiar na minha frente. O homem era uma parede de grande mas, para a minha surpresa, ele parou do meu lado. Respirei aliviada!

Entrei total no clima do show. Estava bem cantarolando uma das minha música favoritas quando o grandalhão se encurvou um pouco e se dirigindo a mim disse: “ Ele é muito bom, né?” Minha amiga nos observou de rabo de olho, mas eu só balancei a cabeça que sim, sorri e continuei vidrada no show. Pouco tempo passou quando um dos caras na nossa frente viu o Grandalhão tão afastado deles. Ele perguntou o que ele fazia ali tão para trás e por que não se unia e eles. O grandalhão respondeu apontando para mim e minha amiga: “Não, eu sou muito alto, vou ficar aqui mesmo.”

Antes que pensasse na repercussão, já tinha respondido: “Você é muito fofo!” “Fucking fofo, né?”- respondeu o enorme samaritano. Abri o maior sorriso, primeiro por que achei engraçada a resposta, segundo por que ele tinha sido fofo de não entrar na minha frente e terceiro, por que reconheci um sotaque estranho.
Quem leu meu último texto sabe do poder do sotaque, por isso perguntei: “De onde você é?” E a resposta foi encantadora: “Dublin”. Ah, o bofe é Irlandês!

O único probleminha com o sotaque dele era que eu só entendia 40% do que ele dizia, o resto eu só balançava a cabeça e sorrira. Mesmo com toda a fofura do mundo, quando me virava pro palco e via o Glen Hansard, era como se o mundo só fosse ele, por isso o grandalhão saiu do meu pensamento. Agora, amiga que é amiga chama a gente na besteira, e foi isso que a minha fez. Reparando que tinha largado o bofe de mão, já por um tempo, aproveitou uma brecha pra me alfinetar. Quando comentei, quase que hipnotizada pelo show:

Oh mulher, mas é lindo o Glen, né?”- ela respondeu na hora.
Lindo é esse menino que falou contigo e tu não tá dando a menor bola, tu acha que eu não vi?!”

Ela estava certíssima, o bofe era um espetáculo. Alto, ombrudo, uma barbinha por fazer do jeito que eu gosto...! Fiz o que tinha que ser feito: abri um sorriso que praticamente engolia minhas orelhas e perguntei para ele as coisas básicas: a quanto tempo estava aqui, quanto tempo ia ficar, o que vinha fazer... De todas as respostas que ele me deu, só entendi que ele havia chegado a um mês. Oh povo para falar rápido e enrolado, acho que Irlandês é o piauiense da Europa nesse sentido. Ele perguntou se queria beber algo. Disse que só uma água. Ele buscou um copo de água. Estava sedenta e em dois goles terminei minha água. De repente, ele tirou o copo da minha mão e colocou outro cheio no lugar. Eu agradeci. Se não fosse suficiente, ele passou o resto do tempo tentando achar melhor ângulo para que eu assistisse o show.

Depois de algum tempo de conversa, e quando digo conversa, quero dizer, ele falando rápido e eu fingindo que entendia, alguns amigos Irlandeses chegaram. Não havia reparado direito quando minha amiga me cutucou e falou em bom piauês:

Mermã, que diabo é isso? A gente tá arrudida de homi , se são tudo enormes. De onde que saiu esse tanto de homi grande.”

Eles não eram só grandes, eram todos lindos. “Mermã, acho que a gente morreu e foi pro céu. Não te disse que todo o nosso trabalho duro na terra ia ser recompensado mais cedo ou mais tarde.”- respondi debochada. O grandalhão disse que tinha que ir para o bar do outro lado da rua fazer alguma coisa que fingi que entendi, mas que voltaria em 20 minutos, que esperava me ver quando voltasse. O problema é que o show acabou antes dele voltar. Enquanto nós íamos saindo andando a passos de tartaruga, descobri que minha amiga estava hipnotiza pela beleza de um do altões. Desculpa perfeita para o meu subconsciente, que deixa eu mover mundos e fundos pelas amigas, mas tem o limite de tolerância bem baixo para correr atrás de homem. Então oficialmente, eu comecei a caçar o bofe da minha amiga, mas estava mesmo era atrás do meu.

