segunda-feira, outubro 18, 2010

Por uma vida menos ordinária.















Desde o princípio dos tempos, a humanidade tem dificuldade em aceitar o caráter efêmero da nossa própria existência. A fragilidade da vida humana é extremamente paradoxal comparada à extrema quantidade de energia que empenhamos com a mesma. Procuramos razões mais elevadas, outras vidas, significados ocultos, deuses...tentamos nos comunicar com o sobrenatural por ritos desde o surgimento da humanidade. Eu mesma nunca entendi para que diabos procurar motivo para a existência. Para mim, a vida por si só se justifica. Chamem de milagre se quiserem, mas esse mundo que me rodeia e que muitas pessoas não acham suficiente, para mim é motivo de sobra para eu estar aqui!



Alguns meses atrás fiquei viciada em um programa de TV do Science Channel chamado “Through the wormhole.” O programa produzido por Morgan Freeman aborda temas como A origem da vida, Os buracos negros, Viajem no tempo, A anti-matéria entre outros; tudo isso usando um formato que torna mais acessíveis para não cientistas assuntos como o da teoria da relatividade. Depois de assistir a toda a temporada é impossível olhar a vida e tudo em nossa volta da mesma maneira. Tempo, espaço, a misteriosa energia que mantém as menores unidades da matéria unidas... parece clichê, mas a vida e o mundo ao nosso redor é absolutamente fascinante.




Agora se tudo ao nosso redor é assim tão fascinante, por que nós sempre sentimos a necessidade de nos distanciarmos da realidade. Tenho um sonho recorrente, de tempos em tempos ele se repete em diferente lugares, com pessoas diversas, mas a situação é a mesma: Levo um tiro no lugar de outra pessoa, espero horas por assistência médica, que nunca chega, finalmente, já inconsciente, começo a flutuar no ar e uma luz maravilhosamente brilhante irradia do meu corpo, quase como uma das imagens que a gente ver decorando as paredes das igrejas católicas. Tenho o mesmo sonho desde adolescente, por isso já tive muito tempo na minha vida para pensar no significado dessa imagem. A conclusão é simples: o desejo por uma vida menos ordinária.



Todos nós adoramos pensar que no fundo, no fundo, nós temos algum tipo de super-poder, ou uma habilidade especial que está escondida para um dia ser revelada diante de extrema adversidade. Esse desejo é o responsável pela criação de infinitos personagens fantásticos. Entre criaturas sobrenaturais, super-heróis e mutantes, sonhamos acordados com as possibilidades de vida proporcionadas por super-poderes. Quem nunca ouviu essa pergunta? “Qual tipo de de super-poder você escolheria?”



Já ouviu falar que em terra de cego, quem tem olho é rei? Pois é! Não importa qual super-poder você escolheria, o que importa é que você seja capaz de fazer algo que ninguém mais é capaz de fazer. Se todo mundo voasse, voar não seria interessante. Se todo mundo fosse super-forte, nós não passaríamos de formigas, que carregam várias vezes o peso do seu próprio corpo. A vantagem é ser diferente!



O ser humano, como um ser social, geralmente tem necessidade de ser aceito em uma comunidade. Nós vestimos as mesma roupas, ouvimos as mesmas músicas, falamos a mesma língua e assim, formamos tribos, vilas, cidades, estados, países... Aqui é onde a natureza do desejo humano se confunde, na necessidade de ser aceito em comunidade, paradoxalmente alinhado ao sonho de se destacar.



Agora, ser diferente tem seus dois lados. A diferença, às vezes, pode ser o motivo de estranheza, por isso, esse tipo de coisa funciona mesmo é na ficção. No cinema ou na literatura, isolamento social é romântico, na vida real, brutal. Quando era adolescente uma onda de vampiros se alastrou pelo mundo. Duas produções do cinema internacional foram responsáveis por isso: Drácula (1992) e Entrevista com Vampiro(1994). Os dois filmes exploraram a sedução da imortalidade, a fragilidade do isolamento social contando com elaborada direção de arte, sendo os dois filmes de época.



Pouco tempo depois, tudo que tivesse relação com vampiros, virou bobagem. Literatura, filmes, tv, se alguém mostrasse as presas, virava chacota. Em 2008, uma nova geração de adolescentes se apaixonou por vampiros novamente com o lançamento de Twilight. Eu, entre várias pessoas, me recusei a assistir os filmes, até o dia em que a curiosidade bateu mais forte. Durante 2 anos ouvi pessoas me dizendo que eu parecia demais com a garota de Twilight; alguns amigos tiravam onda e me chamavam de Bela, nome da personagem de Kristen Stwart. Foi o jeito assistir o filme. Twilight nem de longe se compara aos clássicos vampirescos dos anos noventa, mas quem pode discutir com o fenômeno que literalmente tomou conta do mundo inteiro.



Seguindo o sucesso de Twilight, e a repentina simpatia pelas criaturas das trevas, a HBO aproveitou para adaptar uma série chamada Sokie Stackhouse. O programa, chamado True Blood, tem como tema central os vampiros, mas não se restringe a eles. Lobsomens, metaformos, fadas e até deuses de culturas antigas se misturam no viciante programa de TV que, nos primeiros epsódios, parece não passar de filme pornô com vampiros.



Na época da invasão sobrenatural, de repente entrei na moda. Minha branqueleza, minhas olheiras fundas, meu cabelo preto... estou na moda! As brincadeiras não param por aí. Eu tenho pressão bem baixinha! Os médicos adoram, acham super-saudável e normal para mulheres na minha idade, indício de poucas chances para doenças cardiovasculares! Acontece que além de tontura, a pressão baixa faz com que esteja sempre gelada. Lembro de brincar falando para o meu namorado de adolescência que eu era uma animal pecilotermo, não um homeotermo, por ter sempre mãos e pés frios. Se já não bastasse ser pálida, gelada, ter olheira e cabelo escuro, todas as vezes que alguém tira uma foto de um grupo grande de pessoas, sou a única que sai de olho vermelho: SEMPRE! Ah não vamos esquecer do que a exposição mínima ao sol é capaz de fazer comigo!



Então pronto, meus amigos concluíram que não há outra explicação: tenho que ser vampira! Nunca desmenti ninguém, as vezes me sinto realmente um bicho estranho, mas dos anos noventa para cá, me tornei um bicho estranho bem mais sociável. A última vez que sonhei que levitava inconsciente depois de atingida por uma bala, acordei rindo pensando numa imagem de nossa senhora, misturada com a de um vampiro.



Por mais que me divirta com minhas semelhanças com os sombrios vampiros, sempre achei que se tivesse que escolher um super-poder, ou uma habilidade extraordinária, nada teria haver com a imortalidade das criaturas das trevas, ou a super-força dos heróis de quadrinho. Gostaria de ter o poder de ver o mundo de outra forma, ampliada, dissecada. De sentir o mundo de forma intensificada. De ser capaz não apenas de sentir o vento soprando em meus cabelos, mas de enxergar o ar, entender o conceito de espaço relativo visualmente, transitar entre diferentes dimensões, visualizar o som se propagando em ondas pelo ar. Queria poder ver a multiplicação de microorganismos, acelerar e desacelerar o tempo para melhor entender o mundo. Acho que esse seria o melhor dos super-poderes: a extraordinária habilidade de perceber as nuances em tudo que está sempre a nossa volta. Por que a vida em si é espetacular, ordinários somos nós, que nos distanciamos cada vez mais dela!

Um comentário:

Anônimo disse...

Queremos atualizações!! rsrs
Beijinhos