Quinta feira veio! Minhas amigas já tinha ido embora e a casa parecia tão vazia... Eu sai de dia e não tinha ninguém de quem me despedir, nenhuma instrução pra dar e eu me senti só! Sai de casa cedo pro trabalho e eu sabia que não ia ter tempo de voltar em casa antes de poder encontrar o Sem Face. Levei o meu sapato alto na bolsa e uma maquiagem básica pra rápidos retoques. Eu estava nervosa, mas não pelos motivos e você ficaria normalmente nervosa em um primeiro encontro. Era a primeira vez que eu estava saindo com alguém com alguma intenção real depois do namorido. Eu sai algumas vezes com o Marinheiro, mas era só pra manter meus pensamentos longe do namorido e do caos que ele tinha criado na minha vida de uma hora pra outra. Agora era diferente, eu estava convencida de que o namorido não voltaria mais pra mim. Mesmo que ele estivesse sempre por perto e sempre me adulando, ele sempre arrumava um jeito de dizer que lamentava ter que terminar comigo, mas era um mal necessário. Eu tinha me convencido de que o negocio era a fila andar!
Eu praticamente não havia falado com esse menino, tinham sido algumas mensagens pra combinar dia, hora e adjuntos. Ele pediu que eu mandasse uma mensagem dizendo quando eu sairia do trabalho. E assim o fiz. Tive que encontrar a assistente de figurino pra levar umas roupas pra ela antes de ela ir pra casa. As roupas teriam que ir com ela na manhã seguinte pro set. Eu tinha milhões de sacolas comigo e ela mesma já tinha uma carga considerável, me ofereci pra ajudá–la a terminar as compras e coloca-la dentro de um táxi. Ela agradeceu. O único problema, era que como eu já tinha saído do escritório, eu já tinha mudado de sapato, e estava de salto alto!
Embarquei a chefe no táxi e tratei de ligar por Sem Face, mas caiu na caixa postal. Era só o que faltava, pensei, o que eu ia fazer agora, no meio da rua esperando o menino! Entrei no café e mandei uma mensagem de texto. Ele me respondeu, disse que estava em um show a trabalho, mas o show estava prestes a terminar e ele me ligaria. E ele ligou, pediu desculpas por me fazer esperar e perguntou onde eu estava . Eu respondi e ele marcou de me encontrar em Union Square, que era perto de onde eu estava.
Andei um bocado pra chegar no lugar marcado. Sentei nos degraus de Union Square junto da multidão que sempre ocupa a praça durante o verão. Em alguns minutos, um cara carregando uma maleta para na minha frente, ele era um Peformer. Começou a chamar a atenção do “púbilco” e começou o seu show. No início eu fiquei um pouco incomodada. Achei que o cara era meio chato de princípio, mas ele era muito bom e extremamente engraçado. Lembrei dos meus tempos de teatro, deu uma saudade de Belo Horizonte, dos Festivais Internacionais de Teatro, Quadrinhos e Circo...quando eu já estava quase sendo sugada pelo túnel do tempo, meu celular tocou, era ele. Olhei ao redor antes de atender o telefone. Se eu visse ele falando no telefone antes de eu atender, talvez desse tempo de eu ver seu rosto no claro, assim, se ele fosse um dragão, eu podia fugir de mansinho! Avistei alguém de longe no telefone que parecia com ele, pelo menos do que eu me lembrava dele. Atendi o telefone enquanto observava ele de longe. Ele atendeu meio sem jeito preocupado: “Não faço idéia de como eu vou te encontrar aqui, esse lugar está lotado!” O pobre coitado não tinha idéia de com que estava se metendo, mal sabia ele que já estava sedo, meticulosamente, observado a distância! Eu perguntei se ele estava usando uma camiseta pólo preta. Ele olhou pra própria camiseta e eu pude confirmar que era ele mesmo. Eu disse que ficasse parado que eu já o havia avistado. Desliguei o telefone e caminhei devagar em sua direção. Ele olhava pra todos os lados, mas só pode me ver quando eu já estava bem perto.
Ele parecia entusiasmado e um pouco nervoso ao mesmo tempo. Eu fiquei olhando pra cara dele pra saber se eu achava ele bonito ou feio. Ele era o tipo de pessoa que leva um tempo pra você formular uma opinião! Já era um começo, pelo menos ele não era um dos que a feiúra assusta!
Meu telefone tocou, era um amigo que eu conhecia de outro trabalho. Pedi licença e atendi, esse cara sempre me indicava pra trabalhos e eu achei que era indelicado não atender. Ele estava me perguntando o que eu estava fazendo. Dize que tinha acabado de encontrar alguém. Ele me contou que ia voltar para o Kansas, de onde ele é. Ele ficaria uma temporada ajudando a mãe que acabara de ter um derrame. Disse que sentia e que poderia vê-lo no dia seguinte depois do trabalho.
Desliguei o telefone e me desculpei. Ele entendeu e perguntou o que eu queria fazer, eu diz, qualquer coisa, mas o que eu queria dizer era: “Qualquer coisa sentada por que eu estou usando esse sapato lindo de morrer, mas ele é alto de mais pra bater perna!” Claro que eu não ia dizer nada do tipo, eu não queria dar uma mala assim de cara.
