terça-feira, março 27, 2007

Cosmo o quê, Narciso?

Eu tenho recebido muitas mensagens de amigos que lêem o “Coisas de Laurinha” reclamando que eu não tenho atualizado o blog com mais freqüência. Eu sinto muito, mas a verdade é que eu não tenho tido muita inspiração, e que mesmo quando a gente mora em NY, as vezes a vida pode se tornar um tédio sem fim.

Noite passada eu respondi a um convite de uma ex-colega de trabalho. Eu já falei dela no blog, muito tempo atrás. Ela é uma imigrante ilegal que veio da Chechenia. Chechenia, caso alguém não saiba, fica na Rússia e há dez anos enfrenta a instabilidade política gerada pelo movimento separatista. Chechenia vêem tentando declarar independência da Rússia desde o fim da União Soviética, e para isso, já passou por duas guerras. A República da Chechenia é de maioria Islâmica, enquanto a Rússia é de maioria Cristã Ortodóxica, mas como todos nós estamos cansados de saber, por traz de desavenças religiosas, sempre existem segundas e terceiras intenções e no caso da Chechenia, não seria diferente. O motivo pelo qual a Rússia bate pé e não abre mão do território Checheno é um velho conhecido nosso: o petróleo! A Chechenia é a região que tem a maior reserva de petróleo em toda a Rússia, e a independência desse república seria economicamente desastrosa para a antiga União Soviética.

Essa minha amiga veio de um pequeno vilarejo da Chechenia. Ela foi criada sob a religião Islâmica, filha única de uma mãe viúva, por isso, foi sempre a prioridade de sua mãe, que como cuidadosa figura materna, desejou pra sua filha nada menos do que o melhor. O melhor segundo sua mãe é o casamento com um bom homem islâmico. Há alguns anos atrás, minha amiga veio trabalhar em um camping de verão como monitora das crianças, era uma espécie de intercâmbio. Quando esse trabalho acabasse, ela deveria retornar a Chechenia, aceitar um bom homem islâmico que sua família escolheria como seu marido e viver feliz pra sempre, mas não foi o que aconteceu. Minha amiga resolveu não voltar pra Chechenia e continuou nos EUA como uma imigrante ilegal.

Nos conhecemos no Café onde eu trabalhava no Soho. Eu morria de rir todas as vezes que ela me dizia que ele tinha que se casar virgem, que ela nunca tinha namorado, que as vinte e três anos de idade ela nunca tinha tido um relacionamento. Para melhorar a situação, e fazer ela ainda mais engraçada, um dos garçons do Café onde trabalhávamos, era Cristão Ortodóxico do Egito, outra área onde Cristão e Islâmicos andam sempre as turras, e no Café, não era diferente: a Chechena Muçulmana e o Egípcio Cristão, estavam sempre em guerra. Lembro-me uma vez , de como eu precisei de cinco minutos pra entender o que tinha acontecido a poucos metros de mim. Minha amiga disse algo e o garçom Cristão fez o sinal da cruz para ela, imediatamente, ela começou a gritar e correu para o banheiro onde ela se trancou por vinte minutos. Eu não conseguia entender como uma coisa em que ela não acreditava, podia ser tão assustadora.

A maluca foi despedida por que, além de brigar com o Cristão Ortodóxico, ela não se continha em brigar com o dono do Café, um Judeu Israelense. Eu, a Infiel, como ela gosta de me chamar, aparentemente, era a única pessoa com quem ela se dava bem lugar, por isso continuamos amigas mesmo não trabalhando mais juntas.

Uma bela tarde de folga em casa, o meu telefone toca, era essa amiga, ela estava ao prantos e perguntava se podíamos no encontrar pra conversar. Eu disse que sim e perguntei o que havia ocorrido, “ Uma pessoas quebrou meu coração”, ela respondeu. Eu pensei:”O que?” Desliguei o telefone e me arrumei para encontrá-la e durante todo o tempo eu imaginava o que poderia estar acontecendo. Ela não podia namorar, sempre me disse isso, como é que isso aconteceu?

