segunda-feira, outubro 18, 2010

Por uma vida menos ordinária.















Desde o princípio dos tempos, a humanidade tem dificuldade em aceitar o caráter efêmero da nossa própria existência. A fragilidade da vida humana é extremamente paradoxal comparada à extrema quantidade de energia que empenhamos com a mesma. Procuramos razões mais elevadas, outras vidas, significados ocultos, deuses...tentamos nos comunicar com o sobrenatural por ritos desde o surgimento da humanidade. Eu mesma nunca entendi para que diabos procurar motivo para a existência. Para mim, a vida por si só se justifica. Chamem de milagre se quiserem, mas esse mundo que me rodeia e que muitas pessoas não acham suficiente, para mim é motivo de sobra para eu estar aqui!



Alguns meses atrás fiquei viciada em um programa de TV do Science Channel chamado “Through the wormhole.” O programa produzido por Morgan Freeman aborda temas como A origem da vida, Os buracos negros, Viajem no tempo, A anti-matéria entre outros; tudo isso usando um formato que torna mais acessíveis para não cientistas assuntos como o da teoria da relatividade. Depois de assistir a toda a temporada é impossível olhar a vida e tudo em nossa volta da mesma maneira. Tempo, espaço, a misteriosa energia que mantém as menores unidades da matéria unidas... parece clichê, mas a vida e o mundo ao nosso redor é absolutamente fascinante.




Agora se tudo ao nosso redor é assim tão fascinante, por que nós sempre sentimos a necessidade de nos distanciarmos da realidade. Tenho um sonho recorrente, de tempos em tempos ele se repete em diferente lugares, com pessoas diversas, mas a situação é a mesma: Levo um tiro no lugar de outra pessoa, espero horas por assistência médica, que nunca chega, finalmente, já inconsciente, começo a flutuar no ar e uma luz maravilhosamente brilhante irradia do meu corpo, quase como uma das imagens que a gente ver decorando as paredes das igrejas católicas. Tenho o mesmo sonho desde adolescente, por isso já tive muito tempo na minha vida para pensar no significado dessa imagem. A conclusão é simples: o desejo por uma vida menos ordinária.



Todos nós adoramos pensar que no fundo, no fundo, nós temos algum tipo de super-poder, ou uma habilidade especial que está escondida para um dia ser revelada diante de extrema adversidade. Esse desejo é o responsável pela criação de infinitos personagens fantásticos. Entre criaturas sobrenaturais, super-heróis e mutantes, sonhamos acordados com as possibilidades de vida proporcionadas por super-poderes. Quem nunca ouviu essa pergunta? “Qual tipo de de super-poder você escolheria?”



Já ouviu falar que em terra de cego, quem tem olho é rei? Pois é! Não importa qual super-poder você escolheria, o que importa é que você seja capaz de fazer algo que ninguém mais é capaz de fazer. Se todo mundo voasse, voar não seria interessante. Se todo mundo fosse super-forte, nós não passaríamos de formigas, que carregam várias vezes o peso do seu próprio corpo. A vantagem é ser diferente!



O ser humano, como um ser social, geralmente tem necessidade de ser aceito em uma comunidade. Nós vestimos as mesma roupas, ouvimos as mesmas músicas, falamos a mesma língua e assim, formamos tribos, vilas, cidades, estados, países... Aqui é onde a natureza do desejo humano se confunde, na necessidade de ser aceito em comunidade, paradoxalmente alinhado ao sonho de se destacar.



Agora, ser diferente tem seus dois lados. A diferença, às vezes, pode ser o motivo de estranheza, por isso, esse tipo de coisa funciona mesmo é na ficção. No cinema ou na literatura, isolamento social é romântico, na vida real, brutal. Quando era adolescente uma onda de vampiros se alastrou pelo mundo. Duas produções do cinema internacional foram responsáveis por isso: Drácula (1992) e Entrevista com Vampiro(1994). Os dois filmes exploraram a sedução da imortalidade, a fragilidade do isolamento social contando com elaborada direção de arte, sendo os dois filmes de época.



