O bom de ficar doente numa época dessas é que te força a ficar em casa e pensar na vida. Outra coisa que me forçou a pensar nos últimos meses, foi o fato de eu não ter conseguido ir para o hospital. Quando a febre subiu e eu já tinha vomitado as tripas, liguei para o ex-bofe para pedir meu novo cartão de plano de saúde, mas tive que deixar recado na secretaria eletrônica. O jeito, foi ligar para minha amiga chechena doida. Elina (primeira vez que eu dou nome aos bois no blog) tinha se tornado minha melhor nos últimos anos de NYC. Ela é imigrante ilegal, criada mulçumana, filha única de uma mãe que bateu muito nela quando criança e de um pai que se suicidou quando ela ainda era pequena, descobriu que era gay nos EUA e que tinha transtorno bipolar. Todos os motivos do mundo para fazerem uma pessoa ser maluca, e ela é, mas é maluca do bem! Não pensou duas vezes quando eu liguei pedindo socorro. Estava no meio de um jantar com um outro amigo que ela largou a ver navios para sair correndo para a farmácia comprar o que eu precisava. Ficou comigo até minha febre baixar e a desidratação ser controlada por soro, mas enquanto isso ela queria os mínimos detalhes dos meus últimos meses no Brasil.
Fui forçada a reavaliar tudo o que eu tinha feito, contei tudo e como relembrar é viver, revivi tudo!
Quando cheguei no Rio de Janeiro, fui para uma festa de um amigo que eu fiz em Nova Iorque. Esse amigo é um dos chiques e famosos do Brasil, um Global. Um fofo, me recebeu super-bem e assim que me viu chegar na sua casa foi logo me dizendo que eu era solteira e que não me lembraria do “já morreu” pelas próximas horas. Promessa cumprida. A casa dele era de frente para o mar, numa montanha linda no Rio de Janeiro, sem dúvida a casa mais bonita que já vi. O meu baixo astral era difícil de disfarçar assim como a empolgação da minha amiga teresinense vendo todos os globais.
Estava resolvida de que seria melhor não beber nada até a hora que vi um pote de melancia no bar! Se tem uma coisa no mundo que me faz feliz é melancia! Foi nessa hora que passei a minha bolsa para minha amiga e perguntei se ela sabia como explicar para o taxista o caminho do apartamento onde a gente estava. O plano tinha sido traçado: afogar as mágoas na melancia com vodka!
Enquanto minha amiga se deliciava descobrindo que havia passado dez minutos perto de alguém super-famoso sem nem perceber, eu ia perdendo a noção da realidade. Quando já tinha perdido completamente a noção de quem eu era, resolvi paquerar com um galãzinho de novela das sete. Podia ser pior, eu poderia estar paquerando com um galã de novela das oito, o que mostraria que eu estava mais Joselita sem noção ainda. Claro que bêbada não tem “se-mancol” e por isso eu fiquei bem no carão pro galãzinho, mas para o meu desespero e para o divertimento geral da nação, quem veio dar em cima de mim, foi o amigo do rapaz, também ator. O problema do amigo era que, diferente do galãzinho, ele era baixinho, feio, mais velho e saído dos núcleos de comédias das novelas da Globo. Agarrou em mim igual chiclete e virou para o meu alvo, o galãzinho,09 e disse: “Eu quero essa mulher para mim!” Lá se foram minhas chances imaginarias com o galãzinho! Claro que eu não tinha nenhuma chance, mas no meu imaginário psicótico despeitado de bêbada, eu só não fiquei com ele por causa do amigo mala!
Durante toda a noite, o galãzinho só falou comigo uma vez. Quando meu amigo me apresentou para ele e seu amigo mala, eu fui apresentada como “Laurinha, minha amiga de Nova Iorque”. Depois disso, quase todo mundo perguntava se eu falava português! O Mala não se deu ao trabalho nem de perguntar e assumiu que eu era gringa. O melhor era que ele estava tão doido que quando eu falava português e ele fiava delirando dizendo que o meu sotaque (de gringa) era lindo. De tanto ele falar isso, o amigo galãzinho veio conferir meu sotaque: “ Que sotaque? A mina fala português!” – soltou o galãzinho decepcionado.
Sem o galãzinho, depois de umas dez caipiroscas de melancia, eu tinha ficado com um paulista que tinha conhecido em Nova Iorque. Minha amiga ficou com um Global da Malhação que a gente insistiu de chamar pelo nome do personagem dele toda vez que o moleque não estava por perto.
Depois da farra carioca, fui bater em Belo Horizonte e a desventura amorosa continuou! Saí com meu primo para uma baladinha básica e encontrei um monte de gente da faculdade! Como a gente gosta de dizer: BH é uma roça! Ex-professores, ex-colegas de turma, atores que vesti nos meus anos de figurinista... um desses atores estava lá livre, leve e solto, recém separado como eu! Juntou-se a fome com a vontade de comer, o homem lindo de morrer, gostoso, inteligente, gente boa, aí... fala sério! Antes que eu me desse conta, eu estava quase namorando o menino! Eu e minha capacidade automática de namorar! O será a minha incapacidade de não namorar? Vai saber. O fato é que eu estava de passagem marcada para São Paulo para começar um trabalho, o que me tirou desse relacionamento que apesar de prazeroso, poderia ter se tornado complicador da minha situação já tão complicada!
São Paulo foi trabalho, estressante, recompensador e exaustivo! Tudo que era precisava para enterrar o Namorido de vez. Foi em São Paulo que escrevi Momentos negros parte II e fiz minha tatoo. Quando terminei o trabalho, era natal. Fui para Boa Esperança, e com o Namorido fora do caminho, foi momento de reincidência amorosa.
Caí nos braços do meu primeiro amor! Acho que foi um pouco menos de um mês que a gente ficou junto, mas era impressionante como tudo parecia melhor e fazia sentido do lado dele. A sensação de conhecer a pessoa, de ter os memos valores... em dois dias, eu já queria voltar para o Brasil e adotar um filho com ele! Era como se desde os 14 anos, eu nunca tivesse deixado de ama-lo.
Voltei para Nova Iorque assim, de novo doente de amor! Dessa vez, não pelo Namorido!
Elina ouviu minha história toda achando aquilo tudo muito engraçado. Laurinha e suas desventuras amorosas...eu, terminei me sentindo estúpida! Morrendo de saudade do meu amor adolescente, querendo achar nele todas as respostas para a minha felicidade. De fato, eu o amava, na verdade, eu acho que nunca deixei ou deixarei de amar, mas antes de mudar de mala e cuia de país de novo por causa de um grande amor, era prudente resolver antes as minhas pendências comigo mesma.
Elina, que tinha saído no meio de um jantar para me socorrer, nunca achou que ajudar uma amiga doente pudesse ser tão divertido. Deixou minha casa as duas da manhã com dor de barriga de tanto rir e encantada com minha história platônica de “amor” com um galã da Globo, uma vez que ela é da Chechenia, onde as novelas da Globo fazem mais sucesso do que os filmes de Holywood!
2 comentários:
Adoreiiii!!!
Menina, a gente ta tao perto e nunca se ve!!! Let's make this happen, pelo amor de Deus!!!
E ve se me liga: 267-294-5332.
Beijos, Luana Oliveira
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