quinta-feira, dezembro 29, 2005

Pequenos apontamentos sobre coisitas não tão pequenas...

Ho,ho,ho! Finalmente chegam as festas de fim de ano. Aqui em NYC, você não pode dizer Feliz Natal, você tem que dizer Feliz Feriado que é pra não ofender ninguém, ninguém no caso quer dizer os Judeus, que aqui em NYC são muitos. Por que eu duvido que os Hidus ou Buditas se ofenderiam por ouvir Feliz Natal.
Saindo dessa questão religiosa, até por que eu passei o Natal no Texas onde eu definitivamente posso dizer feliz natal, preparei minhas malas pra ir pra Dallas finalmente conhecer a família do meu namorido*.
As experiências de conhecer as famílias dos meus namorados nunca foram assustadoras, mas confesso que dessa vez, eu estava com um gato no meu estômago. A família do meu namorido* estava passando por tempos difíceis, esse seria o primeiro Natal depois do divórcio dos seus pais.
Esse não seria o único problema, minha sogra, uma mulher muito religiosa freqüentadora de uma igreja protestante ortodoxa, com certeza preferiria que seu filho se amancebasse com uma garota Americana, branca e protestante, e não uma latina católica. Aquilo para mim não era grande novidade, minha avó também tinha suas preferências sobre os pretendentes de suas netas. O engraçado era eu ter que me preocupar por não ser branca e por ser católica. A última vez que tinha ido a uma missa foi quando eu tinha 9 anos de idades sob chantagistas lágrimas de minha avó, depois disso, só casamento e velório! Outra contradição, era a garota que era xingada de Sundown 300 nas praias do nordeste, estar agora perdendo o sono por não ser branca o suficiente! Assim, eu ia ruminando meus temores procurando um carro em plena greve de transporte público em NYC pra ir pro aeroporto as vésperas do Natal / Feriado.
Graças a greve-neurose a gente chegou no aeroporto apenas 4 horas antes do nosso vôo! Então vamos passar o tempo no aeroporto: opção de entretenimento 1, assistir DVD no lap top que estávamos levando pro irmão do meu namorido*. O filme em questão era Alfie, com Jude Law. Meu namorido* ama esse filme , sempre espalhou aos sete ventos que depois de Alfie, Jude Law virou seu ídolo, bla, bla, bla…estou eu nos meus primeiros 20 minutos de filme e o personagem em questão, o tal que supostamente seria o ídolo do meu com - sorte se apresenta como o maior galinha, safado, queixudo, cachorro da paróquia! Um certo desconforto surgiu, pra não dizer que eu queria quebra aquele computador na cabeça do meu namorido, eu resolvi que não queria mais assistir o filme, por que o Alfie era um podre e eu não gostava dele.
Opção de entretenimento 2: observar as figuras pitorescas que nos rondavam! Eu e meu nanorido*, pobres por que tínhamos acabamos de voltar do Brasil, compramos nossas passagens pela AirTrain, a companhia cata jeca também conhecida como caminhão leiteiro dos EUA. O que isso quer dizer? “Ah meu filho… se você voa pela AirTran ( ou pela Varig, diga-se de passagem) você não tem que temer o inferno!” Por que além de gastar o dia inteiro pra chegar em um lugar, você tem prazer de compartilhar esse dia com os estranhos passageiros da AirTrash!
As combinações mais absurdas de moletons com cabelos arrumados pra baile, tênnis com meia fina, e sem dúvida um significativo crescimento no peso médio das pessoas que nos circulavam, que me fez pensar que daqui a pouco os aviões vão ter que ficar maiores pra transportar o mesmo número de pessoas que transporta agora… perai!… talvez essa seja a explicação…os americanos estão ficando cada vez maiores , por isso aqui as coisas são tão grandes…e como no Texas as pessoas estão ficando ainda maiores, as coisas estavam ficando gigantescas! Isso explicava o ditado popular: “No Texas tudo é maior!”
E lá estava eu no Texas, minha sogra , me tratando bem, assim com meus cunhados, e eu, me empenhando agora em conhecer os amigos de infância e adolescência do meu namorido*. E disso não tenho que reclamar, me senti no Brasil, a hospitalidade Texana é sem dúvida comparada a nossa. Nesse ritmo de “vamos receber nossa nova amiga”, B, o amigo do meu namorido*, me compra uma cerveja…eu demorei um pouco até descobri que era uma cerveja, por que antes eu me perguntava se era o copo grande demais pra beber, ou pequeno de mais pra nadar…


Sobrevivendo as cervejas, mas com os braços doídos de carregar tanto peso, eu e meu namorido* nos juntamos a família no dia seguinte pra um pré-natal. Vamos assistir um filme e depois testamos a paciência em uma lista de espera de 45 minutos nesse restaurante denominado graciosamente de La Hacienda… soa até bucólico não? Eu respondo: “ Não!!!!!!!!!!!!!” Um restaurante inteiramente decorado com motives de caça e pesca!
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!! Bicho morto em todo lugar, parecia mais um necrotério do que um restaurante, veado, búfalo, alce, patos e qualquer outra coisa que pudesse me fazer completamente convicta da minha opção de ser vegetariana. Ornamentava empalhada as paredes daquele lugar, até mesmo um urso.

