sexta-feira, março 16, 2007

Para alcançar paraíso é necessário se passar pelo calvário!

Depois de muito mofar em NYC, lá estava eu, arrumando minha malinhas a caminho de Jericoacoara. Esse pedaço do paraíso já havia sido previamente visitado por mim e por isso, a minha ansiedade era ainda maior. Como as melhores coisas da vida, Jericoacoara, não é um sonho fácil de ser alcançado, é um lugarejo no meio do nada. A nossa jornada deveria começar em Teresina, de onde pegaríamos um ônibus para Parnaíba, litoral do Piauí. De lá, seguiríamos em outro ônibus até Camucim, no Ceará. Na rodoviária de Camucim, alugaríamos dois bugres para acomodar o grupo de oito pessoas que viajava rumo ao paraíso. Tirando as longas horas de ônibus, de espera na mudança de ônibus e da descoberta de que a volta, talvez fosse ser bastante complicada, devido ao horários desencontrados dos ônibus com os quais estávamos contanto, a viagem até esse ponto, tinha sido tranqüila. Na hora de alugar os bugres na rodoviária, descobrimos porém, que existira um problema de comunicação entre os viajantes. Metade dos mesmo, haviam sido informados, erroneamente, do preço dos bugres, e não se mostraram contentes com a descoberta dos salgados preços!

Tentando resolver a situação algumas das viajantes insatisfeitas, encontraram um motorista de um veículo que seria capaz de levar-nos todos por um preço quase três vezes menor do que os bugres. O possante era um Geringonça! Eu me senti a própria Tieta entrando na “Princesa do Agreste”, mas não me preocupei, por que o tipo de carro que fazia esse translado era assim mesmo. O possante tinha adesivos na janela lateral do carro dizendo passeios para Jeri, preferi então, abri mal do bugre para benefício geral dos viajantes.

Todo mundo na Geringonça!


Entramos na Geringonça e uma repentina chuva começou a cair. Notamos que haviam goteiras e que entrava água por todos os lados da Geringonça. Nos conduzindo, iam o motorista e um ajudante, que viajava no teto da veículo junto com a bagagem. A Geringonça tinha que atravessar um braço de mar até uma ilha, de onde seguiríamos para Jeri. Enquanto os outros viajantes se mostravam bem assustados com a peripécia, eu aproveitava a brisa do mar, uma vez que aquilo já não era novidade pra mim. Foi logo depois, assim que chegamos em terra firme, que os problemas começaram. Entramos na Geringonça e o motorista foi posto a prova: dirigir nas areias fofas da dunas e nas molhadas da beira mar. E o que aconteceu já podia ser antecipado pela falta de jeito com que o rapaz começou a jornada, em cerca de dez minutos o indivíduo atolou o carro na beira mar, e se não fosse suficiente, quebrou o câmbio do veículo no desespero. Agora lá estávamos nós, atolados no meio do nada, no sol escaldante do Ceará.

Um bugre passou e o motorista pendurou-se na lateral do carro e foi a Jeri buscar outro carro para o nosso resgate. Ficou conosco o podre infeliz que viajava com as bagagem: ele era o dono da “Princesa do Agreste” e estava desconsolado em ver seu carro atolado, prestes a ser devorado pelas ondas do mar! Eu nesse momento muito enfurecida para sentir por sua perda, me empenhei no resgate de nossas malas junto a um dos viajantes. Que a “Princesa” se afogasse tudo bem, mas dai a minha bagagem!
Enquanto esperávamos resgate, muitos carros passaram, mas todos muito cheios para prestar socorro. Para nossa surpresa, um jatinho passou dando um rasante a poucos metros da praia, o que me fez pensar: "E nós achando que muito luxo é alugar dois bugres pra oito pessoas!” Mas o pior foi quando eu resolvi conversar com o dono do veículo. Alguma coisa me dizia que o nosso motorista não era, digamos, muito experiente! Eu perguntei se o rapaz já havia feito esse percurso. A resposta foi vegonhosamente, mas sinceramente respondida: “Não”. Quando eu decidi fazer uma segunda pergunta: "E o carro já fez essa viajem?” A resposta foi impagável: “Já, quer dizer... já , mas nunca chegou lá!” A resposta arrancou gargalhadas de todos os viajantes queimados de sol e exaustos da viagem, que até aquele momento já havia durado mais de doze horas, e estava longe de ver seu fim!

