Gripe é uma bênção que vem quando a gente não consegue outra desculpa pra descansar! Hoje acordei sem voz, com muita dor de garganta e ouvido. Para melhorar a situação, o clima, que andava surpreendentemente ensolarado para Janeiro em Nova York, virou e amanheceu nevando. Por isso, quando cheguei ao trabalho dizendo pro meu gerente que estava me sentindo mal, ele me deixou ir pra casa. Afinal de contas, quem em seu são estado sairia de casa com aquele tempo por livre e espontanea vontade? O restaurante não ia ficar cheio mesmo...
Enfim, aqui estou eu morrendo de dor de garganta; comi um almoço supernatureba e reforçado e até comprei uns remédios pra gripe, mas quando passei o olho na estante, vi o melhor remédio para minha gripe: uma taça de porto!
Para falar a verdade, quase abri uma garrafa de champagne que está na geladeira desde do Natal, mas achei que o Porto seria mais apropriado para escrever essa história!
Natal
É difícil escrever sobre coisas que já passaram há algum tempo e o Natal pra mim foi há séculos...
No meio de novembro, eu andava louca vasculhando todo tipo de loja procurando pelos melhores preços em enfeites de natal. Nada parecia caber no meu apertado orçamento. Tinha resolvido mudar de vida. Queria outro trabalho onde ganhasse mais e tivesse que trabalhar menos. Para isso, comecei um longuíssimo treinamento de 10 dias de um restaurante japonês. Enquanto isso, eu também trabalhava 3 dias no Grego e ia pra Faculdade duas noites por semana. Para piorar a situação, treinando, eu não ganhava quase nada e a pobreza chegou antes do Natal: great timing!
Pobreza inspira criatividade: resolvi fazer meus próprios enfeites de natal. Vasculhei os sacos de retalhos, comprei uns laços e toda a hora que eu não estava trabalhando ou estudando, eu costurava, cortava, colava e bordava enfeites de natal. Não decorar, não era uma opção, pois eu tinha me prontificado a fazer uma festa de Natal uma vez que minha mãe estava a caminho. Na verdade, acho que o que bateu foi o pânico de passar Natal longe do Brasil.
Eu adoro Natal! Sempre gostei! Na família da minha mãe, Natal sempre foi importante; na do meu pai, a tradição morreu com meu avô. Acho que todo mundo perdeu também um pouco da coragem de celebrar Natal depois da morte da minha tia, que morreu logo depois do Natal num acidente horrível. Dois anos atrás, foi a vez da minha avô materna que só segurou o fôlego até o dia 26. Acho se todas essas coisas se juntassem com o fato de eu não ter dinheiro para ir ao Brasil, de eu ter quase trinta anos e estar trabalhando de garçonete e de ter que trabalhar no Reveillon, o Natal seria uma choradeira. Tratei de ocupar minha mente com os preparativos da minha festa de natal.
Convidei todos os amigos exilados como eu que não podia ir para seus respectivos países e gastei até o último centavo com comes e bebes. Minha mãe veio e convidou um aluno de Teresina que estava fazendo um intercâmbio perto de NYC. Na lista de convidados: uma amiga filipina, uma grega, um casal sérvio, um casal gay grego-americano...se ouviam tantas línguas nessa casa que dava para confundir o juízo de qualquer um!
Quase morri de saudade da minha amiga Elina que estava na Chechenia, fiquei o tempo todo pensando nas coisas mais absurdas que ela estaria falando na mesa, me matando de rir e de vergonha ao mesmo tempo! Acho que o medo de ficar triste foi tanto, que eu cozinhei para um batalhão, ainda hoje tem bobo de camarão no congelador!
Quando o último dos meus amigos saiu pela porta de casa com o Titi (é como eu chamo o grego) foram-se todas a minha músicas de natal, minhas noites fazendo ornamentos e mantendo minha mente ocupada...
Reveillon
De volta a realidade, seriam dias de antecipação para o que eu tinha conseguido evitar nesses 4 anos de New York: trabalhar no reveillon. Seria a primeira vez, e a gente sabe que a primeira vez a gente nunca esquece, não necessariamente por bons motivos. O treinamento no japonês tinha terminado e tinha posto de lado uma sensação de desconforto que sempre sentia no restaurante, tentei me concentrar no fato de ser um lugar mais caro, mais bacana, onde eu ganharia melhor, principalmente no reveillon.
