A outra coisa que nós mantém de pé, muitas vezes mais doentes e cansados do que acreditamos estar, é a perspectiva de voltar para casa no fim do ano. Quando, por algum motivo, isso não acontece...ai, a casa cai!
Era fato! Eu não tinha dinheiro para passar o Natal em casa. Na situação estranha em que eu e o Namorido estávamos, a possibilidade de passar o Natal no Texas, tendo que me explicar a todo tempo para os parentes, não parecia muito tentadora. Ele me ligou perguntando o que seria do Natal. Tentei pensar em algo, mas nada me ocorreu. Ele me disse que se eu quisesse ir com ele para o Texas, estava convidada, mas se não fosse, ele passaria o Natal em New York comigo. Expliquei que estava sem dinheiro. Ele ofereceu o cartão de crédito, disse para ficar com ele e, que depois, quando tivesse dinheiro podia pagar a conta. Eu aceitei.
Depois da decisão do Natal vinha a do Reveillon. O ano que eu passei a virada em NYC foi horrível! Frio demais, todos os lugares lotados e as festas fechadas eram caras demais. Eu sugeri passar o Reveillon por lá também. Eu tenho uma amiga de Belo Horizonte, que se formou na em Belas Artes na UFMG, que mora em Austin. Nós nos falamos sempre, mas nos vemos muito pouco. Como o Namorido tem amigos em Austin, achei que essa seria uma solução barata, divertida e não estressante. Ele concordou, mas deixou no ar se preferia passar o Reveillon em Dallas ou em Austin. Completou dizendo que também não queria gastar uma fortuna no Reveillon. Assim, nós marcamos as passagens.
Depois de gastar um dinheiro que eu não tinha em presentes para a família do Namorido, nós fizemos as malas e migramos para o sul. Aquela era a melhor parte de chegar em Dallas em Dezembro: fugir do frio de New York.
A família me recebeu bem como sempre! Eu e o Namorido saímos logo desembestados procurando por os últimos detalhes nos presentes antes do Natal restrito. A família do Namorido tem dois natais! Um é celebrado com a mãe, irmã e irmão dele. O outro com toda a família. Essa divisão é feita por que o resto da família dele é muito pobre e eles se sentem constrangidos trocando presentes caros na frente de todos. Saímos para um filme familiar, almoço familiar, e finalmente trocamos presentes à noite. Nada muito emocionante ou muito familiar para mim.
Na manhã do dia seguinte veio a parte dolorida do Natal em Dallas, a igreja! A última vez que eu fui a uma igreja católica, tirando casamentos e missas de finados, tinha nove anos de idade. Me lembro das lágrimas que escorreram no rosto da minha avó, quando disse que aquela era a minha última vez, por que eu não acreditava em nada do que o padre dizia. Lá estava eu, depois de fazer a minha própria avó chorar de decepção, imaginando as terríveis torturas que sua netinha herege sofreria nas profundezas do inferno pela eternidade, incapaz de dizer: “Não muito obrigado, mas eu não vou à igreja!” Achei que seria extrema grosseria e, por isso, eu remoia a raiva de estar naquela igreja, muito pior do que a católica: Igreja blábláblá.. Fanática de Jesus Cristo!