Nos encontramos no Lower East Side, minha vizinhança. Passeamos, eu mostrei as coisas que eu gosto perto da minha casa e nó paramos em um restaurante mexicano. Minha amiga me dissera uma vez que estava aprendendo espanhol e que adorava comida mexicana, como eu queria agrada-la, foi direto para o restaurante hispânico. Depois de escolher o que íamos comer e fazer o pedido, finalmente resolvi que era hora de tocar no assunto. Perguntei o que havia ocorrido, por que ela tinha me ligado tão aflita, quem teria sido essa pessoa que havia quebrado o seu coração? A resposta quase me fez entalar com o aperitivo que eu comia: “ Essa garota que trabalhava comigo” ela disse extremamente envergonhada. Eu fingi que não estava surpresa e perguntei: “ Ela era sua namorada?” Ela respondeu que sim. O primeiro trabalho que ela teve em NY depois do acampamento de verão terminar, foi de entregadora de comida nesse café em Midtown. Essa garota trabalhava com ela lá e foi assim que se conheceram, a menina era mexicana. A nacionalidade da garota fez com que eu entendesse a paixão pela culinária tchicana assim que como pela língua, mas ao mesmo tempo, fez com que eu me arrependesse amargamente de tê-la levado ao restaurante onde estávamos. Perguntei a quanto tempo estavam juntas e a resposta me arregalou o olhos novamente: “Mais ou menos dois anos”. Ela me contou sobre como gostava dessa garota, mas como sofria, por que achava que era errado ficar com ela. A união gay de uma Islâmica Chechena e uma Mexicana Católica, não foi fácil de administrar e, depois de várias brigas, a garota terminou o romance. Minha amiga estava inconsolável.

Isso aconteceu a quase um ano atrás, continuamos amigas, mesmo com as diferenças culturais, e noite passada, eu respondi ao seu convite: Patinar no gelo no Central Park! Eu tenho meus próprios patins, presente dessa mesma amiga. Fomos nos encontrar no Central Park com uma amiga dela de Nebraska e um amigo de trabalho Venezuelano. Depois de um ano, minha amiga ainda continua apaixonada pela ex-namorada Mexicana, e quando me viu lado a lado com o Venezuelano, falou: “Vocês podem conversar em espanhol”. Arranhei o meu portunhol aperfeiçoado nos Estados Unidos depois de tanto trabalhar com mexicanos nos restaurantes da minha vida. O Venezuelano ficou bastante impressionado, disse que eu não tinha sotaque de brasileira, que segundo ele, falam espanhol muito engraçado. Ele falou que meu espanhol era muito bom e que meu sotaque parecia o de uma porto-riquenha que depois de muito tempo fora de casa, desaprendera um pouco de espanhol.
Reparei no pescoço da amiga de Nebraska, um colar que parecia uma plaquinha. Era marrom, parecia com um colar que teria algo bíblico escrito, e era. Mais tarde perguntei pra minha amiga se a garota era religiosa. Minha amiga respondeu que sim, ela era extremamente religiosa, e que não fazia idéia de que minha amiga era gay. Lá estávamos nós, o Venezuelano Católico, a Chechena Islâmica Gay, a Americana Cristã Conservadora e a Brasileira Infiel, na melhor tradução do cosmopolitismo nova-iorquino, patinando juntos no Central Park! Minha amiga tratou de me alertar que o amigo da Venezuela também não sabia de sua preferência sexual, por isso eu não deveria comentar nada em sua frente. Argumentei dizendo que ela se preocupava de mais com o que as pessoas pensavam, ela respondeu dizendo que uma vez, ouvira esse amigo comentar que pessoas gays eram na verdade gente confusa, e que ela não se sentiria bem em entrar em detalhes com ele. Quem sou eu para me meter nesse balaio de gato? Fiquei quieta, mas por ironia do destino nó tínhamos escolhido um dia especial para patinar: era noite gay de patinação! Eu, adorei, a música era tudo de bom e as pessoas educadíssimas, todos engajados em aprender novos truques e piruetas! Minha amiga, em compensação se sentiu super-ameaçada.Depois de quase duas horas patinando, eu estava morta de sede e estava começando a chover, então nós entramos para beber água. Eu estava de costas para minha amiga bebendo água, quando eu ouvi uma voz se dirigindo a ela: “ Pode pegar uma pra você!” eu me virei e comigo a sua amiga de Nebraska. Minha amiga abria uma caixinha colorida que trazia em sua mão, foi quando eu vi ela ficar muito vermelha. Ela ria, cobria a boca e andava meio desorientada procurando uma forma de se ver livre da caixa, finalmente ela jogou a caixa de volta a mesa de onde a tinha tirado e correu para o banheiro, passando por mim no caminho. Fui em direção a mesa para entender o que havia ocorrido. Como nós estávamos patinando no evento gay, eles haviam montado um stand para divulgar a caminhada gay contra o HIV e estavam distribuindo preservativos. Duas caixinhas, uma pra meninas e uma pro meninos! A caixa das meninas era uma gatinha e a dos meninos, um cachorrinho, dentro delas preservativos e lubrificantes, mas minha amiga tinha achado que era chocolate.