Pouco tempo depois, tudo que tivesse relação com vampiros, virou bobagem. Literatura, filmes, tv, se alguém mostrasse as presas, virava chacota. Em 2008, uma nova geração de adolescentes se apaixonou por vampiros novamente com o lançamento de Twilight. Eu, entre várias pessoas, me recusei a assistir os filmes, até o dia em que a curiosidade bateu mais forte. Durante 2 anos ouvi pessoas me dizendo que eu parecia demais com a garota de Twilight; alguns amigos tiravam onda e me chamavam de Bela, nome da personagem de Kristen Stwart. Foi o jeito assistir o filme. Twilight nem de longe se compara aos clássicos vampirescos dos anos noventa, mas quem pode discutir com o fenômeno que literalmente tomou conta do mundo inteiro.



Seguindo o sucesso de Twilight, e a repentina simpatia pelas criaturas das trevas, a HBO aproveitou para adaptar uma série chamada Sokie Stackhouse. O programa, chamado True Blood, tem como tema central os vampiros, mas não se restringe a eles. Lobsomens, metaformos, fadas e até deuses de culturas antigas se misturam no viciante programa de TV que, nos primeiros epsódios, parece não passar de filme pornô com vampiros.



Na época da invasão sobrenatural, de repente entrei na moda. Minha branqueleza, minhas olheiras fundas, meu cabelo preto... estou na moda! As brincadeiras não param por aí. Eu tenho pressão bem baixinha! Os médicos adoram, acham super-saudável e normal para mulheres na minha idade, indício de poucas chances para doenças cardiovasculares! Acontece que além de tontura, a pressão baixa faz com que esteja sempre gelada. Lembro de brincar falando para o meu namorado de adolescência que eu era uma animal pecilotermo, não um homeotermo, por ter sempre mãos e pés frios. Se já não bastasse ser pálida, gelada, ter olheira e cabelo escuro, todas as vezes que alguém tira uma foto de um grupo grande de pessoas, sou a única que sai de olho vermelho: SEMPRE! Ah não vamos esquecer do que a exposição mínima ao sol é capaz de fazer comigo!



Então pronto, meus amigos concluíram que não há outra explicação: tenho que ser vampira! Nunca desmenti ninguém, as vezes me sinto realmente um bicho estranho, mas dos anos noventa para cá, me tornei um bicho estranho bem mais sociável. A última vez que sonhei que levitava inconsciente depois de atingida por uma bala, acordei rindo pensando numa imagem de nossa senhora, misturada com a de um vampiro.



Por mais que me divirta com minhas semelhanças com os sombrios vampiros, sempre achei que se tivesse que escolher um super-poder, ou uma habilidade extraordinária, nada teria haver com a imortalidade das criaturas das trevas, ou a super-força dos heróis de quadrinho. Gostaria de ter o poder de ver o mundo de outra forma, ampliada, dissecada. De sentir o mundo de forma intensificada. De ser capaz não apenas de sentir o vento soprando em meus cabelos, mas de enxergar o ar, entender o conceito de espaço relativo visualmente, transitar entre diferentes dimensões, visualizar o som se propagando em ondas pelo ar. Queria poder ver a multiplicação de microorganismos, acelerar e desacelerar o tempo para melhor entender o mundo. Acho que esse seria o melhor dos super-poderes: a extraordinária habilidade de perceber as nuances em tudo que está sempre a nossa volta. Por que a vida em si é espetacular, ordinários somos nós, que nos distanciamos cada vez mais dela!

segunda-feira, outubro 11, 2010

Próximo texto:
Por uma vida menos ordinária!

Ter saudade é melhor que caminhar vazio...