Quando a gente finalmente se sentou eu recebi um copo cheio de Coca que, claro, fazia juízo a disparidade métrica texana. Eu, sem perceber nada, suguei minha bebida pelos meus delicados canudinhos…quase morri afogada!!!!!! Os canudos eram cada um da grossura do meu dedo mindinho. Quando eu achei que não tinha mais espaço pra exagero eu desenrolei o guardanapo que cobria os talheres: um garfo normal e uma serra de pão? Eu morria de rir do tamanho da minha faca, enquanto a família do meu namorido ria de mim. Levando em conta o ambiente, imaginei se a comida não viria viva pra mesa, o que explicaria a necessidade de tamanha faca.

Exagerada é a melhor palavra que descreve o prato de comida que a garçonete colocou na minha frente, ou melhor, os dois. Eu fiz um pedido individual, um dos poucos vegetarianos do menu, e eu recebi a feliz surpresa: dois pratos, de aproximadamente 40 cm de comprimento cada. Comi um e nem toquei no outro claro.


Como um prato de 40cm, mesmo sendo a metade da minha comida, não é pouco, eu foi dormir.
Quando eu vou conhecer o pai do meu namorido*, ele nos leva finalmente pra dar uma passeada por Dallas: nem uma única pessoa andando a pé, tudo espaçado, tão longe(pior que Brasília) que todo mundo tem carro, nada “aqui perto” é a menos de meia hora, todos os lugares que paramos pra comer nos seis dias em Dallas, tinha uma fila de espera de pelo menos 30 minutos, e por ai vai… mas voltando ao tour,… fomos ver os famosos longhorns, os bois de chifre comprido que são o símbolo de Dallas cowboys, o time de football Americano de Dallas, que é o orgulho local. Eu disparei na gargalhada e comentei que no Texas os até os “chifres” tinham que ser maiores, mas o silêncio acompanhou minha observação…Aparentemente, a história do “chifre” ser sinônimo de traição tem origem Latina, e ninguém entendeu minha piada. Considerando que os pais do meu namorido*acabavam de se separar por causa de uma terceira pessoa, achei melhor fechar a boca em vez de explicar as diferenças culturais.

Depois dessa gafe, eu ainda vi algumas coisas exageradas na terras dos cowboys, mas essas eu deixo a encargo das fotos, por que essa história já tá pra lá de grande, mesma pra uma história sobre o Texas.

Greve!!!!!!!!!!!!!!!!!


Quando a gente ouve a palavra greve no Brasil, a gente pensa: “ De novo?” Aqui em NYC é uma coisa de outro mundo.
Na segunda-feira eu foi pro trabalho, enquanto tomava minha sopa de abóbora e separava as contas das mesas que eu tinha atendido durante a noite, liguei pro meu namorido* motivada pelos rumores de que uma greve no sistema público de transporte de NYC iria entrar em vigor a meia noite. Então, já passava da meia noite e pela janela do Café eu podia ver que os ônibus ainda estavam passando. Meu namorido* disse que os funcionários haviam negado a última proposta de negociação e que apenas acertavam os detalhes antes de anunciar a greve.
Como estava na rua 83 no lado oeste de Manhattan, e teria que andar a pé até algumas ruas depois da rua 1 no lado leste da ilha em caso de greve, engoli minha sopa e corri pra estação de metrô o mais rápido possível. Chegando lá, em menos de cinco minutos, meu trem passou… ufa!
Chegando em casa eu olhei o site do NY times pra ver a quantas andava a situação, por que , em caso de greve, eu não teria aula. Nada novo…dormi com o alarme programado pro horário de sempre. Acordei depois das minhas usuais 4 horas diárias de sono, obviamente cansada. Tentei ler o site do NY times, mas meus olhos ainda não tinham sido avisados de que eu tinha acordado, então eu pedi desculpas ao namorido*, que ainda dormia, e liguei a TV. Um repórter estava nas ruas, eram 7 da manhã, a temperatura era de menos 12 graus C: “ Cidadãos andam desesperados batendo nas janelas dos táxis, que por causa da greve, são obrigados a transportar 4 passageiros por vez, implorando pra serem levados pro trabalho”, depois disso eles mostraram a ponte que liga Manhattan ao Brooklyn, que estava lotada de gente indo a pé trabalhar nesse frio da desgraça com um vento que faz o olho da gente lacrimejar o tempo todo.
Sete milhões de pessoas usam o metrô todo dia em NYC, e de repente toda essa gente fica sem metrô ou ônibus, na semana do Natal, quando a cidade está cheia de turistas e todo mundo está fazendo compras…
Nessa hora, eu pensei no que eu estaria pensando sobre isso se eu estivesse no Brasil e não aqui. Provavelmente: “Vão caminhar seu bando de gordo!” Bem, como eu estou aqui eu penso : “Eu, dar o ar da graça pelas ruas de Manhattan nesse frio? Nem morta santa…”