Eu estava de frente a mesa quando minha amiga saiu do banheiro mais vermelha do que um pimentão contando para a amiga americana-cristã-conservadora o que tinha acontecido. Ela me viu e começou a me contar a história de como abrira a caixa e quase coloca uma camisinha na boca. Eu ri e aceitei uma caixa que a moça do stand me oferecia. Quando íamos saindo a moça se referindo a minha amiga e sua acompanhante: “Não sei por que você está fazendo essa cara, aposto que vocês tem um namorado!” Sem que as duas me vissem , eu balançava discretamente a cabeça dizendo que não. A moça percebeu e me perguntou apenas com os olhos: “Não mesmo?” e eu respondi com a cabeça: “ Não mesmo!” Quando eu achava que tinha posto fim a situação embaraçosa em que minha amiga havia se metido, ouvi a moça grita: “Não tem ninguém? Pois pode ir indo lá pra fora pra ver se arranja alguma coisa! Onde é que já se viu?!” Boa coisa que eu era a única prestando tenção e minha amiga nem ouviu a moça.

Ignorando a chuva, voltamos a patinar. No gelo as figuras mais inusitadas: homem com calças de couro apertadíssimas; casais de judeus ortodóxicos, facilmente reconhecidos pelo jeito que se vestem; garotas moderninhas, cheias de pircings; ma também um monte de gente inidentificável. Isso me fez pensar na necessidade que temos de identificar as pessoas, pensei em por que a gente faz isso? A resposta rápida: Identificar para se identificar! Eu falo isso sem apontar dedos, por que ia estar apontando a mim mesma. Mas, quão narcisista é o ser humano, que mesmo rodeado por várias pessoas diferentes, ainda sente a necessidade de ver a si próprio em cada rosto para o qual olha? Medo talvez? O fato é que NY não é o lugar de sentir medo e sim, o lugar para testar se o seu pedido por cosmopolitismo, que fez você vir parar aqui, é genuíno ou não! E você? Tem certeza de que Narciso NÃO acha feio o que não é espelho? Já fez o teste? “It’s up to you, New York, New York..."
The Big Apple!

sexta-feira, março 16, 2007

Para alcançar paraíso é necessário se passar pelo calvário!

Depois de muito mofar em NYC, lá estava eu, arrumando minha malinhas a caminho de Jericoacoara. Esse pedaço do paraíso já havia sido previamente visitado por mim e por isso, a minha ansiedade era ainda maior. Como as melhores coisas da vida, Jericoacoara, não é um sonho fácil de ser alcançado, é um lugarejo no meio do nada. A nossa jornada deveria começar em Teresina, de onde pegaríamos um ônibus para Parnaíba, litoral do Piauí. De lá, seguiríamos em outro ônibus até Camucim, no Ceará. Na rodoviária de Camucim, alugaríamos dois bugres para acomodar o grupo de oito pessoas que viajava rumo ao paraíso. Tirando as longas horas de ônibus, de espera na mudança de ônibus e da descoberta de que a volta, talvez fosse ser bastante complicada, devido ao horários desencontrados dos ônibus com os quais estávamos contanto, a viagem até esse ponto, tinha sido tranqüila. Na hora de alugar os bugres na rodoviária, descobrimos porém, que existira um problema de comunicação entre os viajantes. Metade dos mesmo, haviam sido informados, erroneamente, do preço dos bugres, e não se mostraram contentes com a descoberta dos salgados preços!