Ele disse que ia me levar num lugar legal. A gente entrou no metro e foi. No caminho a gente foi conversando sobre o que cada um fazia da vida. Ele trabalhava numa empresa que agencia músico, nem seu se esse é o melhor jeito de descrever o que ele faz, mas enfim...Chegamos no tal lugar. Nesse momento ele já estava sendo considerado mais pra bonito que pra feio. Ele disse que tinha que me mostrar uma fonte, a sua fonte preferida. “???????” foi o que passou pela minha mente. Quem nesse mundo de Deus tem um Fonte Preferida? Andamos em direção a uma praça e por entre as árvores, eu podia ver uma luz que, modesta e inconstante, iluminava o cair da noite. Nós fomos nos aproximando, a luz era fraca e eu só pude realmente ver do que se tratava quando eu já estava na frente da tal fonte. Eu tinha que admitir, era linda!
A fonte era bem antiga, nada suntuosa, mas extremamente delicada. Em vez de lâmpadas, o que iluminava a fonte era lamparinas bem grandes. Me perdi por alguns segundos vendo a água jorrar tão perto do fogo, cujas labaredas eram movidas pelo vento.
Quando eu me mudei pra NY, o ex-namorido não gostava de fazer planos. Sempre que eu perguntava o que a gente ia fazer, ele dizia que ia ver o que os amigos dele estavam fazendo, poucas vezes ele me levou pra conhecer lugares, ou pra fazer coisas que ele achasse que eu ia gostar. Muitas vezes até ele mesmo se surpreendia quando, em uma conversa displicente, depois de meses que eu estava em NY, ele descobria que não havia me levado a certos lugares. E lá estava eu com esse estranho, que só havia ganho uma Face a poucas horas, e já dividia comigo a sua fonte preferida.
Depois de alguns minutos de convers,a praticamente a luz de velas, ele me perguntou se eu queria jantar. Eu disse que sim. A gente andou milhares de quilômetro ( pelo menos era o que os meus pezinhos apertados no meu salto alto sentiam) até chegar nesse restaurante italiano. Eu tenho que admitir que ele não ganhou muitos pontos com o restaurante, mas também não perdeu. Eu disse que ia beber vinho e perguntei se ele me acompanharia. Ele disse que sim , mas admitiu que não era muito acostumado a beber. Eu fiz algumas perguntas básicas para tentar descobrir que tipo de vinho ele iria gostar e pedi dois copos de Sauvignon Blanc.
O vinho iniciou um assunto novo. Ele me contou sobre o dia em que me conheceu. Ele admitiu que estava muito bêbado quando me viu. Eu não reparei, respondi. Foi quando ele completou com a primeira coisa fofa que entraria pra lista do Sem Face. Era aniversário de um amigo no dia em que ele me viu no Dark Room. Ele já estava na rua a horas, e segundo ele, poucos drinks já são mais que suficiente pra fazer o mundo rodar. Ele disse que quando entrou no lugar, estava muito bêbado, mas quando me viu, de repente, ficou sóbrio! Ele disse que foi a coisa mais estranha do mundo. Até esse momento eu ainda não sabia se eu achava o comentário gracinha, ou se aquilo era só estratégia de primeiro encontro.
Depois de jantar, ele perguntou se eu estava pronta pra dar uma volta. Eu disse sim, eu menti! Eu queria fazer qualquer coisa menos andar! Eu ficava pensando que minha sandália rasteira estava no escritório e no quanto que eu queria que ela estivesse na minha bolsa. Esvaziei a mente e resolvi pensar em outras coisas. Não foi muito difícil, ele andava comigo em Downtown, na beira da água. Conversamos horas, ele me mostrou várias outras coisas, nenhuma tão bonita quanto a fonte e assim eu caminhei mas alguns milhões de quilômetro. Finalmente eu me rendi e, em frente da água em um lugar com vista extremamente privilegiada , eu perguntei se ele queria sentar.
Depois de me mudar tantas vezes de cidade, e dos quatro anos de faculdade trabalhando igual um jumento emprestado, eu não preciso me preocupar com falta de assunto no primeiro encontro. Ele por sua vez também não enfrentou problemas em continuar uma conversa... quando nos demos conta, já era tarde.
Ele se mostrou bastante decepcionado quando eu disse que tinha que ir embora. Eu me justifiquei dizendo que trabalhava cedo e que já estava com o sono muito atrasado pro ter saído as últimas semanas com minhas amigas. Ele entendeu.
Eu me vi indo pra casa depois de ter passado a noite inteira com esse menino, sem um beijo. Me senti como a Carmem Miranda: “ disseram que eu voltei americanizada...” Pra quem está acostumada a Ficar, primeiro e pensar se dá o telefone depois, toda aquela prorrogação, era algo novo! Senti a apreensão dele enquanto ele abria a porta do carro. Eu sabia que expressão era aquela, era dúvida! Ele não sabia se eu ia desaparecer no mundo e nunca mais atender o telefone, ou se eu ia ligar e sair com ele de novo... Eu tentei resolver com um abraço, disse que tinha adorado a noite e que a gente se veria de novo., mas eu vi no seu rosto que ele ainda não estava convencido. Entrei no táxi e mandei uma mensagem dizendo que eu sentia ter que ir, e que eu esperava ouvir notícias. Ele respondeu dizendo que com certeza eu ouviria notícias dele!
Um comentário:
Que lindo!!!Esepro que as coisas estejam indo bem. Beijo!
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