terça-feira, dezembro 13, 2005

Cangaceira sim meu filho...



Crise de identidade…
Minha amiga foi embora e me escreveu. Disse que está meio sem rumo, sem lugar, que foi, mas ainda está aqui, ou algo do gênero…
O que eu posso dizer? Eu sei exatamente como ela se sente. Achou a resposta batida? Conversando comigo você pode facilmente perceber que eu tenho um sério problema de fixação de residência ( o que não deixa de ser irônico para alguém que esta entrando em um processo que solicitação de residência permanente para os EUA).
Meu sotaque original de fábrica é o de piauiense, e ele costumava ser bastante carregado até os 16 anos de idade, quando eu me mudei pra Belo Horizonte. Ouvindo a mesma pergunta toda vez que eu abria a boca: “Donde cê é?” eu respondia que era do Piauí, a reação era imediata: “ Ocê? Branquela desse jeito? Mas não é mesmo…” Até eles acreditarem era uma novela. Isso me deixava injuriada as vezes, parecia que me desligava de casa, acabava com as minhas referências…
Bem, lá pela metade desses 6 anos, eu adquiri um Segundo sotaque: o de mineira, que era como eu era reconhecida em qualquer lugar que não fosse Minas Gerais! Eu voltava pra Teresina e ouvia dos meus amigos brincarem: “Nosenhora, sô, traz um pão de queijo pressa menina que se não o trêm vai isquentá!” Uma vez , passando o Reveilon no Rio com minha prima mineira que morava a um ano em São Paulo, um taxista perguntou se a gente era mineira, por que, segundo ele, o seu sotaque da minha prima (mineira legítima), ainda é mais ou menos, mas o meu era muito carregado!
Então, aos 22 anos de idade eu tinha sotaque de piauiense em Minas, e de mineira no resto do Brasil. Foi quando mudei pro Rio, onde inicialmente todos achavam que eu era mineira na primeira frase, inclusive eu! Fora da influência do sotaque mineiro, meu sotaque de piauiense foi reaparecendo, mas algo sombrio aconteceu…enquanto eu tinha aulas de fono pra perder a mineirisse e o tempero nordestino, eu fui pegando sotaque de carioca! E ai meus amigos mineiros falavam: “Não, cê jura quocê é carioca, né ?!”
Ai ao 23, eu tinha sotaque de mineira, em todos os lugares menos Minas, sotaque de carioca em Minas, sotaque de piauiense dependendo do meu humor ( por que quando eu fico brava, baixa a cangaceira em mim, que você jura que eu nunca sai do Piauí), e confusão mental em Teresina, por que ninguém entendia mais nada por lá.
Pois bem, lá vai a Piauí pra NYC! Em um lugar onde minhas melhores amigas se chamam :Sui An, Tei An e Quen Uan você pode imaginar o balaio de gato que é esse lugar e a bagunça de sotaques que imperam por aqui. Eles são muitos: asiáticos, latinos, árabes, europeus…e mais uma vez eu sou reconhecida pelo meu sotaque.
Eu, garçonete, de tanto ouvir a mesma pergunta, reconheço agora a questão pela expressão facial das pessoas: “Posso te perguntar uma coisa, e esse sotaque, é de onde?” Quando eu estou de bom humor eu pergunto de onde eles acham que eu sou, e lá vai: inglesa, russa, eslovena, croata, irlandesa, sul americana, são maioria nos chutes, mas as vezes eu ouço, espanhola ou francesa. Os poucos que acertam que eu sou brasileira, eram brasileiro, moraram no Brasil,ou tinham amigos brasileiros…
Bem, o fato é que agora eu não tenho que me preocupar com meu sotaque piauiense –
mineiro - carioca, por que, ao som de qualquer palavrinha descompromissada, meu namorido* rola de rir do meu sotaque, e não tem santo no mundo que me faça pelo menos saber do que é que ele está rindo…

Termômetro culinário...