Tentando resolver a situação algumas das viajantes insatisfeitas, encontraram um motorista de um veículo que seria capaz de levar-nos todos por um preço quase três vezes menor do que os bugres. O possante era um Geringonça! Eu me senti a própria Tieta entrando na “Princesa do Agreste”, mas não me preocupei, por que o tipo de carro que fazia esse translado era assim mesmo. O possante tinha adesivos na janela lateral do carro dizendo passeios para Jeri, preferi então, abri mal do bugre para benefício geral dos viajantes.

Todo mundo na Geringonça!


Entramos na Geringonça e uma repentina chuva começou a cair. Notamos que haviam goteiras e que entrava água por todos os lados da Geringonça. Nos conduzindo, iam o motorista e um ajudante, que viajava no teto da veículo junto com a bagagem. A Geringonça tinha que atravessar um braço de mar até uma ilha, de onde seguiríamos para Jeri. Enquanto os outros viajantes se mostravam bem assustados com a peripécia, eu aproveitava a brisa do mar, uma vez que aquilo já não era novidade pra mim. Foi logo depois, assim que chegamos em terra firme, que os problemas começaram. Entramos na Geringonça e o motorista foi posto a prova: dirigir nas areias fofas da dunas e nas molhadas da beira mar. E o que aconteceu já podia ser antecipado pela falta de jeito com que o rapaz começou a jornada, em cerca de dez minutos o indivíduo atolou o carro na beira mar, e se não fosse suficiente, quebrou o câmbio do veículo no desespero. Agora lá estávamos nós, atolados no meio do nada, no sol escaldante do Ceará.

Um bugre passou e o motorista pendurou-se na lateral do carro e foi a Jeri buscar outro carro para o nosso resgate. Ficou conosco o podre infeliz que viajava com as bagagem: ele era o dono da “Princesa do Agreste” e estava desconsolado em ver seu carro atolado, prestes a ser devorado pelas ondas do mar! Eu nesse momento muito enfurecida para sentir por sua perda, me empenhei no resgate de nossas malas junto a um dos viajantes. Que a “Princesa” se afogasse tudo bem, mas dai a minha bagagem!
Enquanto esperávamos resgate, muitos carros passaram, mas todos muito cheios para prestar socorro. Para nossa surpresa, um jatinho passou dando um rasante a poucos metros da praia, o que me fez pensar: "E nós achando que muito luxo é alugar dois bugres pra oito pessoas!” Mas o pior foi quando eu resolvi conversar com o dono do veículo. Alguma coisa me dizia que o nosso motorista não era, digamos, muito experiente! Eu perguntei se o rapaz já havia feito esse percurso. A resposta foi vegonhosamente, mas sinceramente respondida: “Não”. Quando eu decidi fazer uma segunda pergunta: "E o carro já fez essa viajem?” A resposta foi impagável: “Já, quer dizer... já , mas nunca chegou lá!” A resposta arrancou gargalhadas de todos os viajantes queimados de sol e exaustos da viagem, que até aquele momento já havia durado mais de doze horas, e estava longe de ver seu fim!