Bem, eu sobrevivi à igreja, extremamente injuriada, mas inteira. Agora, era saber se eu sobreviveria a Three Rivers! Oh Three Rivers! Desde que eu me mudei para New York eu ouço histórias sobre Three Rivers, a cidade natal de minha sogra e onde parte de sua família ainda vive. O Namorido sempre foi muito enfático ao descrever os familiares de Three Rives: Red Necks! A primeira vez que eu ouvi a expressão, ele teve que me explicar o que significava. A tradução de Red Neck para português é Pescoço Vermelho. O termo é extremamente ofensivo e discriminante, mas por já ter caído há muito tempo na linguagem popular a expressão foi se banalizando. Eles chamam de Pescoço Vermelho as pessoas brancas, pobres e sem escolaridade. Como essas pessoas não têm formação acadêmica, elas geralmente fazem trabalhos braçais, muitas vezes expostos ao sol, caso da construção civil. A exposição solar durante o trabalho é responsável por fazer com que a parte de trás do pescoço fique vermelha, daí, Red Necks. Essa é a explicação do surgimento do termo. Hoje em dia, independente do trabalho que essas pessoas realizam, os Red Necks, são considerados indivíduos sem escolaridade, classe, educação ou qualquer noção de etiqueta. Mas esse termo só se aplica a pessoas de descendência branca; negros e latinos não podem ser ofendidos por esse termo! Foi levando em consideração o quão ofensivo o termo é, que eu me assustei quando vi o Namorido descrevendo sua própria família por tal linguagem.
No Natal do ano passado, eu tinha ouvido muitas histórias sobre a avó e as tias do Namorido. Ele tentava me preparar para o pior, foi o que eu pensei. Quando eu, finalmente, as conheci, eu entendi a razão do discurso distanciado do Namorido. Sua mãe saiu de Three Rives assim que se casou com seu pai. O pai do Namorido era formado e tinha um emprego que colocou a família no padrão de classe média; sua mãe é professora primária. Enquanto o Namorido e seus irmãos tiveram acesso a educação e cultura, vivendo em Dallas, os resto da família continuou em Three Rivers, uma cidadezinha que faz Cocal de Telha, no interior do Piauí, parecer uma megalópole. O abismo cultural entra as duas partes da família é imenso, mas impossível deixar de observar o quão doce e divertidas são as tias e a avó do Namorido. Esse ano, no entanto, a história era outra. Diferente do natal de 2006, quando as tias e Granny se juntaram a nós em Dallas, esse ano, seriamos nós que iríamos para Three Rivers. Então depois do Natal classe média alta em Dallas e da tortura psicológica na Igreja Besteirol de Jesus Cristo (eu não si o nome certo da igreja, mas eu nunca ouvi tanta loucura num mesmo lugar!), empacotamos tudo e rumamos ao Sul!
Chegamos à noitinha; toda a família já estava na sala da casa de Granny (Vovó) esperando por nós. Reconheci todas as tias enquanto tentava me lembrar quem era quem, uma vez que todos os nomes começavam com “J” e eram bem parecidos. Eram muitos os rostos novos, alguns primos e as crianças dos primos, um bando de meninas com nomes muito similares começados em “A”. Um dos primos do Namorido me cumprimentou e me apresentou a mais nova de suas três filhas de nomes iniciados com “A”. Ela não se mostrou tímida, pulou no meu colo e beijou minhas bochechas e espremeu minha cabeça. A irmã “A” mais velha devia ter uns 14 anos de idade, toda vestida de preto, estilo “sou revoltada e Rock and Roll” enquanto a irmã do meio era hiper-ativa e muito feminina. Para confundir ainda mais minha cabeça, havia uma quarta garota com nome começando com “A”; era prima das outras 3 garotas, filha de outro primo do Namorido. Eu repeti mil vezes os nomes das meninas na minha cabeça assim que eu fui apresentada a todas elas, mas em menos de dez minutos eu já não tinha idéia de quem era quem. Eu fiquei quieta pela noite toda, com medo de chamar alguém pelo nome errado. Passei ilesa pelos jogos familiares de Natal. Tenho que admitir que foi o Natal mais engraçado e barulhento da minha vida.