Estranho como histórias antigas emergem quando nós menos esperamos. Hoje, no meu dia de folga, depois de horas limpando minha casa, parei para assistir um pouco de TV. Um programa bem bobo da MTV chamado Seven estava passando. Ia mudar de canal quando vi que eles iam mostrar uma matéria filmada na Comic Con, a maior feira de quadrinhos dos Estados Unidos.


Para quem não sabe, eu adoro quadrinhos. Na faculdade, produzi um evento de quadrinhos com um amigo. Foi assim que conheci Willian. Meu amigo Amauri e eu éramos bolsistas da CNPQ e estávamos, na época, estudando adaptação da linguagem da arte seqüencial (Quadrinhos) para linguagem teatral. Depois de tanto estudar o assunto, acabei me envolvendo na organização de um evento de quadrinhos. Willian era um garoto que, segundo meu amigo Amauri, agregaria conhecimentos em uma área que para nós era um mistério: Mangá e Animes, pois era organizador de um “clube” dedicado ao assunto. Conheci o rapaz que, extremamente magro e tímido, em poucas horas me fez dar gargalhas quase sem querer. Era como se tudo que saísse dos seus lábios fosse engraçado e genial, mas sempre mantendo uma despretensão apaixonante.

Nessa época, eu tinha namorado, provavelmente o cara mais bacana que já namorei na vida, mas como meus amigos próximos estão cansados de saber, eu sou um monstro que é capaz de se apaixonar por duas pessoas ao mesmo tempo. Para piorar a minha situação, meu namorado foi anexado ao time de organização do evento pelo meu amigo Amauri, desconhecedor da minha paixonite por Willian! Nunca vou esquecer o dia em que os dois se conheceram: Willian e meu namorado. Da mesma forma que me apaixonei quase que instantaneamente por Willian, ele e meu namorado virarão melhores amigos. Bastou um dia, nós três em um projeto de construção de displays para a exposição que seria apresentada no evento, para que três coisas se tornassem óbvias: eu estava encantada por Willian, ele e meu namorado seriam melhores amigos e meu sentimento morreria comigo, por que mesmo que eu viesse a terminar o meu namoro, nunca ousaria colocar em risco a amizade dos dois.

Assim, resignada e certa de que esse amor estava fadado a ser platônico pelo resto da eternidade, segui a vida ao lado do meu namorado, de quem não tinha motivos para reclamar. Os anos passaram, mas a sensação nunca mudou. Sempre que nos encontrávamos, a visão de Willian me fazia feliz, o seu sorriso espremido, que ele parecia tentar suprimir, era embriagador. A amizade dos dois continuou a crescer só para comprovar que estava certa, e que aquilo teria que ser uma coisa platônica. Os dois começaram a trabalhar juntos e logo a amizade virou parceria.

O estranho era que eu era feliz assim, vendo os dois trabalhar, só saber que ele estava bem era suficiente para mim. A crescente amizade com meu namorado não era o único motivo para a platonicidade do meu sentimento, tinha uma estranha sensação de que se algum dia o mundo virasse de pernas para o ar e finalmente pudesse ficar com ele, faria algo estúpido e o magoaria, como fiz com vários ex-namorados. Só a possibilidade de magoar Wiliam era insuportável. Lembro de conversar com duas amigas da faculdade sobre ele. Elas morriam de rir, não sabiam como eu podia estar apaixonada por um rapazola que pesasse menos que eu e andasse sempre arrastando suas havaianas como se ainda não tivesse realmente acordado, mas para mim, tudo nele era iluminado. Para mim ele era tão especial, que foi o único homem que coloquei num pedestal, especial demais para ser desperdiçado com mundanas desventuras amorosas.

Trabalhamos juntos várias vezes, até quando me mudei para o Rio, quando ele estava trabalhando no seu projeto final de formatura na escola de Belas Artes. Um filme usando a técnica de stop motion. Me mostrou os bonecos, o cenário... sempre modesto e reclamando da sua incapacidade de produzir material na velocidade que lhe era cobrado.