Quando tudo parecia perdido, um carro passante finalmente parou para ajudar, era uma caminhonete que a primeira vista, parecia cheia, e a segunda vista também. Embora parecesse impossível que mais oito pessoas coubessem no carro, o motorista insistiu: "Vai ficar ai no meio do sol quente menina? Se aperta ai!” Não pode deixar de notar o sotaque do salvador: “Era só o que faltava, vou ficar devendo favor pra um argentino!”, pensei. No total, éramos dezesseis pessoas no carro, sem contar as malas. Foi o maior atentado as leis da física, era perna entrançada com perna, joelhos de um cutucando as costelas do outro, e tudo isso ao “suave” balançar da carroceria da caminhonete que desengonçadamente , subia e descia as dunas cearenses. Ainda na carroceria do carro, tivemos que cruzar uma lagoa de jangada. Era uma plataforma de madeira onde o carro subia e quatro homem empurrando o fundo da lagoa com varas, a movia. Depois de mais de quarenta minutos na carruagem do salvador, ou melhor El Salvador, chegamos a Tatajuba, cidade mais próxima de Jericoacoara. El Salvador, era dono de um hotel em Tatajuba. Ele parou no hotel e disse que se quiséssemos usar o telefone, poderíamos chamar por bugres, mas que em poucas horas, ele mesmo estaria a caminho de Jericoacoara e poderia nos levar. Totalmente influenciados pelo bom ato de El Salvador, resolvemos ficar. Iríamos almoçar no seu hotel, e descansar até a hora da carona. O lugar era lindo e talvez por isso não nos demos ao trabalho de perguntar quanto pagaríamos pelo almoço. Pouco antes do almoço ser servido, o ajudande de El Savador me abordou. Ele vinha dizer que El Salvador estava cobrando vinte e cinco reais por pessoa para nos levar para Jeri, o que sairia mais barato do que dois bugres. Nesse momento eu percebi que El Savador estava se saindo um bem feitor bastante sabido, foi quando eu me preocupei com o preço da nossa futura refeição, mas já era tarde! O almoço veio, com certesa a pior comida que eu comi na vida, só não foi pior do que a conta: por arroz, feijão e peixe frito, cada pessoa pagou quase quarenta reais! “Juntando com os vinte e cinco da viagem e multiplicando por oito, aposto que dava pra gente ter pego o jatinho!” ironizei.

Entramos no carro, novamente contrariando as leis da física, mas a esse ponto o cansaço já era tamanho que nem um de nós tinha mais forças, nem para reclamar do martírio que a jornada havia se tornado. Quando me concentrava no vento que soprava em meu rosto reparei em como minha pele já tinha sido queimada pelo sol. Nesse momento de reflexão, senti um cheiro estranho. Olhei pra dentro da cabine onde duas de nossas viajantes estavam. A cabine estava cheia de fumaça e uma de nossas amigas tinha a cabeça pendurada pra fora do carro. El Salvador e o ajudante fumavam um baseado e defumavam nossas amigas.

Finalmente avistei Jeri de longe e compartilhei a felicidade com os outros pois, já estávamos viajando a quase dezoito horas nesse. Desembarcamos, pagamos nossas passagem de primeira classe e não pude deixar de observar as expressões das duas viajante que completaram a jornada na cabine da caminhonete. A princípio, pensei que as caras pasmas se deviam ao ritual de defumagem, mas assim que os “Bem feitores” se despediram e nos deixaram, descobrimos que nossa aventura guardava emoções ainda maiores. Junto de El Savador e seu ajudante, iam no carro duas crianças. As crianças embarcavam na caminhonete enquanto nós esperávamos, já embarcados, a graça dos dois. Nesse momento uma das crianças que devia ter menos de seis, abriu o porta luvas e chamou a atenção de nossas duas amigas: "Olha, um revólver!” As duas se olharam e antes que tivessem tempo de esboçar qualquer reação,"Los Amigos" entraram no carro e pegamos a estrada, ou melhor as dunas. O fato é que nem mesmo toda a lombra de fumante passiva de baseado foi suficiente pra relaxar as duas coitadas que ainda tinham os olhos estatelados.
Terra a vista!

Mesmo depois de inesperada jornada, fomos capazes de aproveitar Jericoacoara, que é tão bonita e inspiradora que arrancou de um dos viajantes um elogio inusitado. Ao caminho de nosso jantar, o rapaz parou ao avistar uma vaca que se punha a comer as folhas das palmeiras do jardim de uma pousada, o jovem então comentou: “ Aqui tudo é tão bonito, até as vacas. Olha que vaca elegante!”

A vaca elegante dias depois apareceu na minha janenela para ser fotografada!

Bem, pra se chegar em um lugar onde até as vacas são elegante, acho que eu não preciso nem dizer que o sacrifício valeu a pena!

PS: El Salvador era na verdade Espanhol, mas ele tinha espírito de Argentino, eu prometo!

segunda-feira, março 12, 2007

Por que esporte e moda não andam de mãos dadas!