A noite chegou e eu não consegui disfarçar meu desolamento, enquanto todos os garçons bebiam escondendo copos de plástico nos cantos do restaurante, eu respirava fundo e esperava a noite acabar, ou melhor, o ano acabar.
A noite acabou mas o ano não virou para mim. Na verdade, o reveillon veio como a maioria das coisas vem vindo na minha vida recentemente: meio dormente. É quase como se o meu corpo e mente nunca estivessem no mesmo lugar. Fiquei por um tempo especulando se minha mente fugia do meu corpo quando ela não agüentava mais ficar onde meu corpo tinha que estar. Se isso era bom ou ruim...? Ha um tempo me sinto assim, como se não estivesse realmente vivendo minha vida, ando esquecendo cada vez mais as coisas que aconteceram recentemente, provavelmente, por que só o meu corpo presenciou aquilo, minha mente estava divagando. Cogitei se isso podia ser um início de uma esquizofrenia ou algo do tipo. Pensei se eu estava virando um daqueles personagens de filme que a gente vê, sentados em um asilo olhando para o nada perdido em pensamentos. Depois, achei que era só super-exposição a informação de mais. Tudo anda sendo muito: muitas pessoas, muitos lugares, muitos projetos, muitas coisas que eu poderia estar fazendo em vez de desperdiçar tempo como garçonete.
Portugal
Com tudo isso nem percebi que já era hora de ir para Portugal. Arrumei as malas ainda sem a real noção do que estava acontecendo. No aeroporto, reparei numa mania estranha que eu desenvolvi desde que comecei a escrever o blog: viver em narrativa. Sempre que estou fazendo algo que não pede concentração mental, escrevo mentalmente. Fiquei pensando se isso também não era sinal de loucura, mas como ando sempre atrasada com o blog, preferi considerar isso um exercício narrativo-criativo-analítico.
A viagem foi um inferno, sentada na poltrona do meio para poupar minha mãe e minha madrinha da fria, viajei apertada num vôo para Marrocos cheio de gente fedorenta. Tive que por um pouco de perfume no cachecol e cobrir o nariz com o mesmo. No aeroporto do Marrocos o caos reinava. Todo mundo falava Francês o que não era o pior dos problemas, minha madrinha arranhava um pouco e eu, apesar de não falar quase nada, entendo um bocado. O problema era que eles não sabia o que fazer com o povo, deixaram a gente esperando uns 40 minutos de pé num cato sem deixar a gente passar pela segurança. Minha madrinha e minha mãe se ocupavam com coisas praticas como beber água e achar um banheiro, enquanto eu observava coisas frívolas, como o cachorro da polícia. Um poodle! O cão policial era um poodle! O que diabos aquele cachorro de madame fazia como cão policial. Lembrei de um programa que dizia que o poodle é a terceira raça de cachorro mais inteligente do mundo, mas nada poderia explicar o estado do cachorro! Parecia que ele tinha rolado no barro o dia todo antes de ir trabalhar. Para piorar o cachorro fez xixi no meio do aeroporto e o guarda não deu a mínima, todo mundo saiu pisando e arrastando rodinha de mala em cima do xixi do cachorro. Eca, comecei a detestar o Marrocos aí! Quando finalmente enchi o saco, foi falar com outra funcionaria do aeroporto e perguntar se eu podia passar peal segurança, ela disse que sim, ou seja, a outra anta tinha feito a gente esperar 40 minutos por nada.
Depois de horas no Marrocos, entramos num ônibus que nos levaria ao avião. Nesse momento uma chuva torrencial começou a cair. Sem a menor satisfação dos funcionários, o ônibus ficou parado com as portas fechadas no meio da pista por 40 minutos. Quando consegui enxergar fora do ônibus, vi uma mexeção de mala, tira de um lado do avião , põe do outro... foi quando abri minha boca maldita: “Duvido que as nossas malas vão chegar em Portugal com essa bagunça!”
