segunda-feira, agosto 12, 2013

Abaixo as expectativas!


Cheguei no trabalho hoje incapaz de me concentrar. Depois de uma semana turbulenta no meu casamento (nada fora do comum) e uma longa conversa com uma amiga vivendo em uma situação de limbo amoroso e profissional, meu cérebro não conseguia computar outra coisa além do conceito de expectativa.

Lembrei de uma entrevista que vi em um documentário com Dalai Lama. O repórter lhe disse que em suas vastas viagem pelo mundo, os lugares mais pobres eram onde as pessoas aparentavam ser mais felizes. Ele perguntou ao líder espiritual o qual achava ser o motivo e tal fenômeno. Dalai Lama sorriu muito simpático e respondeu que era a expectativa. Essas pessoas pobres e felizes não tinham grandes ambições, tinha o suficiente para viver e clareza para apreciar o que tinham. Pessoas com grandes expectativas vivem sempre no futuro, passam desapercebidos pelo presente e vivem constantemente com o sentimento de frustração.


Esse conceito de desapego é o inferno para mim, sempre sonhei alto, fiz e aconteci, tive ambição, por isso esse desapego com o futuro sempre me pareceu marasmo e conformismo. Acontece, que quanto mais perto a gente chega dos sonhos e das realizações, nós (pelo menos eu!) vemos as realizações sendo substituídas por outras ambições e um círculo vicioso onde nos encontramos destinados a desejar e se frustrar!

Esse conceito fica nebuloso na nossa vida profissional, por que em teoria, na vida profissional, existe sempre um degrau a cima, por isso a ambição tem o seu lugar de uma certa forma, mas quando transportamos ele para nossa vida pessoal, tudo fica claro como cristal!

As mulheres da minha geração foram criadas para terem tudo: carreira, família, amor. Nós esperamos isso da vida! Independência financeira, carreiras estimulantes, um grande amor, os frutos de um grande amor... Pouco sabemos nós que o dia só tem 24 horas, que eficiência tem limite e que as vezes uma coisa pode entrar no caminho da outra e nos deixar em uma encruzilhada onde decisões nada agradáveis tem que ser feitas. O pior é  saber que não existem garantias de qual seja a escolha certa.

Digo sempre para o meu marido que cresci achando que era destinada a grandes atos. Meus infantis sonhos de filantropia tropeçaram na minha incapacidade de ficar podre de rica, pelo menos até agora.

Minha mãe me disse que quando era criança, durante uma conversa com uma prima, ela observou o seguinte diálogo:

“Quando crescer, vou fazer filmes e vou morar em Nova Iorque”- Laurinha.

Minha mãe para a minha priminha:

“E você meu bem? O que vai ser quando crescer!?”

“Vou ser advogada e ganhar bastante dinheiro para visitar a Laurinha em Nova Iorque!”

Minha prima é procuradora do estado de Mina Gerais e já veio me visitar duas vezes em Nova Iorque. Prova de que a tal ambição quando direcionada pode nos levar onde desejamos ir, mas nós nunca vamos saber a real extensão do que foi perdido durante esse caminho... as pessoas que foram deixadas para trás, os amores que não tiveram chance contra o sonho de trabalhar em uma indústria tão específica quanto a minha.

No meu primeiro casamento, quando a ansiedade me consumiu até a raiz destruindo qualquer possibilidade de felicidade amorosa, esses conceitos de desapego me pareciam deliciosos! O problema é a diferença entre o entendimento racional e a capacidade de utilização pratica!

No meu segundo casamento, recebi uma aula prática, quase uma demonstração, como se o mundo dissesse: “Aqui Laura, a gente vai explicar para você como se você fosse uma criança de dois anos...”

Quando conheci meu segundo marido (hahahha... muito engraçado, me sinto a Elizabeth Taylor... “meu segundo marido”... ai, ai...), estava de malas prontas para voltar para o Brasil e ele, havia acabado de chegar da Irlanda. Nosso relacionamento começou com data para terminar. Isso que para muito pode ser motivo para chorosas noites em claro, para mim significou ausência de expectativa! Não queria que aquele rapaz que havia acabado de conhecer fosse nada, simplesmente permitindo que o pobre fosse ele mesmo! Os efeito funcionou comigo mesma. Sem pressão, fui capaz de relaxar, aproveitar o momento e me sentir o mais próxima que já me senti de mim mesma.

O que esse cenário me proporcionou  foi nada mais que a ausência de expectativa, por consequência anulando o medo de uma futura  frustração e a insegurança causada pelo mesmo. Insegurança é um dos maiores fatores alteradores de personalidade que eu já pude perceber. A insegurança destrói a base de nossa identidade, nos fazendo duvidar de coisas bem mais profundas do que o peso na balança ou as ruga que não estava ali na semana passada. O que começa na vida amorosa se espalha para a vida profissional e vice versa. Por que o problema não se encontra ali pelas periferias de nosso subconsciente e sim nas raízes mais profundas da nossa relação com nossa própria identidade. Quando conseguimos tomar conta, estamos duvidando todas a nossas capacidades e funções nesse mundo!


No meu primeiro casamento (lá vem de novo!), quanto mais o relacionamento piorava, mas eu tentava mudar, busca uma outra pessoa ou personalidade que talvez pudesse ser mais amada do que eu era naquele momento. Me afastei tanto de mim mesma, que tanto me separei e parei para me olhar no espelho, não me reconheci!

Então como lidar com esses monstros???? A expectativa que nos impregna, nos cegando a todas as qualidades dos nossos parceiros , por  estávamos muito preocupados com tudo o que eles não são! A insegurança que deforma nossa personalidade em busca de amor e aprovação constante?


A resposta é outra daquelas coisas que a gente aprende racionalmente, mas que sabe-se lá quando vamos conseguir (se é que algum dia conseguiremos) aplicar no nosso dia a dia. Aceitação. Aceitar quem somos primeiramente, imperfeitos e constantemente em mutação. Aceitar quem está ao nosso redor, aceitar o amor que eles nos tem para dar e não o que nos queremos receber, por que boas surpresa podem surgir.

Meu marido só pode me amar do jeito que ele sabe me amar. Nem uma outra forma de amor é possível! Da mesma forma que eu só posso ama-lo como eu amo. O negocio é esquecer o que desejamos para que possamos usufruir do que possuímos! O desejo cega!

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