Na manhã seguinte, o Namorido resolveu me mostrar o Rancho. Em dezembro, o Texas é extremamente seco, assim como o Piauí em julho. Enquanto caminhávamos, o Namorido me atualizava das fofocas familiares das quais tinha se inteirado na noite anterior. O seu primo, o pai do trio “A”, acabara de sair da prisão, ficou preso por causa de uma briga com a sua Namorada. Não fiz muitas perguntas, achei que pudesse ser ofensivo. O outro primo tinha recentemente sido promovido a chefe de uma de suas tias. Ele era agora gerente do restaurante mais famoso da cidade (eu tenho a impressão que esse era o único, por isso o mais famoso!), onde sua tia era garçonete. O Tio estava trabalhando em novos carros de corrida e provavelmente iria querer me mostrar sua oficina mais tarde. Nós andávamos no meio dos galhos torcidos enquanto o Namorido me explicava a existência de tanta sucata na propriedade. Eram carros, tratores e até caminhões velhos no meio do mato. Ele me dizia que o falecido avó era mecânico, quando vimos alguém acenado para nós da janela. “Já acharam alguma cascavel ?” gritava o seu tio pela janela. O Namorido viu meu rosto se transformar. “Ainda não, só uns gatos selvagens por enquanto!” respondeu o Namorido, que logo após responder o tio tratou de me acalmar dizendo que não era assim tão comum esbarrar com uma cascavel.
Não foi um réptil que nos pôs para correr por entre os galhos secos da propriedade. Depois de andar bastante e tirar muitas fotos nós vimos uma possa de água em uma parte rebaixada do terreno. Na margem da grande possa d`água, um cavalo selvagem e um passarinho no seu lombo. Eu me aproximei o máximo possível para tirar uma foto sem assustá-lo. Ele parou de beber e me encarou. O Namorido riu e disse que aqueles pareciam personagens de um desenho animado: o cavalo letárgico e o passarinho saltitante. Foi logo após esse comentário que o cavalo me encarou de novo. “Eu acho que ele se ofendeu com o termo Cavalo Letárgico!” eu disse. O cavalo vendo que nós ainda estávamos lá começou a se aproximar de nós. Eu demorei alguns segundos para entender que ele estava realmente nos confrontando. Assim que eu percebi, comecei a me afastar andando de costas sem perder o cavalo de vista até que esse chegou bem perto e eu tive que me virar e começar a correr. O cavalo parou assim que tinha atingido o ponto alto do terreno, de onde nós o observávamos; nos encarou e esperou que fôssemos embora. Eu repreendi o Namorido por ter ofendido o cavalo! “Letárgico, hein?!”Voltamos para a casa de Granny, onde a própria me perguntou se eu havia encontrado uma cascavel. Eu lhe disse que não, que tinha corrido de um animal bem maior que uma cascavel. Ela me contou como tinha matado uma cascavel que ela tinha encontrado na varanda de sua casa uma semana antes de chegarmos lá. O Namorido e eu trocamos olhares, ele sabia o que aquilo significava: “Uma cascavel morta na varanda semana passada e ele me levando por expedições no meio do mato!”
Depois do almoço, foi a hora de outra expedição. Eu, o Namorido, o primo gerente do restaurante mais famoso da cidade, a garota “A” do meio, além do primo recém saído da prisão fomos visitar a oficina do tio mecânico. Nos Eua, ninguém assiste Fórmula 1; corrida de carros famosa por aqui é Nascar! Outro tipo popular de corrida por aqui é a de carro de arranque. Aquela corrida que dura poucos segundos, onde os carros percorrem uma distância relativamente pequena em linha reta. Esses carros chegam a velocidades altíssimas e, geralmente, precisam da ajuda de um pára-quedas para pararem. Diferente da Fórmula 1, que no resto do mundo é conhecido como um esporte de elite, as corridas de carros americanas são uns dos esportes favoritos dos Red Necks. O Tio do Namorido construía carros de rápida aceleração, os do tipo que precisam de pára-quedas para freiar. Entrei em todos os carros, ele me explicou como tudo funcionava e ficou encantado em conhecer uma mulher que sabe dirigir um carro de câmbio manual. Eu adorei a oficina, mas foi quando ele me mostrou um pedaço do motor de um dos carros preso no teto, o que ocorreu por causa da explosão enquanto ele trabalhava, que eu pensei que aquele lugar talvez fosse mais perigoso que o meio do mato com o cavalo letárgico.Depois de visitar a oficina, o primo do Namorido queria me mostrar um dos rios de Three Rivers (que se traduz para