Cheguei no trabalho
hoje incapaz de me concentrar. Depois de uma semana turbulenta no meu casamento
(nada fora do comum) e uma longa conversa com uma amiga vivendo em uma situação
de limbo amoroso e profissional, meu cérebro não conseguia computar outra coisa
além do conceito de expectativa.
Lembrei de
uma entrevista que vi em um documentário com Dalai Lama. O repórter lhe disse
que em suas vastas viagem pelo mundo, os lugares mais pobres eram onde as
pessoas aparentavam ser mais felizes. Ele perguntou ao líder espiritual o qual
achava ser o motivo e tal fenômeno. Dalai Lama sorriu muito simpático e
respondeu que era a expectativa. Essas pessoas pobres e felizes não tinham
grandes ambições, tinha o suficiente para viver e clareza para apreciar o que
tinham. Pessoas com grandes expectativas vivem sempre no futuro, passam
desapercebidos pelo presente e vivem constantemente com o sentimento de
frustração.
Esse conceito
de desapego é o inferno para mim, sempre sonhei alto, fiz e aconteci, tive
ambição, por isso esse desapego com o futuro sempre me pareceu marasmo e
conformismo. Acontece, que quanto mais perto a gente chega dos sonhos e das
realizações, nós (pelo menos eu!) vemos as realizações sendo substituídas por
outras ambições e um círculo vicioso onde nos encontramos destinados a desejar
e se frustrar!
Esse conceito
fica nebuloso na nossa vida profissional, por que em teoria, na vida
profissional, existe sempre um degrau a cima, por isso a ambição tem o seu
lugar de uma certa forma, mas quando transportamos ele para nossa vida pessoal,
tudo fica claro como cristal!
As mulheres
da minha geração foram criadas para terem tudo: carreira, família, amor. Nós
esperamos isso da vida! Independência financeira, carreiras estimulantes, um
grande amor, os frutos de um grande amor... Pouco sabemos nós que o dia só tem
24 horas, que eficiência tem limite e que as vezes uma coisa pode entrar no
caminho da outra e nos deixar em uma encruzilhada onde decisões nada agradáveis
tem que ser feitas. O pior é saber que não
existem garantias de qual seja a escolha certa.
Digo sempre
para o meu marido que cresci achando que era destinada a grandes atos. Meus
infantis sonhos de filantropia tropeçaram na minha incapacidade de ficar podre
de rica, pelo menos até agora.
Minha mãe me
disse que quando era criança, durante uma conversa com uma prima, ela observou
o seguinte diálogo:
“Quando
crescer, vou fazer filmes e vou morar em Nova Iorque”- Laurinha.
Minha mãe
para a minha priminha:
“E você meu
bem? O que vai ser quando crescer!?”
“Vou ser
advogada e ganhar bastante dinheiro para visitar a Laurinha em Nova Iorque!”
Minha prima é
procuradora do estado de Mina Gerais e já veio me visitar duas vezes em Nova
Iorque. Prova de que a tal ambição quando direcionada pode nos levar onde desejamos
ir, mas nós nunca vamos saber a real extensão do que foi perdido durante esse
caminho... as pessoas que foram deixadas para trás, os amores que não tiveram
chance contra o sonho de trabalhar em uma indústria tão específica quanto a
minha.
No meu primeiro
casamento, quando a ansiedade me consumiu até a raiz destruindo qualquer
possibilidade de felicidade amorosa, esses conceitos de desapego me pareciam
deliciosos! O problema é a diferença entre o entendimento racional e a
capacidade de utilização pratica!
No meu
segundo casamento, recebi uma aula prática, quase uma demonstração, como se o
mundo dissesse: “Aqui Laura, a gente vai explicar para você como se você fosse
uma criança de dois anos...”
Quando
conheci meu segundo marido (hahahha... muito engraçado, me sinto a Elizabeth
Taylor... “meu segundo marido”... ai, ai...), estava de malas prontas para
voltar para o Brasil e ele, havia acabado de chegar da Irlanda. Nosso
relacionamento começou com data para terminar. Isso que para muito pode ser motivo
para chorosas noites em claro, para mim significou ausência de expectativa! Não
queria que aquele rapaz que havia acabado de conhecer fosse nada, simplesmente
permitindo que o pobre fosse ele mesmo! Os efeito funcionou comigo mesma. Sem
pressão, fui capaz de relaxar, aproveitar o momento e me sentir o mais próxima
que já me senti de mim mesma.
O que esse
cenário me proporcionou foi nada mais
que a ausência de expectativa, por consequência anulando o medo de uma
futura frustração e a insegurança causada
pelo mesmo. Insegurança é um dos maiores fatores alteradores de personalidade
que eu já pude perceber. A insegurança destrói a base de nossa identidade, nos
fazendo duvidar de coisas bem mais profundas do que o peso na balança ou as
ruga que não estava ali na semana passada. O que começa na vida amorosa se
espalha para a vida profissional e vice versa. Por que o problema não se
encontra ali pelas periferias de nosso subconsciente e sim nas raízes mais
profundas da nossa relação com nossa própria identidade. Quando conseguimos
tomar conta, estamos duvidando todas a nossas capacidades e funções nesse
mundo!
No meu
primeiro casamento (lá vem de novo!), quanto mais o relacionamento piorava, mas
eu tentava mudar, busca uma outra pessoa ou personalidade que talvez pudesse
ser mais amada do que eu era naquele momento. Me afastei tanto de mim mesma,
que tanto me separei e parei para me olhar no espelho, não me reconheci!
Então como
lidar com esses monstros???? A expectativa que nos impregna, nos cegando a
todas as qualidades dos nossos parceiros , por
estávamos muito preocupados com tudo o que eles não são! A insegurança
que deforma nossa personalidade em busca de amor e aprovação constante?
A resposta é
outra daquelas coisas que a gente aprende racionalmente, mas que sabe-se lá
quando vamos conseguir (se é que algum dia conseguiremos) aplicar no nosso dia
a dia. Aceitação. Aceitar quem somos primeiramente, imperfeitos e
constantemente em mutação. Aceitar quem está ao nosso redor, aceitar o amor que
eles nos tem para dar e não o que nos queremos receber, por que boas surpresa
podem surgir.
Meu marido só
pode me amar do jeito que ele sabe me amar. Nem uma outra forma de amor é
possível! Da mesma forma que eu só posso ama-lo como eu amo. O negocio é
esquecer o que desejamos para que possamos usufruir do que possuímos! O desejo
cega!
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