Em Junho de 2007 eu recebi muitas visitas do Brasil. As primeiras foram minhas duas amigas, seguidas por minha mãe e minha madrinha de batismo. Dentre todas essas, a que tinha maior desenvoltura como viajante e com a língua inglesa era minha madrinha. As que menos entendiam o enrolado som da minha segunda língua eram minha mãe e uma de minhas amigas.
Minha mãe chorava com a cara toda vermelha depois de assistir o Fantasma da Ópera prometendo que, em um ano, voltaria sabendo falar inglês pra conseguir entender tudo o que os atores falavam. Eu consolei dizendo que eu mesma não entendia tudo.
Minha amiga teve uma experiência um pouco mais frustrante. Depois de paquerar horas em um bar, ela conseguiu com que um carinha se aproximasse dela. O moço, para a minha descrença, tomou a iniciativa de falar com ela. E quando eu digo: “Pra minha descrença...” eu falo sério, por que os homens nesse país são uns bundões! Voltando ao assunto... O carinha falou com minha amiga. Sem perder a pose e o sorriso magnético que tinham atraído o rapaz ao lado oposto do bar, ela me olhou dando o sinal para a intromissão. Eu sorri, disse para o rapaz que ela era brasileira e que não falava muito inglês. Aquilo na nossa cabeça de brasileira era um detalhe que faria com que ele falasse mais devagar e tivesse paciência, mas a resposta foi um tanto inesperada. O rapaz ficou vermelho, tentou falar comigo, mas estava tão envergonhado que nada que saía da sua boca fazia sentido. Ele finalmente disse que foi um prazer conhecer minha amiga e voltou para o outro canto do bar de onde tinha vindo. Minha amiga queria morrer de raiva e, assim como minha mãe prometeu que em um ano voltaria falando inglês e aquilo nunca mais aconteceria!
Outro dia, conversando com uma garota filha de mexicanos, eu confirmei uma antiga desconfiança. Era algo que eu sempre soube, mas nunca me senti a vontade para dizer, por soar muito pretensioso. A maioria dos brasileiros é capaz de compreender espanhol se falado devagar e articuladamente, mas o contrário não acontece. Se você, brasileiro, falar em português com uma pessoa que fala espanhol, ele olha para você como se fosse louco. “Ai, você está falando português, não espanhol...hahahah!” Quantas vezes eu ouvi isso! Eu tento explicar que meu espanhol é praticamente um sotaque, uma vez que meu vocabulário é bastante restrito! Nada adianta! Depois de muito pensar sobre o assunto, eu cheguei à conclusão de que talvez os brasileiros sejam mais expostos ao espanhol do que os hispânicos ao português, já que nós somos o único país sul-americano a falar português. Para confirmar essa tese só pondo um português e um espanhol para conversar! Se a explicação não for essa só me resta pensar que nós somos realmente mais inteligentes. Foi no meu jantar de aniversário que eu ganhei este presente, a confirmação da minha tese. A garota, amiga de uma amiga, veio ao meu jantar, e lá estava eu sentada do outro lado da mesa enquanto ela dizia que tinha namorado um brasileiro: “ O engraçado era que se eu falasse com ele em espanhol, ele entendia tudo, mas quando ele falava em português comigo, eu não entendia uma palavra!” “Ahá!” eu pensei e me levantei! Chamei a atenção do Namorido e pedi para ela repetir o que tinha dito! Ali estava uma hispânica confirmando a minha superioridade intelectual de brasileira! Então, nas próximas vezes que você ficar bêbado e começar a falar com um sotaque cafona, copiado de uma novela, e alguém disser que isso não é Espanhol, mande essa pessoa ler o meu Blog!
Claro, que na tentativa de ser entendido por um hispânico você provavelmente vai inventar muitas palavras que não existem, assim como meu chefe! Impossível trabalhar no ramo de restaurantes em NYC sem falar nenhum espanhol. Por volta de 80% dos seus empregados não falam inglês, só espanhol. Por isso, meu chefe, um grego que mesmo vivendo aqui por cinco anos, fala um inglês horroroso, sempre arranha um espanhol. Outro dia, estávamos trabalhando e os Bussboy, estavam meio de papo pro ar. Bussboy, para quem não sabe, são os auxiliares dos garçons, eles recolhem pratos sujos, limpam as mesas quando as pessoas vão embora e coisas do tipo. Eles geralmente são hispânicos, indianos ou afins. Vendo os jovens rapazes de papo pro ar com o restaurante relativamente cheio, ele pediu a um Bussboy que limpasse uma mesa: “Clenaria, Clenaria, Senhor!” Todos os outros Bussboys e eu começamos a rir. Eu lembrava dos produtos Tabajara do Casseta e Planeta, como o Embelezeitor Tabajara! Lá estava nosso bom e velho Embromation sendo usado em outro língua! Clenaria! Era o Spanglish!