português como Três Rios). Ciente do meu interesse em tirar fotos das sucatas do seu avó, o primo resolveu me mostrar alguns carros velhos que tinham sidos levados pela correnteza da última enchente do rio. Agora, na seca, os carros estavam na beira do rio e ele achou que eu adoraria fotografá-los. Ninguém o contrariou, muito menos eu, a quem ele tentava agradar. Nós andamos no meio do matagal por vinte minutos seguindo a margem do rio e nada de carros. Ele continuava a dizer que eles deviam estar um pouco mais longe. Eu tentava me ater ao fato de que a filhinha do primo estava conosco, mas era difícil não lembrar que eu estava a vinte minutos entrando cada vez mais profundamente num matagal com um ex-presidiário. Eu sabia muito pouco do motivo pelo qual ele tinha sido preso e, por isso, depois de meia hora procurando pelos caros, eu tirei um monte de fotos de galhos torcidos e do rio e me fingi de muito satisfeita!
A pequena “A”, esperava por mim indócil. Durante o pouco tempo que eu estava lá as duas irmãs mais novas haviam me adotado como mãe. Foi só eu brincar de massinha, mostrar algumas fotos no computador e deixar que elas penteassem meu cabelo e lá estava eu sendo abraçada e conduzida de mãos dadas a todos o lugares pelas duas. Foi nesse momento que eu me meti em outra aventura texana. A pequena “A” estava eufórica para passear comigo no carrinho de golfe. Eu vi a mais velha das “A” levantando poeira do chão dando cavalo de pau com o carrinho. Ela parou na nossa frente e perguntou se eu queria dirigir. Eu recusei. Grande erro. A “A” do meio tomou o acento do motorista, me encarou esperando que eu tomasse o acento do passageiro. Eu procurei o olhar de algum adulto que estivesse por perto para estudar sua expressão facial, enquanto eu perguntava a uma garotinha de nove anos se ela sabia como dirigir aquela coisa. Vi o seu pai. Ele dizia de longe “Pode ir, ela sabe dirigir o carrinho!” Sentei no carro dizendo que fosse devagar. A pequena “A” pulou no meu colo e agora, além de segurar, eu era responsável pela integridade física da mais nova. As tias saíram pra fora e, como todas acenavam rindo, eu achei que não corria perigo. Depois de muitas voltas no carinho e de receber aulas de direção da garotinha de nove anos de idade, eu resolvi que meu cabelo e minhas roupas já cheiravam o suficiente a óleo, ou seja lá qual era o combustível que aquele troço usava.
Procurei pelo Namorido, mas nada! Sua mãe me disse que fosse procurar por ele na casa em frente, a de uma de suas tias. Abri a porta e vi o Namorido, a mais velha das irmã “A” e o pai da menina. Os três estavam muito entretidos, mas logo repararam minha presença. Eles jogavam Garage Band, um videogame de música. Namorido estava com a guitarra, “A”, na bateria e o primo no vocal. Seguindo meu rastro, as duas outras irmãs “A” logo apareceram. A pequena tomou o microfone do pai e a do meio assumiu o baixo. O primo veio conversar comigo. Eu estava no sofá comendo um chocolate que a pequena “A” havia me dado. O primo se aproximou e depois de poucos minutos de conversa, exclamou: “ Agora, eu e o Namorido, temos as mulheres mais bonitas da família.” Sorri meio sem graça. Ele entrou em um quarto e voltou com uma foto nas mãos. Era a sua mulher. Eu perguntei onde ela estava. Ele fez um gesto que eu não entendi. Fechou as duas mãos e pôs elas perto do rosto, uma do lado da outra. Eu fiz uma cara de quem não tinha entendido. Ele se explicou: “Atrás das grades!” dando uma risada. Eu não consegui pensar em nada para dizer então o que saiu da minha boca foi: “Ah..” Então ele começou a dizer como ela tinha medo que ele a deixasse, enquanto ele jurava de pé junto que esperaria por ela. Perguntei quando ela sairia. Ele disse que em 2011. Pensei um pouco e perguntei por que estava presa. Ele responde: “ A gente vacilou! Eu peguei pouco tempo, mas como ela era reincidente, ela pegou mais tempo que eu.” Eu olhava para as três meninas horrorizadas, ter a mãe e o pai presos... não me admirava que todos achavam que eram loucas! Evitei mais perguntas, não por causa do primo, ele não parecia nem um pouco desconfortável em entrar em detalhes, era eu que não queria me aprofundar no assunto. Para minha sorte, minha sogra apareceu chamando todos para o jantar. As duas garotas mais novas correram pra me dar a mão e assim, fui escoltada de volta a casa da Avó.