Desculpas esfarrapadas
Ok, então eu resolvi escrever. Depois da dor de ter perdido dois textos pra minha interminável batalha compra a lógica tecnológica, só mesmo a trilha sonora do filme da Drew Barrymore e do Hung Grant, Music and Lyrics, pra me inspirar.
Eu sei que parece desculpa esfarrapada, mas eu espero que as duas histórias perdidas que eu vou me por a escrever agora, não fiquem muito atrás das primeiras versões.

Reclamações de um personagem recorrente
O namorido reclama que eu estou sempre falando dele no meu blog, o que é verdade. Sobre isso, eu só tenho uma coisa a dizer em minha defesa: Eu não posso fazer nada se ele está sempre rendendo assunto!
Eu já escrevi uma vez sobre o consumismo Americano, quando eu falei da parceiria entre a Apple e a Nike, essa nova história passa lá por perto, no mundo da moda, mas primeiro ela faz uma parada em outro tópico: Americanos e o esporte.

Muito pior do que o Fla Flu!
Se você é uma pessoa que, como eu, nunca deu muita importância pra quem está na final do Campeonato Brasileiro e fica irritada quando depois da novela, em vez de um filme que você já viu trinta vezes, a Globo resolve por no ar o Flaflu, saiba que a resposta é: “Sim, dá pra piorar!”
Hoje, por exemplo, é sábado, o namorido vai passar a próxima semana toda em Chicago e em vez de a gente estar fazendo algo juntos, ele está no sofá assistindo Campeonato Universitário de Basquete. Aqui, os Campeonatos Universitários são quase tão importantes quanto os profissionais, o que multiplica por dois o número de jogos pro categoria espertiva. O namorido por exemplo, gosta de basquete, futbol Americano e baseball, entre essas, baseball é a única categoria esportiva pra qual o namorido não tem um time na Liga Universitária. Isso se traduz melhor na listagem dos times pra os quais ele torce:
  1. Dallas Mavericks, NBA, Liga Profissional de Basquete.
  2. North Carolina, Liga Universitária de Basquete.
  3. Dallas Cowboys, Liga Profissional de Futebol Americano.
  4. Texas Long Hornes, Liga Universitária de Futebol Americano.
  5. Boston Red Soxs, Baseball.

O que essa lista significa é que não existe paz nesse hemisfério das Américas. Quando termina a temporada de uma categoria esportiva, começa outra. Eu tenho que admitir que eu até gosto de assitir Futebol Americano, e eu que até tentei no começo apoiar os times de Basquete do namorido, uma vez que é o seu esporte favorito, mas na finais da NBA ano passado eu desisti. O time profissional de Basquete do namorido, pela primeira vez na história chega nas semi-finais e vai jogar contra os arqui-inimigos: Saint Antonio. Eu, como boa “com-sorte”, faço a minha parte, assisto os primeiros quinze minutos, durmo e falo pro namorido me acordar nos últimos 5 minutos de jogo. Dois dias depois, o namorido me diz que nós temos outro jogo pra asistir: Dallas Mavericks x Saint Antonio, humm… De’javú! Não quiz dar uma de burra, por isso não falei nada e a noite segui o mesmo ritual: 15 minutos…zzzzz… 5minutos. Dois dias depois, o namorido empolgadíssimo me pergunta: “Adivinha o que a gente vai assistir hoje?” Eu não muito empolgada respondo: “Dallas Mavs?” Ele responde que sim e completou dizendo que eles ia enfrentar o inimigo número 1: Saint Antonio! Nesse ponto eu achei que eu era esquisofrênica ou que eu estava dentro de um daqueles filmes em que o personagem acorda todo dia de manhã e está viviendo o mesmo dia repetidas vezes. Eu fiz uma pergunta pro namorido, achando que talvez a resposta seria algo tipo “a gente precisa achar um psiquiatra pra você” : “Dallas e Saint Antonio? De novo?” , mas em vez de quer me internar em um manicômio, o namorido me explicou como as semi-finais e finais da NBA funcionavam: Melhor de sete!
Melhor de sete? E eu que achei que prova de amor era comer carangueijo com o namorado. Melhor de sete, isso sim é que é prova de amor. Dallas x Saint Antonio só iria desenpatar as minhas noites depois de uma melhor de sete!
A única experiencia como espectadora esportiva nos EUA que pode ser comparada ou desespero da descoberta da melhor de sete da NBA, foi assitir um jogo de Baseball no estádio! Primeiro por que acabou com a fantasia que eu tinha na minha cabeça de que Baseball é legal!

