terça-feira, fevereiro 26, 2013

Cara-de-pau ao quadrado!


Claro que rolaram umas briguinhas aqui e ali, mas a melhor parte de namorar o Grandalhão era perceber o quanto era fácil de resolver as nossas dificuldades juntos. A pior, era pensar que estava praticamente de malas prontas para voltar para o Brasil! Tinha falado pra ele que ia embora no dia em que nos conhecemos, por tanto isso sempre foi uma sombra sobre o nosso relacionamento que havia nascido já com data de validade.

O que deveria ser um problema, acabou nos unindo. Estranho como quando não temos expectativas a serem alcançadas nós nos libertamos. Entrar em um relacionamento sem expectativas é pedir demais de qualquer pessoa normal. Quando conhecemos alguém, nós automaticamente projetamos nossos desejos e sonhos nesse pobre coitado. O pior é que infelizmente é algo que fazemos inconscientemente. No meu caso, o que me salvou dessa armadilha foi justamente o fato de o futuro não ser uma possibilidade para nós dois.

Pode parecer deprimente, mas resolvemos aproveitar o tempo que tínhamos em vez de ser preocupar com a separação eminente. Foi assim até a hora da tal “eminência” chegar perto. Nós já estávamos tão envolvidos que a separação havia se tornado uma inviabilidade.

Quando o Grandalhão teve que renovar o seu visto, fui quanto me deparei com um drama que a alguns anos tinha sido meu. Ao renovar seu visto, o moço seria autorizado a ficar no país, mas se precisasse deixar a América por algum motivo, não voltaria. Me lembrei de quando cheguei. Minha avó estava muito doente e eu temia diariamente ter que escolher entre estar com minha família em um momento importante e nunca mais poder voltar aos EUA. O Grandalhão que não sentia a pressão óbvia de ter um parente doente, não percebeu a encruzilhada, mas eu mal pude deixar de lado o fantasma de sete anos atrás. Depois de muito ouvir as idas e vindas com sua advogada minha ansciedade foi se acentuando até que um dia explodiu:

“Amor, na vida encontramos problemas que nós não podemos evitar. Esse seu problema não é um deles!”- disse segura de mim mesma.

“Como assim?”- indagou meu amado.

“Eu vou casar com você, a gente resolve esse problema, assim nós nos concentramos nos outros tipos de problemas”- respondi.

Ainda estava de viagem marcada, mas na minha cabeça, mesmo voltando para o Brasil, eu preferia deixar o Grandalhão em uma situação legal favorável. Mesmo que não fosse para ficarmos juntos, queria que ele ficasse bem, e foi o que eu disse para ele.

Comovido com o gesto, ele agradeceu e disse que renovaria o visto por 3 meses o que nos daria tempo de discutir melhor o casamento. Algumas semanas se passaram. Andava em uma lojas de departamentos procurando vestidos para minha mãe comparecer ao casamento de minha prima quando meu telefone tocou.

“Queria falar com você sobre o casamento!”

Ele repetiu várias vezes o quanto era grato. Expliquei que ele teria que ficar casado comigo por pelo menso dois anos antes de poder se separar. Uma expressão de confusão tremulou sua voz.

“Se separar? Por que eu iria me separar?”

Explicou que se casaria comigo no civil para que a papelada se adiantasse, mas que assim que nos fosse conviniente que faríamos duas festas de casamento: uma no Brasil e uma na Irlanda. Completou dizendo que só se casaria comigo se fosse de verdade. Ele sabia que era muito precipitado, mas que tinha certeza de estar tomando a decisão certa.

A idéia era ridícula! Nós estavamos juntos a quatro meses. Muitos de meus amigo de NYC não haviam ainda nem conhecido o Grandalhão, mas por mais que tentasse ponderar, não consegui achar dentro de mim um motivo para não seguir a diante. E foi assim, conversando com ele no telefone no dia em que o furacão Sandy atingiria Nova Iorque, que fiquei noiva. Quando minhas amigas no Brasil me perguntaram como fiquei noiva, a resposta é a menos romántica possível: "Eu falei pra ele que ia casar com ele!" Cara-de-pau essa Laurinha!

 Havia acabado de falar com minha mãe por umas 5 horas quanto tive essa conversa com meu bofe. Resolvi espera até o outro dia para ligar e avisa minha família da minha decisão. Já era bem tarde quando o Noivo me mandou uma mensagem perguntando se podia colocar no Facebook que a gente estava noivo. Concluí que meus pais estariam dormindo e disse sim. Meu plano era acordar e ligar para os dois de manhã cedo contando a novidade. Claro que não foi isso que aconteceu...

Meu pai, que estava preocupado com a chegada do furacão Sandy a NYC, pediu ao meu irmão que averiguasse se eu estava bem. Meu irmão entrou direto no Facebook e, para minha complicação, viu a mudança de meu relacionamento:

“Ei pai, ela deve tá bem, tá aqui dizendo que ela acabou de ficar noiva!”

O pobre do meu pai não entendeu nada, seguido por minha mãe que também não tinha conseguido dormir pensando no tal furacão. Meu telefone começou a tocar, era ela. O problema era que há essas alturas, o furacão já estava assanhando os cabelos da gente por aqui e o sinal de celular estava uma porcaria. O jeito foi acalmar a pobre pelo Facebook. Minha sorte era que na longa conversa que nós tivemos no mesmo dia ela, não muito discretamente, insinuou várias vezes que ela queria um neto:

Mãe: “NOIVA!!!!!”

Eu: “Você fica aí me pedindo um neto, o jeito foi eu arrumar um noivo :).”

Laurinha, cara-de-pau ao quadrado!

Um comentário:

Anônimo disse...

Laurinha, digno de filme!