Eu não consegui deixar de olhar para as três garotas e me sentir mal por elas. Depois do jantar, enquanto todos assistiam TV, me dediquei a brincar de massinha de modelar com as duas mais novas. No meio da conversa a menor olhou para mim com um olhar choroso e disse: “ Eu sinto falta da minha mãe!” Meus olhos se encheram de água. Eu me segurei e disse: “Mas daqui a pouco ela vai estar de volta, você vai ver!” Disse isso tentando me convencer que 2011 estava logo ali! A menina torcendo o nariz fazendo uma careta inesperada disse: “ Como você sabe?” Fiquei assustada sem saber o que dizer. Terrenos nebulosos esses por onde eu tinha me enveredado. Minha experiência com casos de crianças de pais delinqüentes era absolutamente nula! Me limitei a sorrir e mudar de assunto mostrando-lhe como fazer uma rosa de massinha de modelar.
Eu estava exausta de tanto brincar com as meninas “A”, então quando eu me deitei no sofá-cama da sala com o Namorido, aí cai no sono instantaneamente. No outro sofá, na mesma sala, dormia o irmão do Namorido. Eu acordei às três da manhã, com alguém batendo na janela acima de minha cabeça. Cutuquei o Namorido, que mesmo depois de muito ser empurrado, não se movia. Até que resolvi falar: “Tem alguém batendo na janela.” Repeti a frase três vezes, até que ele deu sinal de vida: “Psiu!!!!!!” Eu fiquei sem entender, mas permaneci em silêncio. Ouvi alguém tentando abrir a porta da cozinha, mas esta estava trancada. A pessoa finalmente desistiu. O primeiro a quebrar o silêncio, quase dois minutos depois, foi o irmão, que dormia no outro sofá: “Você ouviu aquilo?” O Namorido respondeu: “ Ouvi, quase me mata de susto.” Foi quando eu percebi que eu era a menos assustada do recinto. Eles me explicaram que a casa fica perto da linha do trem e por ser perto da fronteira com o México, muitos imigrantes ilegais, ao verem as luzes da casa no meio do nada, saltavam do trem e batiam à porta em busca de comida e água. O Namorido também me explicou que a porta da cozinha, por sorte estava trancada, mas se ele tivesse dado a volta e tentado abrir a outra porta, teria entrado na casa, pois esta estava quebrada e não fechava. “ Você podia acabar seus dias morta por um Mexicano sedento!”Na manhã seguinte, o assunto era o visitante noturno. Todos falavam do perigo, mas ninguém parecia realmente assustado. Nos preparamos para almoçar. Fomos parar num restaurante Mexicano. Enquanto esperávamos por uma mesa, a mãe do Namorido me contou que a pequena “A” tinha lhe dito que eu era a sua mãe pela semana. A pequena chegou na mesma hora, e minha sogra perguntou a pequenina se não era verdade que ela queria que eu fosse sua mão pela semana. Ela sorriu, me abraçou e disse que pela semana não, e sim pelo mês! Eu perguntei se isso fazia do Namorido seu pai. Ela abriu um sorriso maior ainda e sentada no meu colo segurava a mão do Namorido e dizia que, pelo mês, nós seríamos seus pais. Quando nós finalmente nos sentamos à mesa, as garotas faziam tanta algazarra que o Namorido não resistiu e falou em português: “Quer ter umas crianças?” Nossos instintos de paternidade e maternidade, naturalmente já inibidos, desapareciam diante de tal demonstração de comportamento infantil!