Quando me mudei para NYC, Willian ainda não tinha e-mail ou telefone celular. Parte de uma família muito simples, esses foram luxos introduzidos a ele mais tarde. Para a minha sorte, um dia , conversando via Skype com meu amigo Amauri, ele me contou a novidade: “Willian agora tem um celular.”

Liguei imediatamente, conversamos e perguntei como andava a vida. Em anos de amizade, nunca vi William com uma namorada ( graças a deus, não sei se suportaria), mas vi várias de suas colegas de classe se apaixonarem por ele sem que percebesse. Nesse dia, no telefone, ele me contou como tinha perdido uma garota por causa disso. Ela gostava dele, ele gostava dela, mas quando ele descobriu a mutualidade, já era tarde, a garota estava namorando outro. Ele falava disso com tristeza, como se tivesse perdido a única garota que já tivesse se interessado por ele na vida. De NYC, nessa época casada com o ex-namorido, não agüentei e confessei. Disse para ele que muitas pessoas já tinham gostado dele, mas que ele não acreditava em si mesmo o suficiente para perceber. Expliquei que tinha sido apaixonada por ele, mas que sabia da inconveniência do meu sentimento, devido nossa situação, e que só estava revelando aquilo para que ele entendesse que era um homem digno de admiração. Cinco segundos de silêncios foram suficiente para me derreterem de arrependimento por ter aberto a boca. Quando ele voltou a falar, supliquei que aquilo não mudasse nada entre nós, enfim, nessa época, eu já estava casada e vivendo em outro país.

Nunca mais tocamos no assunto. Mil coisas aconteceram... meu ex-namorado, seu amigo, casou com uma garota que até onde eu sei é bem legal. Meu casamento não deu certo. Willian finalmente conseguiu terminar seu filme e ganhou o prêmio de melhor curta no festival de cinema de animação de Gramado. Quando voltei a Belo Horizonte, separada do Namorido, nos encontramos para um café. Minha frustração com o casamento despedaçado e a notícia da felicidade do meu ex- namorado, ainda muito amigo de Willian, me segaram e me encheram de esperanças. Na noite anterior ao nosso encontro no Café do Palácio das Artes, sonhei que era muito rica e bem sucedida, que me encontrara com ele e lhe propusera que se mudasse para os Estados Unidos comigo para trabalhar num prestigiado estúdio de animação.

Acho que tomei uns 3 expressos. Logo meus sonhos de realização desse antigo amor foram dizimados pela notícia de que Willian finalmente estava namorando. Esbocei uma melancolia, mas ela se dissipou assim que percebi que estava bem com a garota. Surpreendentemente, fiquei feliz por eles, genuinamente feliz, e na verdade aliviada de não ter tido a oportunidade de estragar minha amizade, no meio do turbilhão de emoções que foi minha separação.

Esse não foi o único reencontro do dia, logo após o café do Palácio das Artes, fui encontrar meu amigo Amauri, que não via há alguns anos. No meio da conversa num bar, olhei para a TV. Eles estavam mostrando o Brasil Day em NYC. Achei estranho estar em Belo Horizonte, vendo NYC pela televisão, me senti pelo avesso. Lulu Santos estava fazendo o show. Sorri e me lembrei da canção que me fazia lembrar Willian:

“Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder. Deixo assim ficar subentendido. Como uma idéia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer.”

Revelei a Amauri a verdade sobre meus sentimento por Willian que até então ele desconhecia. Ele achou a vida muito intrigante: “ e se eu nunca tivesse convidado seu namorado para a organização do evento de quadrinhos...”- cogitou ele. Nós rimos nostálgicos e relembramos os velhos tempos como senhores de avançada idade.