Por que homens são chefs e mulheres cozinheiras
( Por que a gente não tem saco pra isso)
( Escrito domingo )


Então, hoje é domingo, o natal tá chegando e meu “com sorte” resolveu cozinhar! Bem, não qualquer coisa, ele queria cozinhar toffee!
Ontem à noite, quando eu cheguei do café onde eu trabalho, as 5:00 AM, eu vi um monte de coisas na cozinha. Uma barra de chocolate, um saco de nozes, e um termômentro de cozinha?! Eu estava muito cansada, por isso dormi, sem especular muito sobre o tal apetrecho. Na manhã seguinte, acordei e o entusiasmo do meu namorido* fazia meu cansaço pelo dia anterior parecer ainda pior diante de tanta energia. Tudo isso tinha uma explicação: a gente ia fazer toffee!
Tá bom! Mas o que vem a ser isso? Você se pergunta. Vou ter que admitir que eu fiquei cozinhando um bom tempo até entender o que ia virar a tal gororoba que eu mexia naquela panela.
Extremamente equipado, com seu temômetro de panela, e seus copinhos de medida, sem os quais ele não faz nada na cozinha, o namorido* pediu minha surpevisão culinária.

* 2 xícaras de açúcar- e ele tira os seus copinhos de medida e faz a maior bagunça ao tentar nivelar perfeitamente o açúcar no topo do copo com a ajuda de uma faca.
* 2 xícaras de nozes torradas e moídas- e ele me faz separar exatamente a medida de uma xícara em uma vasilha e uma em outra, outra vez com seu copinhos de medida exatas!
* 3 colheres de sopa de mel Karo - esse ele usou os copinhos de medida, separou em uma vasilha e na hora de por na panela ficou segurando por uns cinco minutos tentando derramar até a última gota.
* Chocolate também teve que ser separado irmamente em duas partes iguais.

Colocamos a gororoba na panela pra cozinhar e lá vem o namorido* com o termômetro dele. Crava aquele troço na nossa modesta panela o que faz o cenário no mínimo inusitado. Lá estava o pobre do termômetro completamente desenturmado do resto dos apetrechos culinários. Parecia uma madame tentando se equilibrar no salto enquanto andava num chão batido de terra.
Bem, a função deste trambolho, o termômetro culinário, era nos avisar quando a gororoba tivesse atingido a temperatura de 300 graus F. Neste ponto eu tenho que adimitir, se não fosse o termômetro…a desgrama do negócio cozinhou por mais de 40 minutos , enquanto eu e o chef namorido* pratricamente chocávamos a panela, cozinhando a cara no vapor quente da panela tentando ver a temperatura. Se eu fosso a chef, tinha arruinado tudo tirando do fogo com 20 minutos no máximo!
“Atingidos finalmente os 300 graus F, despejamos o troço em uma forma coberta com papel vegetal”- chef namorido* diz. Eu como humilde supervisora respondo: “Você comprou papel vegetal ?” E lá se vai chef Namorido*, correndo derrapando no chão congelado de NYC, sair do aconchego quentinho do lar pra comprar papel vegetal.
Quando Chef voltou eu já estava mais que atrasada pra ir trabalhar: calcei minha meia kendel, minhas duas meias calças, uma meia soquete e finalmente minha calça, que vem sendo abotoada com alfinete a dois meses por que eu perdi os botões e não crio vergonha para consertar. Mais duas blusas, um casaco de lã, meu sobretudo e agora sim, lá vou eu trabalhar.
Ansiosa pra saber o que tinha acontecido com o resto do toffee, eu servia as mesas no restaurante onde trabalho, quando senti meu celular vibrar no bolso. Era uma mensagem: “ O toffee está uma delícia!”
Sai do traballho a 1:30 am e estava tão ansiosa pra provar a experiência do chef namorido, que em vez de pegar o metrô e um táxi, como de costume, entrei direto no primeiro táxi que eu encontrei. Cheguei em casa e corri pra cozinha (hahah como se eu tivesse uma!) e lá estava o dito cujo: toffee! Então, você é o tal! Dei uma dentada e… não é que o namorido* tava certo! “ O toffee estava uma delícia!”

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Eu amo meu namorido*...




Então meu namorido* disse que todos meus amigos iam achar que ele era um cafajeste depois de lerem minha página de abertura. Para esclarecer, vai uma fotinha que mostra como eu amo meu namorido* e uma observação: eu sou carne de pescoço!

conversa de avião...