Eu assiti o filme “Uma equipe muito especial”, um dos meus preferidos, Tom Hanks, Geena Davis, Madonna, … O filme era sobre a Liga de Baseball feminina que foi criada no período da Segunda Guerra, e Tom Hanks e Geena Davis são mais do que suficiente pra fazer você achar que baseball é o esporte mais legal do mundo! A verdade é que ele deveria estar na lista dos mais chatos. Primeiro que é impossível de se entender. Toda vez que eu achava que estava começando a entender o que estava acontecendo, algo estranho vinha acompanhado por uma nova regra e me confundia de novo. Se tudo isso já não fosse suficiente, o jogo é interminável. Uma partida de Baseball dura em media entre 3 e 4 horas, mas alguns podem chegara 5 ou 6 horas, e não como bsaquete, onde os times as vezes tem que jogar 7 vezes como o mesmo adversário, no baseball, um time pode ter que jogar contra o mesmo oponente até 10 vezes! Saí do estádio chingando todos os nomes e prometendo nunca mais voltar a um jogo de Baseball. O namorido defendeu o esporte dizendo que nós tínhamos ido a um jogo chato, mas que a emoção de assistir a um jogo dos Yankees x Red Soxs, era indiscutível.
Pra entender o que existe por tráz da rivalidade entre esses dois, é preciso se aprofundar um pouco na história do homem que é considerado até hoje o maior nome do baseball: Babe Ruth.
Babe Ruth nasceu em 1895 e aos 19 anos de idade foi contratato pelos Red Soxs. Ruth jogou bem pelos Red Soxs até quando foi vendido pros Yankees em 1919. A venda mudou a história do baseball, depois da aquisição de Babe Ruth, os Yankees ganharam o Campeonato Mundial 26 vezes e os Red Soxs amargaram um longo periodo sem vitórias, o que originou o mito da “Maldição do Bambino”. O fato de os Red Soxs terem vendido Babe Ruth para os Yankees teria amaldiçoado pra sempre o time de Boston que amargaria uma longa temporada sem vencer um campeonato. A Maldição do Banbino só foi quebrada em 2004, quando os Red Soxs finalmente venceram a Liga Mundial de baseball.