Eu não posso culpar meu chefe por tentar! Até por que o bom e velho Embromation pode um dia vir a salvar o seu dia. Minhas amigas mencionadas anteriormente, em visita ao Empire State Building, se perderam. Uma foi para um lado, outra para o outro e antes que se dessem conta, estavam sozinhas. Como as duas estavam subindo o Empire State Building, as duas tiveram a mesma idéia: achar o elevador. Uma delas sabia mais inglês do que falava, por que era envergonhada, mas a outra não falava por que não sabia mesmo! Foi quando ela viu uma funcionária local e resolveu perguntar: “Where is the Elevator?” A moça apontou a direção enquanto minha amiga se deliciava com a descoberta dessa nova palavra: Elevator era na verdade Elevador, e o Embromation não era uma completa embromação afinal de contas! Assim as duas se reencontraram no elevador.
Meu chefe falando Clenaria como se a palavra existisse, minha amiga se deliciando com a ampliação do seu vocabulário com o Elevator ou a minha felicidade na descoberta da “superioridade intelectual brasileira” (como eu nunca ouvi a mesma coisa de um português, eu vou ser obrigada a deixá-los de fora dessa panelinha, até por que a gente sabe que intelectualidade não é bem o forte desse povo!) eram no fim das contas a mesma coisa: um grande esforço para superar as barreiras da comunicação. Enquanto o pobre rapaz americano se encolhia e voltava para o outro canto do bar deixando para traz uma mulher maravilhosa, outros se torcem, gesticulam e até inventam novas palavras na ânsia de serem entendidos! Por isso, termino dizendo: “Quem tem boca vai a Roma! E pode até fazer uma escala em New York!”
PS: Quase um ano se passou e minha amiga e minha mãe têm pouco tempo para aprender inglês antes de virem me pagar uma segunda visita!
Minha mãe chorava com a cara toda vermelha depois de assistir o Fantasma da Ópera prometendo que, em um ano, voltaria sabendo falar inglês pra conseguir entender tudo o que os atores falavam. Eu consolei dizendo que eu mesma não entendia tudo.
Minha amiga teve uma experiência um pouco mais frustrante. Depois de paquerar horas em um bar, ela conseguiu com que um carinha se aproximasse dela. O moço, para a minha descrença, tomou a iniciativa de falar com ela. E quando eu digo: “Pra minha descrença...” eu falo sério, por que os homens nesse país são uns bundões! Voltando ao assunto... O carinha falou com minha amiga. Sem perder a pose e o sorriso magnético que tinham atraído o rapaz ao lado oposto do bar, ela me olhou dando o sinal para a intromissão. Eu sorri, disse para o rapaz que ela era brasileira e que não falava muito inglês. Aquilo na nossa cabeça de brasileira era um detalhe que faria com que ele falasse mais devagar e tivesse paciência, mas a resposta foi um tanto inesperada. O rapaz ficou vermelho, tentou falar comigo, mas estava tão envergonhado que nada que saía da sua boca fazia sentido. Ele finalmente disse que foi um prazer conhecer minha amiga e voltou para o outro canto do bar de onde tinha vindo. Minha amiga queria morrer de raiva e, assim como minha mãe prometeu que em um ano voltaria falando inglês e aquilo nunca mais aconteceria!
