Meu amigo mexicano, que é garçom, deveria saber que apenas 10% da produção mundial de vinho, tem potencial para envelhecer, o resto, tem que ser bebido jovem, antes de perder sua personalidade. O fato é que, enquanto ando as voltas tentando desenrolar o ninho de cobras que está a minha vida e descobrir a qual porcentagem de vinho eu pertenço (10% que melhoram com o tempo, ou os 90% restante que viram vinagre!) prefiro ter ao meu lado um cara relaxadão e desencanado.
Coisa de Laurinha não é exatamente um diário! Esse Blog é uma tentativa desesperada de manutenção dos meus conhecimentos em língua portuguesa que, diga-se de passagem, nunca foram assim tão grandiosos. As histórias aqui encontradas são baseadas em fatos reais e memórias minhas, mas constantemente adulteradas com propósitos literários. Resumindo: Não acreditem em tudo que lêem, mas também não duvidem!
quarta-feira, novembro 25, 2009
Rússia, Grécia, agora Portugal...? Que bagunça!
Meu amigo mexicano, que é garçom, deveria saber que apenas 10% da produção mundial de vinho, tem potencial para envelhecer, o resto, tem que ser bebido jovem, antes de perder sua personalidade. O fato é que, enquanto ando as voltas tentando desenrolar o ninho de cobras que está a minha vida e descobrir a qual porcentagem de vinho eu pertenço (10% que melhoram com o tempo, ou os 90% restante que viram vinagre!) prefiro ter ao meu lado um cara relaxadão e desencanado.
segunda-feira, novembro 23, 2009
De cabeca para baixo o arco-íres é mais bonito.
Ontem tive o dia de folga. O dia mais preguiçoso que tive em muito tempo. Teria sido um desperdício de dia se não tivesse a desculpa perfeita para o cansaço sem fim que sentia: dois dias seguidos trabalhando com música grega ao vivo no restaurante!!!!!!!!
Enquanto os Gregos se gabam de ter criado tudo no mundo, posso dizer, depois de ter sido exposta exageradamente a musicalidade desse povo, que música grega é uma bosta! Prefiro escutar Axé... bem, talvez não chegue a tanto... mais é ruim!
Para quem não sabe, eu praticamente virei garçonete profissional. Depois de ficar de saco cheio da instabilidade do trabalho de Assistente de Produção em NYC, assumi minha condição de garçonete para pelo menos poder voltar a estudar. Depois de mais de um ano dessa palhaçada, ando, rabujenta suspirando pelos cantos repetindo: “O que eu estou fazendo com minha vida?”
Quando era adolescente ( as vezes parece que foi ontem, outras, ha um século, vai entender!) sempre achei que ira conhecer o mundo, ser independente, destemida e toda essa baboseira juvenil: Renegando a estabilidade, apego a propriedade e aos bens materiais... com o amor dos amigos, de minha família e dos meus gatos, sempre preferi ser livre do que apegadas a coisas me prendiam a qualquer lugar que fosse. Tive altas crises de falta de referência. Desde que saí de Teresina, aos 16 anos isso sempre me perturbou. Quando ainda vivia em minha terra natal, me sentia uma estrangeira, mas depois que saí de lá, ao contrario do que esperava, esse sentimento só piorou. A certeza de que não conseguiria nunca retomar Teresina como lar, aumentava a angustia de não me sentir inteiramente acolhida por nenhuma outra cidade.
Acho que posso culpar um pouco a genética. Meu irmão sofreu do mesmo mal. Foi para Recife e detestou. Sofreu por todo o tempo que esteve na faculdade, sempre me apontando como pessoa de sorte por ter vivido em Belo Horizonte , mas quando foi sua vez de habitar a capital mineira, meu irmão sofreu do mesmo banzo: Belo Horizonte também não enchera o vazio. Claro que o pobre do meu irmão não sofre de um caso de “fogo-no-rabo” tão sério quanto o meu, mas a única fez que vi ele mais alegrinho, vou quando passou 6 meses em Portugal.
Apaixonada por NYC e desesperada para ir embora ao mesmo tempo, se entro num forró que gosto ir as vezes para matar a saudade, trato de não beber. Isso por que se estiver bêbada e ouvir : Asa Branca, Cajuína, Riacho do Navio ou Último pau de arara, é fato: vou cair no choro! Já pensou no vexame, chorar no forró ouvindo a saga dos nordestinos: “quem foge a terra natal em outro canto não pára!”(trecho de Último pau de arara)
Para piorar a dilema, toda vez que ligo no Brasil, uma amiga está financiando um apartamento, a outra está planejando ter filho.... fico me sentido o ser mais imaturo do mundo! Tudo que possuo é uma estante cheia de livros.