Depois dos 40 minutos no ônibus, ninguém se assustou quando descobrimos que nossas malas tinham sido perdidas quando chegamos a Portugal. Fomos ao hotel sem mala e todas desmaiaram imediatamente. Durante a noite, descobri que não era muito boa dividindo quarto, passei a noite em claro!
Na manhã seguinte, usando uma calcinha comprada na farmácia e a casaquinho de malha, sem a camiseta que tinha sido lavada na pia e estava secando no banheiro do hotel, sem ter dormido dois dias seguidos, e sem minha maquiagem que andava perdida pela África, eu era a imagem do capeta. Pior que minha cara, só meu humor!
Palácio de Queluz
Encontramos duas amigas da minha mãe que estão vivendo em Portugal, uma fazendo mestrado, a outra, doutorado, elas estavam de carro levando a gente para passear. Fomos ao Palácio de Queluz. Quando ouvi essas palavras, meu espírito de repente se animou. Muito antes de saber que iria para Portugal, pedi para a minha mãe me mandar um livro por uma amiga que minha para NYC: 1808. História da fuga da família real para o Brasil.
Milhões de críticas a livros como esses, blábláblá... não to nem aí! Adorei ler o livro e fiquei interessadíssima e ler mais sobre a história do Brasil, até por que se depender de me lembrar do que aprendi na escola, passo vergonha! Além de 1808, atualmente, estou lendo os Maias, leitura penosa para uma pessoa que detesta descritísmo como eu: Eça de Queiroz descreve o tecido da lapela da jaqueta do criado que serve o cafezinho...aff! É melhor do que yoga para exercitar minha paciência! O pior é que eu quero ler o disgramado do livro.
Voltando ao que interessa, quando ouvi Queluz, perguntei: “O Palácio da Maria Louca?”Lá estava, na minha frente, o lugar onde Maria I enlouqueceu, onde D. João VI viveu com a família real até a fuga para o Brasil. Era como se páginas e páginas de imagens desfocadas criadas pela minha mente fossem ficando cada vez mais nítidas a cada porta que cruzava. Os salões de madeiras “exóticas”, as paredes pintadas de ouro, as suntuosas capelas, a porcelana e os biombos das colônias asiáticas... tudo ficando cada vez mais tangível.
Depois de ver os quartos onde foram concebidos os príncipes, os escritórios onde tratados foram assinados, salões onde a realeza resolveu o futuro do nosso país, a vista do jardim foi quase uma catarse, como se eu tivesse sido expelida de um túnel do tempo. Uma sensação de raiva confusa tomou conta de mim. Um paradoxo entre a sensação amarga de ter sido colonizada e o reconhecimento da própria identidade.
A saída do Palácio era o pomar, um laranjal enorme. Não pensei duas vezes: “Vou roubar uma laranja real!” Peguei duas laranjas de Queluz movida por um impulso infantil de pegar algo que quem tanto tinha tirado do meu país.
Projeto Bacalhau
Depois do palácios, nós estávamos mortas de fome. Fomos a um restaurante próximo recomendado pelo pessoal do palácio. Foi aí que comecei meu plano suicida de auto-intoxicação com bacalhau. Bacalhau é uma das poucas comidas no mundo da qual nunca fui muito fã. Sempre fui uma criança que gostava de quiabo, abobrinha, espinafre, mas bacalhau... sempre experimentei, mas nunca gostei! Claro que não deixei isso impedir meu plano: comer bacalhau todos os dias que eu estivesse em Portugal! Só para ver de onde vem a fama.
O primeiro bacalhau foi com “batatas ao murro”. Intrigada com o nome do prato, perguntamos em que consistiam as tais batatas. Pois bem, sutileza não é o forte dos portugueses: pegue uma batata cozida e dê um murro nela e voila : batatas ao murro!
Ah no fim da tarde, liguei para o aeroporto e finalmente as malas tinha chegado no aeroporto e já estavam a caminho do hotel. Com essa informação resolvemos aproveitar o resto da noite para ir ver o famoso Fado!
Fado na Alfama
Alfama é um dos vários lugares em Lisboa onde os vestígios das ocupações Romana e Árabe, duas civilizações mais dominantes no passado de Lisboa, podem ser observadas. Ruas estreitas que em alguns trechos mais se assemelham a labirintos, sobem e descem as
íngremes ladeiras.