Essa foi a última vez que vi Willian. Ano passado recebi o e-mail de Amauri trazendo a notícia de que um acidente de bicicleta levara Wiliam ao hospital com pouquíssimas possibilidades de recuperação. Dias de angústia, e a inevitável notícia do seu falecimento chegou. Milhões de sentimentos se misturaram em um azedo no meu estômago. A lembrança do terrível acidente de bicicleta que anos antes quase tirara a vida de meu pai. A recordação de um acidente de moto que presenciei quando criança. A vontade de ter passado mais tempo com ele. A recordação do sentimento de felicidade que sentia ao ver seu sorriso tímido, e a dura realidade de saber que nunca mais sentiria aquilo de novo... A dificuldade de aceitar que ele não voltaria. Pensei na dor da família de Willian, e também de sua namorada. Se eu, que tão pouco tive dele, sentia como se alguém tivesse me arrancado um pedaço do peito, imaginava a dor de alguém que convivia com ele todos os dias.

Nessa época, minha amiga aqui de NYC, Patrícia tinha comprado uma bicicleta. Tive uma ansiedade horrível. Meu pai quase morreu anos antes por que estava sem capacete, agora um acidente de bicicleta me levava Willian. Liguei para Patrícia para pedir que comprasse um capacete. O telefone foi para a caixa postal, mas 5 minutos depois, ela me retornou a ligação. Não pude esperar que dissesse nada. Fui logo pedindo que pelo amor de Deus, comprasse um capacete e cuspindo a história dos dois trágicos acidentes. Quando finalmente terminei, ela muito nervosa me disse que estava me ligando por que tinha acabado de cair da sua bicicleta e que quase tinha sido atropelada por isso. Um frio gelado me subiu a espinha, e nós duas engasgamos. Perguntei se precisava de ajuda, mas ela disse que estava bem e que iria direto para casa. Quando cheguei no trabalho, vi Patrícia com os cotovelos e joelhos completamente esfolados. Tive vontade de chorar, mas em vez disso, só pedi que me prometesse comprar um capacete. No dia seguinte, Patrícia resolveu se desfazer da bicicleta, pois estava aterrorizada com o acidente. Minha saúde mental agradeceu.

Na última visita que fui ao Brasil, não estive em Belo Horizonte, passei a maior parte do tempo em Teresina. Uma noite, na saída de uma festa, avistei um menino assombrosamente parecido com Willian. A semelhança era tanta, que achei que estava vendo coisas. Meus olhos se encheram de lágrimas e contemplei a idéia de ir conversar com ele, só para matar a saudades, mas achei que era maluquice. Quando cheguei em casa a ansiedade era tanta, o arrependimento de não ter chegado mais perto do garoto que tanto se assemelhava a Willian era tamanho, que não dormi a noite toda. Durante o resto da estadia no Piauí, procurei, sem sucesso, pelo rapaz nos bares da cidade. Talvez ele fosse realmente apenas uma visão.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Heroínas

Sei que parece bobagem, mas eu realmente acredito que o desenho animado que você assiste quando criança influencia sua vida adulta! Na verdade, influencia uma geração! Por que estou escrevendo sobre isso? Ah... só por que eu andei assistindo uns desenhos da Disney.

Tenho uma memória meia boca, bem apagadinha da minha infância. Lembro de usar um vestido que minha mãe me deu da feira Hip de BH que era feito de retalhos (lembra dessa moda?). Quando não tinha ninguém em casa, pegava um balde, um escovão e saia limpando o quintal cantando a música da Cinderela (1950). Também aprendi com as fadas madrinhas da Bela Adormecida(1959) que costurar e cozinhar podem ser coisas mágicas. Branca De Neve (1937) me ensinou que só o beijo do verdadeiro amor pode reviver você.



Em 1989, Disney tomou consciência de que esfregar o chão, costurar e cozinhar, nem cantando muito, seria o sonho de uma garotinha nos anos 80. Foi quando o estúdio lançou A Pequena Sereia. Ariel, era uma princesa revoltada que desobedecia o pai e tinha idéias revolucionárias, além disso ela tinha sonho de conhecer outros lugares. Agora, ela perde completamente a noção e sai entregando a voz para uma bruxa por causa de um carinha que ela nem conhece.


