domingo, novembro 15, 2009

Belo dia de outono...



Hoje é um daqueles dias engraçados... tive folga, saí com o namorado e uma amiga para aproveitar um dia lindíssimo depois de uma temporada cinzenta. Almoçamos num restaurante delicioso, pela primeira vez comecei a gostar de morar no Queens... depois assisti dois filme...


Enquanto caminhava para casa, lembrei de um velho hábito. Quando estava na faculdade, toda vez que andava pelo campus tinha a mania de me equilibrar nos canteiros dos jardins. No caminho de casa, procurei por muito tempo um canteirinho que fosse para me equilibrar, mas não achei. Na falta do canteiro, pulei pelo meu caminho sobre as folhas de outonos que cobriam as calçadas. Foi a primeira vez em que eu pensei sobre esse velho hábito.


Minha história de equilibrista não passava de uma maneira de relaxar, me concentrar em algo ordinário para limpar a mente. Para que? Para parar de pensar!


Engraçado como cresci ouvindo que os jovens da minha geração não eram acostumados a pensar sobre a vida. Ouvindo as histórias de nossos pais que lutaram contra a ditadura, minha geração cresceu se sentindo um grande saco de batata, alguns completamente alienados a qualquer coisa que não tivesse haver com a cultura pop, outros, sempre achando que deviam estar lendo mais filosofia e assistindo menos novela. Agora, depois de 28 anos tentando elevar minha insignificante existência a um nível minimamente mais intelectualizada, tenho que ouvir que o meu problema é: Eu penso demais!


Nunca pensei que isso existisse! Para mim, quanto mais a gente pensasse, mais desenvolvesse nossa intelectualidade! Pensei errado... para variar! Primeiro meu namorado me disse isso: “Você pensa demais.” Achei um absurdo. Como assim? Raul Seixas me disse que eu uso apenas 10% da minha cabeça animal, então, qual é o problema em tentar pensar um pouco mais?


O primeiro problema: Insônia! Não posso colocar toda a culpa dessa minha companheira de longas noites na minha incapacidade de aliviar as idéias, mas sei que quando a noite chega e minha cabeça está cheia de dilemas, a probabilidade maior é de que Morpheus não me prestará visita. Quando alguns dos poucos médicos que tentaram entender minha insônia me questionaram sobre esse problema, a resposta era simples: minha cabeça não para, e eu não consigo dormir. Um pensamento leva a outro e em cinco minutos, já nem lembro como comecei a pensar naquele assunto...


O segundo problema é a incapacidade de desassociação de certas coisas. Semana passada, enquanto me visitava, um de meus familiares, médico psiquiatra, não conseguiu acreditar quando me ouviu falar sobre alguns dos motivos pelo qual não consigo comer carne. Para mim, bife é vaca morta! Não é só uma questão de ter pena da vaca ( o que eu tenho), mas tenho um pouco de nojo e estranheza de comer um bicho morto. Como peixe, tive que me acostumar por uma questão de saúde, mas não gosto da idéia! Agora, comer um boi! Pior uma galinha, que para mim é um dos animais mais asquerosos que existe. Depois de ouvir tudo isso, meu primo não teve dúvida: “Você pensa de mais!”


Meu problema não para aí., tem a culpa. Meu peixe preferido é provavelmente atum. Pois outro dia, li que o atum está sendo super-consumido e que provavelmente entrará em extinção. Quando menciono isso para qualquer pessoa, a resposta é a mesma: melhor aproveitar enquanto tem, mas eu me consumo em culpa. Já me vi várias vezes pedindo outro peixe em vez de atum num restaurante pensando no assunto. Meus acesso de culpas já me fizeram desistir de também de vários vestidos “Made in China” depois de assistir um documentário sobre as ações Chinesas no Tibet. Claro, que muitas vezes eu como atum, e compro um sapato lindo e extremamente barato feito na China, mas quase sempre a culpa me persegue e acaba me levando de volta ao meu primeiro problema (insônia) criando uma corrente maluca de neurose sem fim.


Hoje, enquanto pulava de folha em folha por falta de um canteiro para aliviar o juízo, me vi debaixo de uma árvore pelada. Todas as folhas já haviam caído. Sem folhas e sem canteiro, me vi forcada a pensar na vida depois de longo e relaxante dia de outono. Três visitas consecutivas de diferentes familiares fizeram a saudades de casa praticamente insuportável! Pior que a saudades, foi descobrir que algumas memórias de infância iam se apagando.

Tentei me lembrar da letra de duas músicas que meus pais cantavam para me fazer dormir quando pequena. Me faltaram versos para as duas. Claro que com internet agora tudo se descobre num piscar de olhos, mas fica a sensação de que devia estar pensado mais sobre se é melhor ficar por aqui, ou voltar para o Brasil... lá se foi outra noite de sono... Por enquanto, tento viver um dia atrás do outro até minha cidadania sair, esperando sempre que as noites se acalmem, que Morpheus venha me ninar ao som de Casinha Branca ou Riacho do Navio.


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