Outro dia, conversando com uma garota filha de mexicanos, eu confirmei uma antiga desconfiança. Era algo que eu sempre soube, mas nunca me senti a vontade para dizer, por soar muito pretensioso. A maioria dos brasileiros é capaz de compreender espanhol se falado devagar e articuladamente, mas o contrário não acontece. Se você, brasileiro, falar em português com uma pessoa que fala espanhol, ele olha para você como se fosse louco. “Ai, você está falando português, não espanhol...hahahah!” Quantas vezes eu ouvi isso! Eu tento explicar que meu espanhol é praticamente um sotaque, uma vez que meu vocabulário é bastante restrito! Nada adianta! Depois de muito pensar sobre o assunto, eu cheguei à conclusão de que talvez os brasileiros sejam mais expostos ao espanhol do que os hispânicos ao português, já que nós somos o único país sul-americano a falar português. Para confirmar essa tese só pondo um português e um espanhol para conversar! Se a explicação não for essa só me resta pensar que nós somos realmente mais inteligentes. Foi no meu jantar de aniversário que eu ganhei este presente, a confirmação da minha tese. A garota, amiga de uma amiga, veio ao meu jantar, e lá estava eu sentada do outro lado da mesa enquanto ela dizia que tinha namorado um brasileiro: “ O engraçado era que se eu falasse com ele em espanhol, ele entendia tudo, mas quando ele falava em português comigo, eu não entendia uma palavra!” “Ahá!” eu pensei e me levantei! Chamei a atenção do Namorido e pedi para ela repetir o que tinha dito! Ali estava uma hispânica confirmando a minha superioridade intelectual de brasileira! Então, nas próximas vezes que você ficar bêbado e começar a falar com um sotaque cafona, copiado de uma novela, e alguém disser que isso não é Espanhol, mande essa pessoa ler o meu Blog!
Claro, que na tentativa de ser entendido por um hispânico você provavelmente vai inventar muitas palavras que não existem, assim como meu chefe! Impossível trabalhar no ramo de restaurantes em NYC sem falar nenhum espanhol. Por volta de 80% dos seus empregados não falam inglês, só espanhol. Por isso, meu chefe, um grego que mesmo vivendo aqui por cinco anos, fala um inglês horroroso, sempre arranha um espanhol. Outro dia, estávamos trabalhando e os Bussboy, estavam meio de papo pro ar. Bussboy, para quem não sabe, são os auxiliares dos garçons, eles recolhem pratos sujos, limpam as mesas quando as pessoas vão embora e coisas do tipo. Eles geralmente são hispânicos, indianos ou afins. Vendo os jovens rapazes de papo pro ar com o restaurante relativamente cheio, ele pediu a um Bussboy que limpasse uma mesa: “Clenaria, Clenaria, Senhor!” Todos os outros Bussboys e eu começamos a rir. Eu lembrava dos produtos Tabajara do Casseta e Planeta, como o Embelezeitor Tabajara! Lá estava nosso bom e velho Embromation sendo usado em outro língua! Clenaria! Era o Spanglish!
Eu não posso culpar meu chefe por tentar! Até por que o bom e velho Embromation pode um dia vir a salvar o seu dia. Minhas amigas mencionadas anteriormente, em visita ao Empire State Building, se perderam. Uma foi para um lado, outra para o outro e antes que se dessem conta, estavam sozinhas. Como as duas estavam subindo o Empire State Building, as duas tiveram a mesma idéia: achar o elevador. Uma delas sabia mais inglês do que falava, por que era envergonhada, mas a outra não falava por que não sabia mesmo! Foi quando ela viu uma funcionária local e resolveu perguntar: “Where is the Elevator?” A moça apontou a direção enquanto minha amiga se deliciava com a descoberta dessa nova palavra: Elevator era na verdade Elevador, e o Embromation não era uma completa embromação afinal de contas! Assim as duas se reencontraram no elevador.
Meu chefe falando Clenaria como se a palavra existisse, minha amiga se deliciando com a ampliação do seu vocabulário com o Elevator ou a minha felicidade na descoberta da “superioridade intelectual brasileira” (como eu nunca ouvi a mesma coisa de um português, eu vou ser obrigada a deixá-los de fora dessa panelinha, até por que a gente sabe que intelectualidade não é bem o forte desse povo!) eram no fim das contas a mesma coisa: um grande esforço para superar as barreiras da comunicação. Enquanto o pobre rapaz americano se encolhia e voltava para o outro canto do bar deixando para traz uma mulher maravilhosa, outros se torcem, gesticulam e até inventam novas palavras na ânsia de serem entendidos! Por isso, termino dizendo: “Quem tem boca vai a Roma! E pode até fazer uma escala em New York!”
PS: Quase um ano se passou e minha amiga e minha mãe têm pouco tempo para aprender inglês antes de virem me pagar uma segunda visita!
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