Alfama vem do árabe “al-hamma”, o que significa banhos, ou fontes. Uma falha geológica é responsável por uma série de nascentes que ao longo dos anos foram encanadas para alimentação de chafarizes.
A primeira ladeira era escura e assustadora. Descemos mas logo após a primeira curva, vi velhinhas e crianças correndo. Cada rua caia em um entroncamento de 3 outras. Escolher para onde ir, era um jogo de sorte. Vendo nossas expressões de perdidas, uma garotinha loira de uns oito anos parou e perguntou se podia ajudar. Respondi que procurava por Fado. Ela me disse que a seguisse, mas logo vi que a garota corria rápido demais para que minha mãe e as outras pudessem acompanhar, por isso disse que seguiria com a garota e voltaria para busca-las. Tenho que admitir que até eu tive problemas seguindo a menina. Me apontou uma casa de Fado e disse: “Diga que a pequena Marina te trouxe, eles são meus amigos, as vezes eu canto Fado lá!” E do mesmo jeito que apareceu, desapareceu nas curvas D’Alfama. Me perdi umas 3 vezes tentando voltar para encontrar minhas companheira. Finalmente, ouvi suas vozes e as encontrei. Chegamos a casa de Fado.
A origem do Fado tem alguma controvérsia, mas o nome vem do latim “fatum”, o que significa destino. O Fado talvez seja ritmo mais melancólico que já ouvi. Enquanto tomava minha sopa de peixe, e bebia vinho tinto, as poderosas vozes dos faditas buscavam dentro do meu corpo pelas mais tristes lembranças de minha vida e as traziam a tona. O ponto mais melancólico da noite foi quando uma das amigas de minha mãe resolveu tocar. Durante o intervalo dos fadistas, a amiga de minha mãe perguntou se podia tocar o violão. Ela vive em Coimbra, enquanto termina o doutorado em arqueologia, mas sua graduação foi em violão clássico. Ela segurava o violão quase que maternamente e nos seus olhos se via uma saudade fadista. Era como se a artista tivesse virado cientistas, mas no fundo a vontade de tocar ainda existisse sufocada pela realidade. Não preciso dizer que me identifiquei com sua melancolia. Sai do fado com a alma pesada.
De volta ao hotel, nos entregamos a materialista felicidade do reencontro com nossas malas. Minha madrinha morria de felicidade ao reencontrar todos os seus eletrônicos. Respirei aliviada por não ter que gastar mais dinheiro, meu orçamento para a viajem já era pequeno, que se tivesse que comprar roupas para 8 dias, não ia sobrar nem pra um cartão postal. Outra felicidade, foi encontrar meus protetores de ouvido, que me permitiram dormir um pouco a noite.
No outro dia, fomos a Coimbra. Tenho que dizer que a cidade universitária de Portugal me encheu de vontade de voltar a estudar. Resolvi que ia fazer mestrado! Até escolhi meu apartamento em Coimbra. Depois de beber duas garrafas de vinho tinto no almoço, estava até dizendo para a garçonete que seriamos vizinhas. Adoro como consigo em 15 minutos resolver minha vida quando estou bêbada, kkkk... Claro que quando o álcool se diluiu eu pensei que Coimbra era calmo de mais para mim e que por mais que NYC esteja me enlouquecendo, era melhor eu achar um lugar um pouco mais cosmopolita pra viver por 2 anos. Fui embora pensando em como eu faria para estudar, passar por Coimbra, mas faria meu mestrado em outro lugar um pouco maior...
Dez anos depois
De volta a Lisboa finalmente liguei para meu amigo Holandês. Um belo dia, enquanto ainda estudava na UFMG em Belo Horizonte, minha amigas me puxaram pelo braço para me mostrar esse novo aluno de intercâmbio que era totalmente “meu tipo”. Meu tipo segundo elas era : loiro, alto e magrelo, e o gringo em intercâmbio cobria todos o requisitos. Assim que vi Leo, soube que nos seríamos amigos e nada mais. O tempo passou e nós viramos bons amigos. A escola toda achava que ele era apaixonado por mim, e vice versa. Mal sabiam eles que o Leo era gay e que o namorado dele era um gato! Ele acabou voltando para Amsterdan e se casando com o namorado e nós perdemos contato. No verão de 2009, recebi uma mensagem no Facebook: era o Leo! Santa tecnologia, ele estava a cinco anos vivendo em Lisboa e tinha se separado do marido lindíssimo que ele tinha! Depois de dez anos, lá estava eu no telefone conversando com meu querido amigo de faculdade. Ele continuava reforçando os “dez anos”, e eu me senti horrivelmente velha: DEZ ANOS, DEZ ANOS....
