terça-feira, outubro 13, 2009

O Gosto da revolução


Depois de escrever tanto sobre bebida, argumentei comigo mesma se seria uma boa idéia escrever sobre vinho. Vai que meus amigos vão pensar que virei uma alcólacra!

Acabei de assistir o filme do mês de outubro (Bottle shock) e em menos de meia hora depois de ver o filme, tinha gastado 70 dólares numa garrafa de Chardonnay. O interessante é que Chardonnay é geralmente o vinho branco de que menos gosto. Foi quando resolvi, que se o assunto era envolvente o suficiente para me fazer gastar essa grana num vinho que provavelmente não vai ser um dos meus preferidos, seria o suficiente para merecer um lugarzinho entre as Coisas de Laurinha!

Mãe, se você estiver lendo isso, não se preocupe! Eu não estou remediando a minha frustração profissional ficando bêbada todo dia.

Quando me mudei para cá em 2005, a única coisa que sabia sobre vinho, era que gostava de Malbec (Argentina) que é um bom vinho que eu tinha condição de comprar. Enquanto os brasileiros gostam de se auto-criticar dizendo que não temos costume de beber vinho, e não entendemos nada sobre o assunto, venho aqui nos defender: vinho no Brasil é caro demais! Quem é que tem dinheiro para beber vinho o suficiente no Brasil a ponto de entender alguma coisa obre o assunto?! O vinhos dos nosso vizinhos, chilenos e argentinos, os vinhos de qualidade mais acessíveis no Brasil, são mais baratos aqui nos Estados Unidos do aqui aí na terra Tupiniquim. Claro que a gente sabe que isso tudo acontece por causa dos impostos de importação, que servem ara proteger o produto nacional, mas no caso do vinho no Brasil, tem servido como super-proteção. Beber Miolo no Brasil, custa o mesmo que beber Miolo em Nova York, sei disso por que no restaurante em que trabalho, três dos quatorze vinhos que são vendidos por taça, são Miolos: Pinot Noir, Merlot e Pinot Grigio. Por que então os vinhos no Brasil são tão caros? Mesmo os produzidos aí!? Na minha opinião, o produtores locais seguem o preço do mercado, se eles podem cobrar mais, por que não? Sem concorrência em preços por causa das altas tarifas de importação brasileiras, os vinhos nacionais aproveitam a oportunidade, e que pode censurar-los? Eu faria o mesmo! O problema é que com os altos preços dos vinho, quem quer sair por aí comprando vinho para experimentar?!

Tenho uma teoria de que quem não gosta de vinho é por que nunca encontrou o vinho certo. Existem mais de 4 mil espécies de uvas diferentes usadas na fabricação de vinho no mundo e a uva é só o começo. Outros fatores determinantes no gosto final de um vinho são a localização geográfica, a altitude, o solo, a temperatura, a quantidade de sol a qual a uva é exposta, quanto tempo o agricultor espera a uva amadurecer antes de ser colhida, que tipo de bactéria é utilizada na fermentação, se a fermentação é feita em barril de carvalho ou aço, se ele é envelhecido e por quanto tempo, que tipo de carvalho é usado, se ele é envelhecido na garrafa, se o tipo de uva usado é pequena ou grande, se foi fermentado com ou sem a casca, se foi filtrado ou sedimentado, se o vinho é feito de uma só uva ou de uma combinação de mais de uma das 4 mil uvas ... e por aí vai! Com tantas opções é impossível uma pessoa não gostar de nenhum vinho!

O problema é que com essa extensa lista de possibilidades, achar o seu tipo de vinho pode ser tarefa árdua, o no caso do Brasil, cara!

Um fator que revolucionou a história do vinho e aumentou exponencialmente a variedade de vinhos disponíveis no mercado, foi a descentralização da produção de vinho no mundo. Até os anos 60, vinho bom era Francês, quando muito italiano, espanhol ou português. Agora, vinhos de qualidade são produzidos nos Estados Unidos, Chile, Argentina, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Alemanha,Grécia e até no Brasil!

Então você deve estar aí pensando, se comprar vinho nos EUA é assim tão barato, por que essa história começou comigo comprando uma garrafa de Chardonnay por 70 dólares? Tudo isso foi culpa do filme do mês. Outro dia, vi o trailer de um filme que nem chegou a ser lançado nos cinemas por aqui. Fucei na minha lista do Netfix (serviço de aluguel de filme pela internet) e acabei achando esse filme na lista de filmes disponíveis para assistir no meu computador. É um filme bem legal, baseado em fatos reais, bem engraçado e super-interessante. Conta a história de como em 1976, os vinhos californianos ganharam respeito internacional ganhando uma disputa de degustação na França. Um inglês, aficionado por vinho que vivia na França e só bebia vinho francês, resolve ir a Califórnia experimentar os vinhos da região. Impressionado com a qualidade do produto local, ele seleciona vários vinhos, os leva a França e organiza uma competição. Os mais renomados especialistas de vinho da França foram convidados a experimentar os vinhos californianos. Esses foram servidos em meio a vários dos melhores e mais renomados vinhos franceses. Os jurados, as cegas, sem saber que vinho era francês e que vinho era americano, deram notas aos vinho em diferente categorias. Para a surpresa dos franceses e do resto do mundo, os dois vinhos vencedores, nas categorias de vinho tinto e branco, foram californianos. Desde então, a produção de vinho californiano tem crescido de vento em polpa. O vinho vencedor na categoria de vinho branco, foi o Chateau Montelena Chardonnay. Quando treminei de ver o filme, procurei, encontrei e comprei uma garrafa do famoso Chardonnay! Cinqüenta pratas, mais taxa de entrega e imposto... e eu gastei 70 dólares em uma garrafa de vinho. Meu namorado me perguntou por que?

Trinta anos mais tarde, na comemoração do aniversário da vitória californiana, outra competição foi organizada e mais uma vez, os californianos ganharam. Não é só um vinho, é uma revolução em garrafa. A simbolização da mudança. Tenho que saber qual é o gosto da revolução da industria do vinho mundial, os aromas que abriram as portas da produção de vinho e do reconhecimento de produtores de diversas partes do mundo além da França! Essa foi a resposta que dei para o meu namorado, não só por que acredito em cada palavra, mas também por que queria que ele dividisse o custo do vinho comigo!

Bottle shock é o filme do mês de outubro. Os vinhos que ganharam o prêmio na degustação as cegas feita em 1976 foram:

Vinho Branco: Chadonnay Chateau Montaelena

Vinho Tinto: Winiarski's 1973 Stag's Leap Wine Cellars S.L.V. Cabernet Sauvignon

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