Tudo começou muito descompromissadamente. Nós
iriamos ou City Hall, eu compraria um vestido e um anel em um brechó só para
tirar umas fotinhas para a posteridade, mas assim que contei para as amigas que
ia me casar...
“Você vai usar um vestido?”
“Eu posso ir?”
“Eu posso levar flores?”
“A gente pode ir almoçar depois?”
Antes que percebesse, meu casamento tinha
virado uma festa! O único problema era que a data marcada era em 2 semanas.
Depois de arrumar um Marido em 13 horas, agora
era hora de organizar um casamento em 14 dias. Quem me conhece sabe que para mim,
14 dias é tempo suficiente pra construir
um foguete e ir e voltar 2 vezes a lua. O problema era arrumar o tal do
casamento numa NYC toda estropiada por furacão, trabalhando 10 horas por dia, 5
vezes por semana e sem gastar dinheiro! Como sempre a solução foi a mesma: vou
fazer tudo eu mesma!
Lá sai a louca no meio de NYC caminhando a pé
por que os metros ainda não estavam funcionando depois das estações de baixa
Manhattan terem sido inundadas pelo furacão. Caminhei da rua 73 até a 33 onde
encontrei uma amiga que perambulava a deriva pela cidade esperando a hora de
encontrar com seu amado. Ela me acompanhou até Mood Fabrics. Quando a gente
entra nas grandes lojas de tecido de NYC a gente fica tão encantada com a
quantidade de tecido, que nunca imagina entrar no lugar e não achar o que
precisamos, mas é claro que isso aconteceu comigo.
O único tecido que na loja inteira que gostei
era uma seda. A seda mais lida com a cor perfeita e um caimento de deusa... O
problema era que só tinha um metro e meio da bendita seda e por mais que eu
fosse econômica, eu ainda não era milagreira. Minha amiga me perguntou:
“E aí!? Vai levar a que você gosta, ou a seda
que você pode comprar no tamanho suficiente?”
“Meu pai sempre diz que mais vale um gosto do
que uma carrada de abóboras! Eu dou um jeito, mas eu caso com essa bendita
seda!”- comprei a diaba e voltei andando para casa reclamando a falta de
transporte público!
O tecido era tão delicado que se você olhasse
para ele torto ele já puxava um fio, por isso resolvi costurar uma saia a mão!
Tudo bem... ia ter uma saia, mas e o resto? Convoquei todas as meninas que
moravam comigo:
“Preciso que vocês despenquem do guarda roupa
de vocês tudo que vocês tem em branco ou tons neutros!”
Uma pilha de blusas, saias e vestidos se formou
na minha frente sem com que minhas amigas entendessem nada comecei a examinar
as peças. Achei um vestido curtíssimo, altamente periguete, mas com um tecido
bonito. Coloquei o vestido sob os olharem curiosos de minhas amigas e comecei a
repuxa-lo para todos os lados. Prendia uma parte um cinto, outra com um broche,
outras com alfinetes e acabei fazendo uma blusa drapiada do vestido. Peguei a seda embolei sob a blusa e
prendi com um alfinete. Me olhei no espelho e me virei para as minhas amigas:
“E ai?”
Elas me olhavam meio abobadas principalmente a
dona do vestido.
“Como diabos vocês fez isso?”
Eu ainda não tinha feito, mas ia fazer! Passei
as noite e as manhas costurando a saia pacientemente a mão com a agulha mais
fininha de todas, com fé de que terminaria a tempo.
O vestido, todo mundo esperava que eu
conseguisse fazer, inclusive eu! O problema era o resto! Decoração, bebida,
comida, organização... Resolvi casar no Central Park e fazer a festa na varanda
da minha casa, tudo muito prático, um vez que meu apartamento ficava a um
quarteirão de lá!
Fui passear no Central Park assim que ele foi
reaberto depois do Sandy. Várias árvores haviam caído, muitas que tinham sido
comprometidas estavam sendo cortadas, mas aquele parque é o parque,
principalmente no Outono! Por isso não ouve furação que os despenteasse o
suficiente! Andamos procurando o lugar ideal, mas na hora de resolver, o
coração bateu mais forte e escolhi um gramado a frente do lado onde havia
levado o Grandalhão para fazer o seu primeiro pic-nic.
Logo depois de escolher o Parque como local, o
noivo começou e a se preocupar. O clima instável do início de Novembro não era dos
mais confiáveis para um casamento ou ar livre. Para reforçar essa preocupação,
no fim de semana após o furação, NYC foi atingida por uma nevasca!
“Qual é o plano B?”- ele me perguntou.
“Não tem plano B! Agente vai casar no parque e
a festa vai ser na varanda!”
“E se chover?”
“Não vai chover!”
“E se nevar?!”
“Ia ser lindo, mas também não vai nevar! Vai
ser um dia lindo, você vai ver! Eu não preciso de plano B!”
Nem ele nem ninguém com um pingo de juízo
acreditavam que depois de um furação e uma nevasca, o tempo ira milagrosamente
melhorar, só eu! Continuei arrumando a decoração, encomendando as bebidas e
desenvolvendo o cardápio, sem pensar no tempo.
Alguns dias antes da data marcada, iniciei a
parte mais difícil: Cozinhar para 30 pessoas! Sempre cozinho para muita gente,
mas havia prometido ao Grandalhão que no dia do casamento não cozinharia:
Menti!