Depois do almoço, nos dividimos em dois carros. As meninas foram com a avó no outro carro, por que a estas alturas do campeonato, a minha suposta maternidade já havia me esgotado! A prima do Namorido começou a explicar por que a moça da foto que o primo me mostrara estava presa. Ela tinha viajado sozinha para a Florida para encontrar com um “cara”. O primo foi atrás da moça para trazê-la de volta, mas ela não estava disposta a voltar. Durante uma briga pública puxou uma faca para o primo do Namorido. A polícia apareceu e levou os dois. A moça, como era reincidente, pegou mais tempo. Depois dessa história ela continuou: “A mãe delas também é outro caso a parte...” Eu fiquei tonta!!! Como assim? “A moça presa não era a mãe das meninas?” - eu perguntei. Me disseram que não. A mãe, com quem as meninas moravam em Santo Antônio, era separada do pai e tinha outro marido que, por coincidência, também estava preso. Fiquei de boca aberta, mas a história não terminava ai. Com o marido preso, a mãe das garotas agora namorava seu chefe. Morava com as três garotas e sua mãe, também a avó das meninas. A avó era doente, tinha seu próprio quarto na casa e embora vivesse no balão de oxigênio e não saísse para lugar algum por causa da sua enfermidade, tinha um namorado de vinte e poucos anos, que vivia com ela em seu quarto! Minha sogra, balançava a cabeça enquanto o Namorido, rindo, dizia não acreditar naquilo. Depois daquela explicação, eu entendi a careta da pequenina quando eu disse que não se preocupasse que sua mãe logo estaria de volta!
Resolveram que iríamos à praia. Achei engraçado, porque praia era a última imagem que vinha a minha cabeça quando eu pensava em Texas. Uma das adoráveis tias do Namorido teve então uma idéia. Me levar ao monumento a Selena. Ela tinha sido uma cantora mexicana ( na verdade ela nasceu no Texas, mas era filha de mexicanos) que ficou muito famosa nos EUA e foi assassinada pela presidente do fã clube da moça. Ela havia sido baleada na cidade onde estávamos, Cospus Crist. O Namorido morria de rir. Ele sabia que eu não tinha idéia de quem era essa moça, mas que sua família assumia que eu era uma fã por que ela era famosa entre os latinos. “ Mexicanos e brasileiros, tudo a mesma coisa!” brincava o Namorido! Eu fui ver o monumento sem dar sinal de que não estava interessada. Eu e o Namorido morremos de rir da estátua que fizeram em homenagem à moça!
Chegamos em casa exaustos! Arrumei as coisas, pois sabia que aquela seria a última noite. Na manhã seguinte, eu e o Namorido iríamos a Austin. Acordei e em poucos minutos as duas meninas “A” apareceram. Pinotaram, gritaram, me abraçaram, pediram que eu as levasse com elas, mas finalmente o pai apareceu e fez com que se comportassem. Nos despedimos de todos e, finalmente, entramos no carro. Olhei para a paisagem ressecada, para os carros velhos enferrujando e para as duas meninas. O Namorido me perguntou no seu português engraçado: “ Você divertiu?” Eu ri, dei uma última olhada para a casinha de Granny e disse: “ Com certeza uma bela aventura!”
Um comentário:
:_(
poor girls!!
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