Em 1991, A Bela e a Fera, veio mostrar que as meninas não precisam ser assim tão superficiais. Bela, a heroína da vez, adora ler, quer sair da sua cidadizinha e não dá a mínima para o gostosão da cidade. Além disso, é uma boa filha, e só se encrenca quando vai salvar o seu pai! Agora, isso sim é uma heroína! O único problema com ela é que a moça se apaixona por um cachorro gigante! Cada pessoa com suas fantasias, mas esse negócio de se meter como bicho não é a minha!


Depois disso, Pocahontas (1995)! Quem achou que aquilo era um filme para crianças? Me recuso a comentar Pocahontas!


Mulan (1998), é o filme da emancipação feminina para garotinha, mais gráfico do que queimar sutiãs! O problema é que não consigo lembrar de uma música do filme. A gente sabe que não adianta livrar a China dos Unos numa época onde as mulheres pobres sonhavam em virarem putas, (Ups... desculpem meu vocabulário, quis dizer Gueixa!). Você precisa fazer tudo isso cantando e dançando ou as garotinhas não vão querer ser como você!


A gente sabe que no fim dos anos noventa, fazer animação ficou mais rápido e mais fácil. O difícil era achar um filme que encantasse as garotinhas e não ofendesse as mães, que nessa época já estavam trabalhando em dois empregos, enquanto estudando para o mestrado! A solução veio em 2009: A Princesa e o sapo.


Em A Princesa e o Sapo, Tiana é uma garota pobre , mas com muito amor familiar, que não tem tempo para paixonites e outras bobagens! Além disso, depois de tantas princesas brancas, uma árabe, uma chinesa, uma índia, estava na hora de uma negra! Então, depois de morrer de trabalhar, Tiana , eventualmente, reavalia suas prioridades (coisas que geralmente a gente só viu até hoje em personagens masculinos) e abre espaço para o amor em sua vida!


Adivinha qual princesa era a minha? Claro que é a Ariel, sou de 1981. Eu e minhas amigas passamos a infância brincando de sereias, mas não é só por isso que que a Ariel é a minha princesa: Nasci em Teresina (de onde sempre soube que iria me mudar), vivi em várias cidades , mas acabei mudando para New York, um lugar onde sempre quis viver, por que me apaixonei por um estranho!


Claro que Ariel não foi a única heroína da minha infância! Tive outros heróis : She-Ra, Os Thundercats, Shakespeare, Bruce Lee...


Agora, enquanto a Disney se preocupa em ser politicamente correta e não – sexista, o que tenho medo é que a nova geração de garotinhas escolha Paris Hilton como heroína em vez da Cinderela. Prefiro mil vezes minha filha limpando o chão enquanto canta do que uploading um vídeo transando com o namorado na internet!

domingo, outubro 03, 2010

O caráter efêmero dos sonhos

Nossa... depois de longo e tenebroso “inverno” resolvi comprar um novo HD pro meu laptop que estava quebrado há meses.

Pensei muito no que seria o texto de re-estréia do blog, mas depois de muito pensar, me lembrei: Eu só escrevo besteira mesmo, por isso, que besteira vai ser escrita antes não importa!


O negócio é começar a escrever de novo por que depois desse tempo todo parada, demoro vinte minutos pra escrever uma frase!


Ando pesando em milhões de coisa ultimamente. Já faz um tempo que deixei de trabalhar de garçonete. Agora sou gerente do restaurante grego onde trabalho há quase 3 anos. A maioria das pessoas me dá parabéns. O que ninguém sabe é que quando você vira gerente o que acontece é o seguinte: você trabalha mais horas, tem mais responsabilidades e ganha bem menos! É isso mesmo, não escrevi errado, eu disse MENOS!!! A minha promoção foi trabalhar mais e ganhar menos. Então você pode se perguntar: Por que diabos ela aceitou a promoção? Bem, recusei 3 vezes, pedi demissão do meu trabalho, fui trabalhar em outro restaurante como garçonete, só pra descobrir, que não consigo mais trabalhar de garçonete. Toda vez que a a hora de ir para o restaurante ia chegando, meu estômago ia se revirando e o desespero ia me consumindo! Durante o trabalho, toda vez que alguém era rude comigo, pensava em vinganças malignas, como entornar um jarro de água gelada na cabeça do infeliz. Achei que era melhor mudar de trabalho antes que perdesse a compostura e me encrencasse.