Na noite anterior não fui dormir até as 3 horas
da manhã. As últimas coisas que ficaram para a manhã seguinte foram quibe veganos,
que foram assados enquanto fui no supermercado comprar flores. Na manhã do
casamento acordei as 7 da manhã depois de 4 horas mal dormidas enfiei os
quitutes no forno com o fogo baixo e fui
resolver o resto das coisas.
Quase desloquei o ombro carregando uma
quantidade sobre humana de flores na rua. Todo mundo me parava e perguntava:
“Nossa para que tantas flores?”
“Eu vou casar hoje.”
“Hoje? E você que anda carregando as flores?”
“Pois é o casamento é daqui a 3 horas, tenho
que correr!”
“Parabéns!”
“Obrigada!”
Tive essa conversa 3 vezes no caminho de casa.
Quase cai escada a baixo subindo os 4 andares até chegar no meu apartamento
encharcada de suor! Tirei o quibe do forno antes que o noivo chegasse e
brigasse comigo por estar cozinhando no dia do casamento. Escolhi as flores
para o boque, peguei um retalho que havia sobrado da saia e coloquei o dito
cujo de lado. Arrumei os vasos e foi tempo suficiente para que minhas amigas e
o Grandalhão chegasse com meu cunhado.
O noivo olhou para o meu quarto que estava de
pernas para o ar com pedaços de panos flores e todo o tipo de parafernália
espalha por todos os lados! Se sentou na cama e soltou um grito! Se levantou e
quando eu vi tinha uma tesourinha pendurada na bunda do pobre coitado!
“Au!!! Onde já se viu deixa tesoura na cama!”
Pedi desculpas, desinfetei o machucado e fui
atrás de um band aid.
“Só tem Band aid do Snoopy, tem problema?”
Ele riu e foi se arrumar para se casar comigo
com a bunda remendada com um band aid do Snoopy!
O Grandalhão e o irmão foram para o terraço com
uma lista de instruções de como terminar a decoração da varanda, uma amiga
recebeu uma lista de como arrumar as comidas e outra de como se encontrar com
os convidados no local marcado e leva-los para o local da cerimônia. A última
amiga a receber função foi a que me casaria. Entreguei o texto que ela leria na
cerimônia, que tinha escrito naquela semana cheia. Depois de distribuir mil
funções, olhei para o relógio!
“Droga! O casamento é em uma hora, não vai dar
tempo de fazer minhas unhas!”
Fui tomar banho, escovei os cabelos, fiz o
penteado, a maquiagem e achei uma luvinha branca que cobrisse as minhas unhas
de pedreiro e coloquei o vestido.
“Droga! A saia está caindo!”
Um clássico! Havia trabalhado tanto no
casamento que emagreci demais e a saia não cabia mais. Peguei uns 3 alfinetes
apertei e fui embora!
Encontrei como meu amigo que me levaria até o
Grandalhão uma vez que meu pai não estava presente e acompanhada peal fotógrafa
fomos até a Central Park West Avenue. Todo mundo achando que eu ia me casar com
meu amigo, nos parava e nos dava os parabéns. Eu ria, agradecia e continuava
andando, algumas meninas japonesas pediram para tirar foto comigo, mas quando
realmente comecei a andar dentro do parque, fiquei nervosa.
Era o dia mais bonito de qualquer Outono em
Nova Iorque. Era como se a primavera tivesse de repente visitado o Outono,
trazendo um dia morno e ensolarado em meio ao colorido das árvores caducifólias
da estação. Meu amigo não cansava de repetir, quanta sorte eu tinha de ter um
tempo tão perfeito no meio de Novembro um mês geralmente, frio, cinzento e
chuvoso!
“Sabia que não precisava de plano B!”- respondi
sorrindo!
Meu amigo me levou ao local onde o Grandalhão
esperava nervosamente por mim. Seu amigo, vocalista de uma banda de rock,
tocava no violão e cantava a meu pedido All
day and all of the night dos The
Kinks, mas o nervosismo impediu que percebesse que andava depressa demais e
o pobre coitado só teve tempo de cantar:
“Girl, I want to be with you
all of the T...”
Como o tempo era de primavera, a natureza fez
questão de nos lembrar que era Outono e quando minha amiga que realizava a
cerimônia começou a falar uma folha enorme caiu bem no meio da cara dela,
desconcertando a garota e levando os convidados as gargalhadas. E em uma
cerimônia de pouco mais de 5 minutos, eu e o Gradalhão fomos pronunciados
marido e mulher!
Voltamos para casa onde bebemos, lamentamos os
ausentes, ligamos paras pais, cortamos bolo, comemos minha comida (100%
vegana!), quase destruímos a casa e por fim tivemos que enxotar os amigos
Irlandeses do Gradalhão que poderiam ter ficado na varando bebendo por 3 dias
seguidos se não fossem interrompidos!
Fui dormir exausta! Como se tivesse corrido uma
maratona, mas aí um enorme sorriso me disse por meio a uma barba ruiva:
“Good job! That was a great wedding!”
“É, fui um casamento ótimo!”- resolvi
orgulhosa!
Eu e o Grandalhão nos casamos em 14 dias. Meu
boque custou $9, meu vestido $30 e a festa toda $1,000.00, para o desespero dos
organizadores profissionais de casamento ;)
Para que fosse perfeito, só faltaram os amigos
e os familiares do Brasil e da Irlanda!
Link do vídeo colagem de fotos do casamento no meu Facebook:
https://www.facebook.com/photo.php?v=10152272685190570&set=vb.117319914963594&type=2&theater
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