Marcamos de nos ver no fim da tarde do outro dia. O plano era ir a Torre de Belém, ao Mosteiro dos Jerônimos e ao Castelo de São Jorge, onde eu encontraria meu amigo.
A Torre de Belém! Waw, que coisa mais maluca! Difícil explicar o que é subir aquelas apertadas escada, passar pelas pequenas portas e avistar o Tejo... pesar naquelas pessoas que se entregaram ao mar em busca do desconhecido. O que diabos deve ter motivados os Portugueses. Seria a sua posição na península? Olhei o Tejo e o horizonte e a melancolia faditas ressurgiu...imaginei meus ta-ta-ta-ta...taravós saindo dali nas Naus Luzitanas e mudando o destino de tantos povos.
As coisas se arrastaram e quando entrei no Jerônimos , vi que tinha pouco mais de duas horas para estar no lugar marcado no Castelo. Me separei da minha mãe e de minha madrinha e literalmente corri pelo Jerônimos. O mosteiro é lindo e enorme, um exemplo da riqueza de Portugal na época dos descobrimentos. Além da parte que visitei, haviam ainda dois outros museus abrigados dentro do mosteiro. Patrimônio da humanidade desde de 2007, o mosteiro é considerado uma das sete maravilhas de Portugal ( não me pergunte das outras seis!) . Além da mais imponentes de todas a igrejas que eu vi em Portugal, o mosteiro também inclui túmulos de figuras históricas como Camões, Vasco da Gama e Fernando Pessoa.
Saí correndo de lá, querendo ter mais tempo. Totalmente desorientada, entrei no primeiro elétrico (como eles chamam os bondes) que vi indo na direção da Alfama, onde fica o Castelo. Dentro do bonde uma senhora me disse que teria que andar um bocado. Como eu tinha vinte minutos, não me importei. Quando desci do ônibus, vi que o problema não era andar, e sim subir! Subi as ladeiras da Alfama correndo, mas uma coisa me fez parar. Passei em frente a Igreja da Sé, a catedral da cidade, resolvi dar uma entradinha. A grande robusta Igreja em estilo românico estava em esplendor! Um músico estava tocando o majestoso órgão da igreja. Já vi muitos órgãos nas Igrejas de Lisboa e de Minas Gerais, mas nunca tinha ouvido um sendo tocado. O som preenchia todo o ambiente da igreja usando a arquitetura do lugar como uma grande caixa de ressonância. Portugal é conhecida como uma das nações mais carolas do mundo, mas ali sentada naquele lugar ouvindo aquele música, até eu tive vontade de falar com Deus! Saí dali querendo voltar, mas me sentido sortuda por ter ido num momento tão especial. Acabei chegando ao castelo mais cedo do que precisava, o que me deu tempo de recuperar o fôlego antes de encontrar meu amigo.
Finalmente encontrei o Leo. Os dois ficamos horas dizendo como dez anos pareciam não ter passado, como eu estava bem, como ele não tinha mudado nada, como era engraçado conversar com ele em Português, por que na Faculdade ele falava tão pouco. Ele me levou a um café cultural que oferecia belíssima vista de Lisboa e do Tejo.