Claro que trabalhar mais e ganhar menos não ia me manter calma por muito tempo, por isso depois de 8 meses trabalhando de gerente, pedi demissão. Ainda estou no restaurante, mas o plano maligno agora é achar um trabalho de bartender no sábado e domingo para poder voltar a trabalhar com figurino de segunda a sexta.


O meu plano continua sendo adiado. Primeiro, uma viagem a Grécia (é verdade, fui a Grécia, prometo que escrevo sobre isso para vocês outra hora), depois visita de uma amiga de infância e agora, uma infecção respiratória (isso não quero nem comentar). Quando as coisas se arrastam por aqui, é difícil não pensar em voltar para o Brasil, e quando o meu aniversário de trinta anos se aproxima, é difícil de não pensar no que chamo de trindade da vida: amor, trabalho e localidade. Nunca consigo juntar as 3 coisas: uma cidade onde eu goste de morar, onde possa trabalhar na minha área e onde o consorte viva! Quando penso em sair de New York, é impossível não pensar nas possibilidades.


Sobre a cidade:


Eu já vivi em Teresina, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo (por muito pouco tempo) e New York.


Em Teresina eu tinha família, amigos, tive um amor fulminante mas nunca me senti em casa na cidade além de não ter a menor condição de trabalhar com figurino.


Eu amo Belo Horizonte: a cidade, as pessoas... além disso tenho minha família. BH foi o lugar onde mais trabalhei com figurino, onde me apaixonei por figurino, mas onde menos ganhei dinheiro.


Rio de Janeiro foi o lugar mais bonito onde morei e mais solitário. Os cariocas são tão diferentes de mim, que todas as vezes que tentava conversar com alguém me sentia um ET. Trabalhar no Rio também não foi fácil. Conheci maldade fora da adolescência, mas tenho certeza que hoje em dia, com mais experiência e atitude novaiorquina, não sofreria tanto. Sempre que penso em mudar para o Rio o óbvio vem em pauta: Globo. Mais oportunidade de trabalho... além da Globo, o Rio de Janeiro guarda outro tesouro: o Primeiro. Se você não sabe quem é o Primeiro... bem essa é outra longa história!


São Paulo... fiquei nessa cidade pouquíssimo tempo, sempre que estive lá foi a trabalho (que surpresa!). Diferente do Rio de Janeiro, as pessoas em São Paulo fazem mais sentido para mim. Trabalhar em São Paulo não foi tão difícil como no Rio, mas também não foi tão fácil como trabalhar em Belo Horizonte... Agora, a maior cidade da América Latina trás outra qualidade que é difícil de não prestar atenção: é cheia de homens, não qualquer tipo de homens, principalmente o tipo que eu gosto.


Ah... New York... a relação de amor e ódio! O melhor e o pior da vida profissional, o melhor e o pior da minha vida amorosa, o melhor e o pior da natureza humana... depois de cinco anos de New York, a sensação é de que qualquer outro lugar vai ser completamente entediante!




Sobre o Trabalho:


Teatro


Ah, o teatro! A vontade de matar os diretores porra loucas, de mandar os atores que vem com exigências de última hora para o quinto dos infernos. Eu amo figurino de teatro. Talvez seja simplesmente por que é de figurino que eu mais entendo e domino, talvez por que eu possa viajar na maionese e realmente pesquisar milhões de coisas legais antes de criar um figurino.


Cinema


Humm... é onde o dinheiro está, pelo menos aqui nos EUA. Com dinheiro vem institucionalização e organização... nunca achei que eu fosse dizer isso, mas eu adoro!