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Primeira coisa...

Ai, ai, dia perfeito pra iniciar um trabalho como esses: gripada, matei aula pelo segundo dia consecutivo. Fora do meu apartamento a temperatura é de -3 graus, o que me desanima completamente de por meu nariz ao relento.
Mas a questão é que eu mal comecei essa história de blog e já tô puta...
Falando pro meu ilustríssimo namorido*(namorado/marido... depois eu me explico) que eu estava criando um blog a pedidos de minha prima que eu não vejo há anos, eu descubro que o dito cujo possui um! Com assim, descobre? Você tem um namorido*, divide com ele o mesmo teto a (junho, julho, agosto,...) seis meses!... E só agora descobre que ele tem um blog!
Meu senso de auto crítica esperneou dizendo:" Não é você que presa pela preservação da individualidade no relacionamento? " Em vão... abafada por minha ciumenta curiosidade fui investigar suas intimidades, claro, previamente autorizada pelo envio do respectivo link pro meu e mail!
Estrategicamente batizado de Contos Imaginánios, o que o isenta automaticamente de qualquer responsabilidade por atos relatados, o blog fala de suas viagem enquanto trabalhava em Atlanta e só voltava pra NYC nos fins de semana.
Enquanto meus olhos entediados e gripados percorriam os relatos sobre mudanças nos seus projetos e sobre vôos atrasados, minhas feições se desfiguraram diante das palavras que quase me passaram desapercebidas pela superficialidade de leitura que as devotava: “exótica garota” ! "What fuck is this? Porra!" (Adoro quando meus palavrões se misturam as bad words!)
Bem, ele fala de como ele sempre se preparava pro vôo esperando que ao lado dele se sentasse uma "exótica garota",... bla, bla, bla,... e ela leu o mesmo livro que você está lendo,... ble, ble, ble, ....ela vai visitar as amigas...bli,bli,bli...por que o namorado chifrou ela...blo,blo,blo,...ela lia uma revista enquanto ele, sem se concentrar lia repetidas vezes as mesmas três palavras,... blu,blu,blu... ela sorria sobre a revista e parecia linda fazendo isso! Ah não! Ai já é demais! Se minhas amigas de infância estão lendo isso, elas dividem agora a minha indignação e amaldiçoam o infeliz do meu namorido*!
Movida pela raiva, eu pensei em esmurrar a mesa, mas antes que o fizesse, me lembrei de que a mesa, que é fixada na parede, havia se desprendido da mesma e sido consertada por meu namorido*dias antes. Sendo assim, fiquei com medo de derrubar o compudator dele no chão, e quebrar, uma vez que se trata de um lap top da Apple, e a lisa aqui nunca teria como pagar. Ai você se pergunta: “Que idiota é essa que descobre que o namorido* esteve flertando com outra mulher e ainda se preocupa se vai ou não quebrar o computador do cara?” E eu te respondo: “Pra você ver como meu senso de pobreza é poderoso!”
Acalmada pelo outro senso, o de auto crítica que emergiu das profundezas de onde eu o havia enterrado, eviei uma mensagem que dizia apenas: “a linda garota com que você sempre sonha quando tem que voar…”
De sobrancelhas franzidas e sacodindo meu pé enraivecidamente aguardei a resposta esbravejando: “ Contos imaginários, sei…”
A resposta foi rápida: “ Isso faz parte do meu livro, que eu escrevi dois anos atrás, só achei que seria um bom começo pra um site dedicado a consultores que voam duas vezes por semana.”
Hamm… ele já havia me contado sobre o tal livro que não terminou…hemm… contava a história de um cara que não destinguia realidade de sonho… himm… voltei ao blog pra reler o texto…homm… um último e inesperado parágrafo havia passado desapercebido…humm… ele terminava dizendo que na verdade, quem sempre acaba sentando do seu lado, são homens que deveriam comprar duas passagens, uma vez que ocupam um assento e meio, e sempre enterram o cotovelo na sua cara pra ler o jornal… faz sentido…
Claro que eu não torci o braço assim tal fácil, e por isso recebi castigo divino e instantâneo. Enquanto eu escrevia meu argumento, eu derrubei todo meu almoço no chão! Castigo? Agora além de gripada e entediada eu ia ficar com fome!

* Bem, esclarecendo a questão namorido:
Namorido foi a melhor palavra encontrada pra descrever uma pessoa que é casada oficialmente, que vive com sua esposa, que é fiel (pelo menos é o que ele diz), mas que psicologicamente não se sente casado. Achou confuso? Então somos dois!
O feminino de namorido é…, nenhum, por que o gen que causa esse confusão mental se encontra no cromossomo Y!