Nós entramos no bar onde os meninos estavam. Vi o bofe da minha amiga, mas nada no meu. Os altões de repente todos saíram do bar e foram embora. Tinha acabado de comprar duas cervejas que não estava com a menor vontade de beber, só pra ter uma desculpa para ficar no bar... quando a tristeza começou e me corroer, vi pela vasta janela do restaurante o Grandalhão voltando. Entrou no bar como se tivesse uma missão, obviamente ele havia se perdido do resto do grupo. Acenei do bar, mas como não estava na altura do olhar dele, o infeliz passou direto e saiu do bar novamente. Aí que a tristeza bateu mesmo. Pensei comigo que o universo tinha me dado outra chance e eu não pulei na frente do homem com uma melancia na cabeça para ele me ver.

Minha amiga avistou outro menino bonitinho e resolveu olhar para ele para afogar as mágoas. Ela deu uma olhadinha e o gato chegou junto. Achei aquilo muito estranho considerando o comportamento local. O menino abriu a boca: brasileiro! Agora estava explicado! O menino era a criatura mais boba e desinteressante, sorte dele que tinha uma carinha bem aceitável para gente aguentar a bobagens que ele estava falando.

Minha amiga bem conversando com ele quando dei um pulo na minha cadeira. Um por um eu vi os altões passando pela janela do bar em direção a entrada. Foi tudo em câmera lenta, todos ele depois um tempinho sem ninguém passar pela janela e por último: o Grandalhão em toda sua lindeza. Eles foram entrando, até que o bofe apareceu, eu e minha amiga, as duas acenamos, ele olhou sorriu e passou. Eu esbocei ficar triste, mas antes que tivesse tempo, ele parou, fez uma cara de confuso, e voltou. Foi quando reparei que ele não tinha me visto, só minha amiga.

Ele veio falar comigo, eu mencionei que era a segunda vez que ele passava por mim sem perceber que eu existia, ele pediu desculpas explicou o que eu já sabia: que estava perdido dos seus amigos. Alguns dos altões vieram conversar com a gente de depois de alguns minutos, nós percebemos que o brasileiro tinha ido embora e a gente nem reparou. Coitado, o menino era bonito, mas perto daquele harém invertido, ele não pegava nem gripe.

Conversa vai, conversa vem e eu falei para o Grandalhão que havia virado cidadã americana. Ele olhou para me e sem cerimônias disse:

Você quer casar comigo? Eu preciso de um green card, sou capaz de fazer qualquer mulher feliz.”

Não tenho a menor dúvida da capacidade do bofe, mas tive que dizer que estava resolvida a voltar ao Brasil antes do fim do ano. Ele disse que o jeito era aproveitar ao máximo o tempo restante. Eu sorri. Os amigos aglomeraram e de repente a má notícia: “Nós estamos indo, posso pegar seu telefone?” Antes que respondesse ele mesmo continuou: “Não, né? Desculpa, não devia ter pedido!” Agora, eu penso com os meus botões: Um infeliz desse só pode nunca ter visto um espelho na vida! Que mulher no seu juízo perfeito não daria o telefone para um homem lindo e gente boa? Quando ele ia se virando para ir embora, eu comecei a rir e puxei ele pela camisa:

Anota meu telefone seu bobo.”

Ele anotou e tentou me ligar, fiquei olhando para o meu celular, esperando tocar e nem percebi que ele tinha me dado as costas. Foi quando disse:

Meu telefone não está tocando, você tem certeza que colocou o número certo?”

Ele se virou rápido com uma cara de susto tentando desligar o telefone rapidamente quando deixou escapar:

Acabei de pedir um beijo para uma pessoa estranha...”

Awwwww.... que BUNITIM!!!!!! O jeito foi beijar o rapaz. Depois de um beijo espetacular, olhei para ele que continuava por alguns segundos com os olhos fechados:

Uau, que beijo é esse? Me dâ o telefone certo! Que eu preciso te encontrar!”

A gente sabe que a tecnologia foi feita única e exclusivamente para deixar a gente na mão quando a gente mais precisa. Eu tentava ligar para ele e o telefone dele nada, ele tentava ligar para mim e meu telefone nada. Já era quatro horas da manhã e isso estava dando nos meus nervos. Ele pegou meu celular. Anotou o número dele e o do amigo, caso o dele não funcionasse. Você liga para quem precisar, mas me ache!

Entrei no táxi suspirando e digerindo as orelhas que a muito tempo tinham sido engolidas pelo sorriso incontrolável que havia invadido meu rosto. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para os dois números de telefone que ele havia anotado:

Olá Grandalhão, aqui é a Laura. Beijos ;)”

Continua...