Claro que rolaram umas
briguinhas aqui e ali, mas a melhor parte de namorar o Grandalhão
era perceber o quanto era fácil de resolver as nossas dificuldades
juntos. A pior, era pensar que estava praticamente de malas prontas
para voltar para o Brasil! Tinha falado pra ele que ia embora no dia
em que nos conhecemos, por tanto isso sempre foi uma sombra sobre o
nosso relacionamento que havia nascido já com data de validade.
O que deveria ser um
problema, acabou nos unindo. Estranho como quando não temos
expectativas a serem alcançadas nós nos libertamos. Entrar em um
relacionamento sem expectativas é pedir demais de qualquer pessoa
normal. Quando conhecemos alguém, nós automaticamente projetamos
nossos desejos e sonhos nesse pobre coitado. O pior é que
infelizmente é algo que fazemos inconscientemente. No meu caso, o
que me salvou dessa armadilha foi justamente o fato de o futuro não
ser uma possibilidade para nós dois.
Pode parecer deprimente,
mas resolvemos aproveitar o tempo que tínhamos em vez de ser
preocupar com a separação eminente. Foi assim até a hora da tal
“eminência” chegar perto. Nós já estávamos tão envolvidos
que a separação havia se tornado uma inviabilidade.
Quando o Grandalhão teve
que renovar o seu visto, fui quanto me deparei com um drama que a
alguns anos tinha sido meu. Ao renovar seu visto, o moço seria
autorizado a ficar no país, mas se precisasse deixar a América por
algum motivo, não voltaria. Me lembrei de quando cheguei. Minha avó
estava muito doente e eu temia diariamente ter que escolher entre
estar com minha família em um momento importante e nunca mais poder
voltar aos EUA. O Grandalhão que não sentia a pressão óbvia de
ter um parente doente, não percebeu a encruzilhada, mas eu mal pude
deixar de lado o fantasma de sete anos atrás. Depois de muito ouvir
as idas e vindas com sua advogada minha ansciedade foi se acentuando
até que um dia explodiu:
“Amor, na vida
encontramos problemas que nós não podemos evitar. Esse seu problema
não é um deles!”- disse segura de mim mesma.
“Como assim?”- indagou
meu amado.
“Eu vou casar com você,
a gente resolve esse problema, assim nós nos concentramos nos outros
tipos de problemas”- respondi.
Ainda estava de viagem
marcada, mas na minha cabeça, mesmo voltando para o Brasil, eu
preferia deixar o Grandalhão em uma situação legal favorável.
Mesmo que não fosse para ficarmos juntos, queria que ele ficasse
bem, e foi o que eu disse para ele.
Comovido com o gesto, ele
agradeceu e disse que renovaria o visto por 3 meses o que nos daria
tempo de discutir melhor o casamento. Algumas semanas se passaram.
Andava em uma lojas de departamentos procurando vestidos para minha
mãe comparecer ao casamento de minha prima quando meu telefone
tocou.
“Queria falar com você
sobre o casamento!”
Ele repetiu várias vezes
o quanto era grato. Expliquei que ele teria que ficar casado comigo
por pelo menso dois anos antes de poder se separar. Uma expressão de
confusão tremulou sua voz.
“Se separar? Por que eu
iria me separar?”
Explicou que se casaria
comigo no civil para que a papelada se adiantasse, mas que assim que
nos fosse conviniente que faríamos duas festas de casamento: uma no
Brasil e uma na Irlanda. Completou dizendo que só se casaria comigo
se fosse de verdade. Ele sabia que era muito precipitado, mas que
tinha certeza de estar tomando a decisão certa.
A idéia era ridícula!
Nós estavamos juntos a quatro meses. Muitos de meus amigo de NYC não
haviam ainda nem conhecido o Grandalhão, mas por mais que tentasse
ponderar, não consegui achar dentro de mim um motivo para não
seguir a diante. E foi assim, conversando com ele no telefone no dia
em que o furacão Sandy atingiria Nova Iorque, que fiquei noiva. Quando minhas amigas no Brasil me perguntaram como fiquei noiva, a resposta é a menos romántica possível: "Eu falei pra ele que ia casar com ele!" Cara-de-pau essa Laurinha!
Havia acabado de falar
com minha mãe por umas 5 horas quanto tive essa conversa com meu
bofe. Resolvi espera até o outro dia para ligar e avisa minha
família da minha decisão. Já era bem tarde quando o Noivo me
mandou uma mensagem perguntando se podia colocar no Facebook que a
gente estava noivo. Concluí que meus pais estariam dormindo e disse
sim. Meu plano era acordar e ligar para os dois de manhã cedo
contando a novidade. Claro que não foi isso que aconteceu...
Meu pai, que estava
preocupado com a chegada do furacão Sandy a NYC, pediu ao meu irmão
que averiguasse se eu estava bem. Meu irmão entrou direto no
Facebook e, para minha complicação, viu a mudança de meu
relacionamento:
“Ei pai, ela deve tá
bem, tá aqui dizendo que ela acabou de ficar noiva!”
O pobre do meu pai não
entendeu nada, seguido por minha mãe que também não tinha
conseguido dormir pensando no tal furacão. Meu telefone começou a
tocar, era ela. O problema era que há essas alturas, o furacão já
estava assanhando os cabelos da gente por aqui e o sinal de celular
estava uma porcaria. O jeito foi acalmar a pobre pelo Facebook. Minha
sorte era que na longa conversa que nós tivemos no mesmo dia ela,
não muito discretamente, insinuou várias vezes que ela queria um
neto:
Mãe: “NOIVA!!!!!”
Eu: “Você fica aí me
pedindo um neto, o jeito foi eu arrumar um noivo :).”
Laurinha,
cara-de-pau ao quadrado!