A maldição do banbino continua
O namorido é fã dos Red Soxs e eu, como uma pessoa altamente influenciada por arte e fácil de impressionar com um pouco que seja de drama, virei simpatizante dos Meias vermelhas, mesmo detestando o esporte, tudo por causa da Maldição!
Agora, se existe uma coisa mais importante na vida do namorido que os times esportivos dele, isso é : MODA! Pasmem, mas meu namorido gosta mais de fazer compras do que eu, e ele faz questão de estar sempre fashionable!
Ultimamente, um acessório que custumava ser visto sendo usado por rappers e espânicos em NYC, possou a desfilar nas cabeça dos modernos fashionistas da cidade que nunca dorme: Boné do Yankees! De repente, usar o boné dos Yankees virou fashion!
A primeira vez em que o namorido demostrou uma tímida vontade em adiquirir o acessório eu pensei comigo: “Não ele não ia chegar a tanto! Um fã dos Red Soxs não compraria um boné dos Yankees só por que está na moda!” Pensei na rivalidade e nos anos de sofrimentos vendo o seu time sendo massacrado… não ele não chegaria a tanto. Bem, eu estava enganada, eu me casei com um escravo da moda! Toda oportunidade existente, o namorido experimentava o ornamento e tentava me convencer de que ele fica muito bem no mesmo. Eu, revoltada, sempre balançava a cabeça e me dizia envergonhada em ver a traição.
O meu “com sorte” estava trabalhando em Dallas quando ele me ligou perguntando o que eu vestiria no Halloween. Eu disse que não fazia idéia, e foi quando ele sugeriu: Britney Spears e Kevin Federline. Eu achei que poderia ser engraçado, mas que também poderia ser difícil de fazer e por isso, me empenhei em pesquisar o casal. Quando eu pesquisava fotos do casal, eu entendi o que estava acontecendo. K. Fed. ilustríssimo senhor Spears, na época, era um acíduo usuário do dito boné!
Nesse ponto eu percebi que nada que eu fizesse empediria do namorido de comprar um boné dos Yankees. Nem se que pra isso, ele tivesse que fazer eu me vestir de Britney Spears! Eu cedi. Fiquei loira e engravidei em prol da traição esportiva!
Tenho que admitir que o casal pop foi a sensação da festa de Halloween. Todos ficavam, a princípio, envergonhados sem saber se eu estava mesmo grávida, mas assim que viam que não passava de um travesseiro, eram risadas, elogios e fotos!
O namorido estava insuportável, se achando muito sex com aquela roupa, o que pra mim era surreal. Como alguém, sob qualquer sircunstância, pode achar que está bem vestido quando fantasiado de Kevin Federline! Passou o dia seguinte a festa desfilando o boné até que ele recebeu um telefonema. Era a organizadora da festa da noite passada, ela estava ligando pra dizer que o namorido tinha ganho o prêmio de melhor fantasia. Ele ficou bem empolgado até a hora que a organizadora da festa, estudande de moda que trabalha na Vouge Teen, falou:"Você estava perfeito, tão White-trash!” White-trash pra quem não sabe, seria traduzido como “povão” ou “cafona.” Depois desse comentário, o boné passou a gastar mais tempo na caixa do que na cabeça do namorido.
A festa foi no fim de semana antes do Halloween que só seria na terça-feira. O namorido tinha que voltar pra Dallas a trabalho e eu estava ocupada pra sair durante semana. O namorido me ligou dizendo que ia sair com seu amigos de infância de Dallas e que iria de K Fed. Eu comentei que ele talvez não fosse reconhecido solteiro, mas não achei que seria má idéia usar a fantasia mesmo assim.






X







As 3 da manhã na madrugada de Halloween, meu telofone tocou. Era o namorido. Ele estava em um bar quando um bêbado começou a gritar com ele do outro lado do bar dizendo que o NY Yankee era uma merda. O namorido achou engraçado e não deu bola, mas o bêbado insistiu mostrando o logo no boné que usava. O namorio viu pelo boné, que o homem era fã dos Cowboys, o mesmo time de Futebol Americano por qual torcia. O homem se aproximou e continuou a instigar, o namorido resolveu então mostrar sua carteira de identidade, pra mostrar pro inergumeno que ele era de Dallas e também fã dos Cowboy. Quando ele pegou a carteira no bolso, o enfurecido Cowboy derrubou com um tapa a carteira de suposto Yankee, que se abaixou pra recolher-la. Quando se levantava, outro tapa tirou-lhe o boné da cabeça, e antes que pudesse entender o que estava acontecendo, foi golpeado com um soco no olho. Agora ele estava dirigindo o seu carro a caminho do hotel onde estava hospedado e falando no telefone comigo. Seu rosto sangrava, mas ele não sabia de onde o sangue vinha. Eu precisei de 15 minutos pra convecê-lo de que teria que ir ao hospital. Depois de passármos os dois a noite em claro, eu em NY e ele em Dallas no hospital, soubemos do diagnóstico: Um corte no supercílio, dois ossos quebrados no rosto e a eminência de uma cirurgia caso o osso quebrado, que era responsável pelo suporto do olho, saisse do lugar.
Foram quase 6 semanas visitando diferentes médicos até que a intervenção cirurgica fosse descartada. O namorido se recuperou, parcialmente, ainda não sente parte da arcada dentaria do lado atingido, pois a recuperação desse tipo de nervo é lenta. Mesmo sabendo que a história toda andou longe de ser engraçada e vendo o namorido inchado e roxo, eu não resisti em dizer:
“Eu disse que um fã do Red Sox usando um boné dos Yankees não podia dar em boa coisa!”