Quando tudo parecia perdido, um carro passante finalmente parou para ajudar, era uma caminhonete que a primeira vista, parecia cheia, e a segunda vista também. Embora parecesse impossível que mais oito pessoas coubessem no carro, o motorista insistiu: "Vai ficar ai no meio do sol quente menina? Se aperta ai!” Não pode deixar de notar o sotaque do salvador: “Era só o que faltava, vou ficar devendo favor pra um argentino!”, pensei. No total, éramos dezesseis pessoas no carro, sem contar as malas. Foi o maior atentado as leis da física, era perna entrançada com perna, joelhos de um cutucando as costelas do outro, e tudo isso ao “suave” balançar da carroceria da caminhonete que desengonçadamente , subia e descia as dunas cearenses. Ainda na carroceria do carro, tivemos que cruzar uma lagoa de jangada. Era uma plataforma de madeira onde o carro subia e quatro homem empurrando o fundo da lagoa com varas, a movia. Depois de mais de quarenta minutos na carruagem do salvador, ou melhor El Salvador, chegamos a Tatajuba, cidade mais próxima de Jericoacoara. El Salvador, era dono de um hotel em Tatajuba. Ele parou no hotel e disse que se quiséssemos usar o telefone, poderíamos chamar por bugres, mas que em poucas horas, ele mesmo estaria a caminho de Jericoacoara e poderia nos levar. Totalmente influenciados pelo bom ato de El Salvador, resolvemos ficar. Iríamos almoçar no seu hotel, e descansar até a hora da carona. O lugar era lindo e talvez por isso não nos demos ao trabalho de perguntar quanto pagaríamos pelo almoço. Pouco antes do almoço ser servido, o ajudande de El Savador me abordou. Ele vinha dizer que El Salvador estava cobrando vinte e cinco reais por pessoa para nos levar para Jeri, o que sairia mais barato do que dois bugres. Nesse momento eu percebi que El Savador estava se saindo um bem feitor bastante sabido, foi quando eu me preocupei com o preço da nossa futura refeição, mas já era tarde! O almoço veio, com certesa a pior comida que eu comi na vida, só não foi pior do que a conta: por arroz, feijão e peixe frito, cada pessoa pagou quase quarenta reais! “Juntando com os vinte e cinco da viagem e multiplicando por oito, aposto que dava pra gente ter pego o jatinho!” ironizei.

Entramos no carro, novamente contrariando as leis da física, mas a esse ponto o cansaço já era tamanho que nem um de nós tinha mais forças, nem para reclamar do martírio que a jornada havia se tornado. Quando me concentrava no vento que soprava em meu rosto reparei em como minha pele já tinha sido queimada pelo sol. Nesse momento de reflexão, senti um cheiro estranho. Olhei pra dentro da cabine onde duas de nossas viajantes estavam. A cabine estava cheia de fumaça e uma de nossas amigas tinha a cabeça pendurada pra fora do carro. El Salvador e o ajudante fumavam um baseado e defumavam nossas amigas.

Finalmente avistei Jeri de longe e compartilhei a felicidade com os outros pois, já estávamos viajando a quase dezoito horas nesse. Desembarcamos, pagamos nossas passagem de primeira classe e não pude deixar de observar as expressões das duas viajante que completaram a jornada na cabine da caminhonete. A princípio, pensei que as caras pasmas se deviam ao ritual de defumagem, mas assim que os “Bem feitores” se despediram e nos deixaram, descobrimos que nossa aventura guardava emoções ainda maiores. Junto de El Savador e seu ajudante, iam no carro duas crianças. As crianças embarcavam na caminhonete enquanto nós esperávamos, já embarcados, a graça dos dois. Nesse momento uma das crianças que devia ter menos de seis, abriu o porta luvas e chamou a atenção de nossas duas amigas: "Olha, um revólver!” As duas se olharam e antes que tivessem tempo de esboçar qualquer reação,"Los Amigos" entraram no carro e pegamos a estrada, ou melhor as dunas. O fato é que nem mesmo toda a lombra de fumante passiva de baseado foi suficiente pra relaxar as duas coitadas que ainda tinham os olhos estatelados.
Terra a vista!

Mesmo depois de inesperada jornada, fomos capazes de aproveitar Jericoacoara, que é tão bonita e inspiradora que arrancou de um dos viajantes um elogio inusitado. Ao caminho de nosso jantar, o rapaz parou ao avistar uma vaca que se punha a comer as folhas das palmeiras do jardim de uma pousada, o jovem então comentou: “ Aqui tudo é tão bonito, até as vacas. Olha que vaca elegante!”

A vaca elegante dias depois apareceu na minha janenela para ser fotografada!

Bem, pra se chegar em um lugar onde até as vacas são elegante, acho que eu não preciso nem dizer que o sacrifício valeu a pena!

PS: El Salvador era na verdade Espanhol, mas ele tinha espírito de Argentino, eu prometo!

2 comentários:

Anônimo disse...

Mermãzinha, o nome da cidade do hotel do espanhol eh TATAJUBA, e nao jijoca! Morri de rir com o texto!!! Ótimo!!
Bjossss

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkk, tá ótimo laura, só tem uma coisa, as vacas eram ativas e os coqueiros que eram elegantes! kkkkkkkkkk.