TV


Deus me ajude! Ainda não fiz TV, mas tenho certeza que isso vai estar num futuro próximo! Se eu resolver voltar para o Brasil então, inevitável! Até por que, no Brasil, é onde está o dinheiro!


Restaurante


Tenho uma coisa para dizer às pessoas que insistem em dizer que eu devo abrir meu restaurante: Você não tem a menor idéia do que é a vida dentro de um restaurante! Se eu algum dia disser que quero abrir meu próprio restaurante, por favor, me coloquem numa camisa de força, me tranquem num quarto escuro até que a vontade passe! Se alguém precisar de ajuda abrindo um restaurante no Brasil, eu posso ser sócia, ajudar a abrir, fazer cardápio, lista de cocktail, todas outras bobagens que eu aprendi por aqui em 5 anos... mas viver dentro de um restaurante... nem morta, santa!


L'amor...


Tem gente que é viciada em atenção. Há quem seja viciado em cigarros, coca-cola, outras cocas... eu, sou viciada em amor! O problema é que o amor no qual eu sou viciada é o tumultuoso, platônico e passageiro! Me chamem de superficial, mas eu sou paixonite-juckie! Já tive vários amigos me perguntando: “O que é que você quer em um homem?” Ora, mais que pergunta estúpida! Se eu soubesse responder essa pergunta, eu já tinha achado o homem ideal. Difícil não é achar o homem ideal, difícil é resolver o que é o homem perfeito e não mudar de idéia a cada seis meses!


Já cheguei a essa conclusão! Sou um animal cíclico! Se meu ex-namorado é um magrelo, metido a artista, com problemas existências, vou querer namorar um macho, dos bem grande, que vai me por no colo como se eu não pesasse nada! Agora, se o ex for um machão ignorante que só assiste filme que morre gente, o homem ideal tem que gostar de Jazz e museus. Aí você me pergunta: não dá pra achar um meio termo?! E eu respondo: Lá sou mulher de meio termo!!!! Quem é que quer um homem que é mais ou menos macho, que te carrega nos braços, mas que não aguenta fazer isso subindo as escadas, ou um cara que gosta de ler, mas só ler literatura norte americana!Eu sou exagerada como Cazuza!!! Vou morrer insatisfeita!


Juro por deus, a minha indecisão amorosa é tão grande que não consigo escolher nem qual é o ator com quem quero sonhar a noite! Acaba em insônia! Exemplo: esse semana comecei a assistir a nova temporada de Grey's Anatomy. Tem um ator feio muito macho, o personagem dele é um médico especialista em trauma que acabou de voltar do serviço militar. Acho ele uma delícia. Quando o episódio de Grey's Anatomy acabou, estava certa de que era aquilo o que precisava para ser feliz na vida: um macho ruivo, que é inteligente o suficiente para ser médico, mas macho o suficiente pra ir pra guerra! Dois dias depois, assisto o filme Young Victoria, baseada na história real da rainha Victoria e de príncipe Albert. Uma olhadinha no príncipe e o amor da minha vida muda de personalidade e forma. De repente eu quero um rapazinho tímido e magrelo que fica absolutamente nervoso perto de mim... aff!!!


A questão é que, difícil não é a vida em New York (ou em São Paulo), ou achar o príncipe encantado, nem mesmo o emprego ideal. Difícil é descobrir o que a gente realmente deseja! Por que? Por que quando nós sonhamos com a cidade, o trabalho ou o homem ideal, só nós concentramos no lado positivos das coisas, no momento em que os sonhos passam a categoria de realidade, eles se enchem de problemas e perdem o charme. Sonhos sem charme deixam de ser sonhos, viram realidade e são substituídos por novos desejos de felicidade! Simples assim! A felicidade é tão efêmera quanto a vida de um sonho realizado!





PS: Nossa! Eu estou bem enferrujada! Esse texto saiu bem amarradinho! Com o tempo melhora!