Depois de horas colocando dez anos de fofoca em dia, ele resolveu me levar para jantar. Perguntou o que eu gostaria de comer e a resposta foi óbvia: Bacalhau. Disse a ele que estava em uma dieta de bacalhau e ele me perguntou que tipo de bacalhau queria comer. Desde o primeiro dia, quando fui a Queluz, as amigas de minha mãe tinham dito que o melhor bacalhau era um tal de Bacalhau com natas, que era o tal prato típico local. Pois todos os dias eu procurava por esse tal prato e nunca encontrei. Meu amigo achou aquilo estranho e disse: “Pois se todos os lugares fazem bacalhau com natas!” E lá fomos nós em busca do tal peixe! Depois de quase duas horas subindo e descendo ladeira, o Leo estava aterrorizado com a dificuldade que era achar Bacalhau com Natas, ligou para o seu namorado, um rapaz Brasileiro, filho de pai português que faz arquitetura em Lisboa e ele veio unir forças a busca. Finalmente, quando já tínhamos resolvido comer qualquer coisa, achamos o famigerado! Realmente, era o segundo melhor bacalhau que eu tinha experimentado, melhor, só o bacalhau com pasta de azeitona do restaurante do museu da eletricidade.
Uma coisa foi unânime entre as dicas turísticas: Vocês tem que ir a Sintra! E foi assim que me enfiei numa das maiores frias da minha vida.
Sintra
Então deixa eu acrescentar uma informação bem útil a essa dica turística: Vocês tem que ir a Sintra, mas não sem olhar a previsão do tempo antes!
Sintra é uma vila no distrito de Lisboa. Difícil explicar o que isso significa, por que Sintra se recusou a virar cidade, sei lá como isso funciona. Paisagem Cultural de Sintra também é considerado pela Unesco como patrimônio da humanidade. É um lugar onde os diferentes períodos da história portuguesa são vistos de forma quase explicativa. Os Palácios, castelos, casarões, igrejas cercadas pela exuberante flora sobem as montanhas de Sintra passando pela idade do Bronze, Período Românico, Árabe, Descobrimentos , Romantismo e muito mais... ah se eu tivesse conseguido ver tudo isso!!!! Eu mencionei as montanhas? E a previsão do tempo? Pois é meu bem, chuva na montanha com neblina...nada legal. O problema não era o frio que fazia todas as articulações do meu corpo doer, nem a chuva que não parava por um segundo, o pior, era a neblina! Eu fui sim no castelo e Palácio de Sintra, agora, me pergunta se eu vi as magníficas cores do estilo romântico do Palácio? Ou se eu me senti um guerreiro avistando os inimigos no horizonte ? Não, me senti num filme de terror. Estava bem esperando a hora que uma criatura mítica pularia do meio das árvores encobertas pela espessa neblina, me atacaria me deixando para amaldiçoada pelo resto da eternidade!
No fim da noite, só queria sentar em um lugar quentinho e comer um bacalhau. Minha madrinha avistou um português bonitão e se enfiou num restaurante, minha mãe e eu seguimos. O problema é que o chefe de cozinha ainda não estava no restaurante e nós teríamos que esperar por quase 2 horas comendo pão e bebendo vinho até o cara chegar. Além disso, nós perderíamos o ônibus que nos levaria a estação de trem, e teríamos que pegar um táxi, coisa que eu não tinha visto o dia todo. O garçom nos disse que eles iam fechar no dia seguinte para férias, por isso tinham muitas coisas que estavam em falta no restaurante. Se eu tivesse comido alguma coisa durante todo o dia, talvez tivesse tido a inteligência de sair dali correndo, mas não, nós ficamos! Eu e a madrinha comemos um delicioso bacalhau, mas assim que a fome passou e comecei a pensar, reparei que o bacalhau era uma mistureba, ou seja a soca de tudo que tinha sobrado na geladeira! Minha madrinha, que já estava pra lá de Bagdá de tanto vinho, não conseguia parar de elogiar o chefe e o garçom dizendo que aquela era a melhor coisa que ela já tinha comido na vida.
Na hora de ir, claro que a gente não achou táxi, o garçom até tentou ligar, mas ninguém atendeu! Resultado: Tivemos que andar 20 minutos no escuro, na chuva, com minha madrinha passando mal! Depois disso, mais uma hora de trem até Lisboa! A melhor parte do dia foi chegar no hotel para dormir! Não preciso nem dizer que o bacalhau quase mata a mim e a madrinha, que passamos mal a noite toda.
Considero isso uma desculpa para voltar a Portugal, ainda tenho que ver Sintra!
Continua...
Um comentário:
Adoro suas histórias!! Q bom q voltou a postar...
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