Depois das muitas visitas que recebi esse ano, ficou ainda mais fácil entrar na depressão de outono. SAUDADE e confusão mental tem me deixado sem dormir por quase um mês. Foi um pequeno detalhe, que facilmente passaria desapercebido na última conversa que tive com minha mãe que me fez sentir um pouco melhor.
Planejando a visita de natal e reveillon que minha mãe vem me fazer esse ano, perguntei-a se gostaria de esquiar. Eu mesma , nunca fui! A voz a minha mãe se modificou! Reconheci uma alegria quase infantil no tom de minha mãe quando me respondeu dizendo que sempre quis ver neve. Meu peito se encheu de felicidade de poder proporcionar um bobo momento de alegria para minha mãe, que ultimamente só trabalha!
Minha mãe tem mais de 50 anos e nunca viu neve! Na verdade, ela só saiu do país uma vez, para vir me ver! Isso por que ela estava sempre muito ocupada cuidado crindo dois filhos e envestindo em sua carreira. Hoje em dia, viajar é mais barato e por isso muitas das minhas amigas que estão comprando apartamento e tendo neném não vão ter que esperar tanto tempo para conhecer o mundo quanto minha mãe. A maioria vai conhecer a Torre Eifel, a estátua da liberdade, o Coliseu, mas nunca vão ter a experiência de morrer de preocupação ao passar dias sem receber notícias de sua amiga chechena. Ou a frustração de não ter tempo e dinheiro o suficiente para visitar todos os amigos que cobram visitas : em Bali, na Itália, na Grécia, na Rússia, no Chile, no Peru, na República Checa... ou mesmo a alegria de rever um amigo holandês, conhecido em BH que vive agora em Lisboa!
Tudo isso coloca de cabeça para baixo o prisma pelo qual ando observando a vida. Talvez chegue aos trinta sem carro, casa e filhos (para o desespero de minha mãe). Talvez, tudo que tenha sejam dois gatos, uma estante cheia de livros, um computador cheio de músicas (nenhuma grega, claro!), mas desdobrei cantos da minha personalidade que nunca teriam sido explorados se tivesse ficado em Teresina estudando para um concurso público. Descobri coisas boas e ruins! Aprendi que tolerar diferenças é bem mais fácil na teoria que na prática, mas que quando nós ultrapassamos a primeira barreira de resistência ao estranho, as recompensas são incalculáveis. Aprendi a falar inglês com sotaque nova iorquino ( não noto, como toda pessoa que tem sotaque, os outros que me apontam) . Perdi um pouco da minha paciência sem limites e aprendi a abrir a boca quando alguma coisa me irrita : famosa NewYork atitude! Aprendi a viver mais, me preocupar menos.
Felizmente, os cabelos brancos ainda são contáveis, ao contrário dos amigos! Felizmente, minha mãe vai poder passar natal comigo para ver neve pela primeira vez! Felizmente, vou passar uma semana em Lisboa com ela e minha madrinha depois do ano novo e rever meu queridíssimo amigo holandês!
Melhor do que isso é só saber que esse fim de semana foi o último que tive que trabalhar com aquela música horrorosa na minha cabeça. A partir da próxima semana, vou trabalhar num restaurante japonês e talvez uma ou duas vezes por semana no grego, só por que meu chefe teria um infarto se eu fosse embora de vez! Vai entender como uma cultura com tantos anos para evoluir, ainda consegue fazer música ruim desse jeito! Aff...
Ganhando melhor, trabalhando menos, quem sabe não sobra um tempinho para estudar mais, para um estágio... ou para Coisas de Laurinha !
domingo, novembro 15, 2009
Belo dia de outono...
Hoje é um daqueles dias engraçados... tive folga, saí com o namorado e uma amiga para aproveitar um dia lindíssimo depois de uma temporada cinzenta. Almoçamos num restaurante delicioso, pela primeira vez comecei a gostar de morar no Queens... depois assisti dois filme...
Enquanto caminhava para casa, lembrei de um velho hábito. Quando estava na faculdade, toda vez que andava pelo campus tinha a mania de me equilibrar nos canteiros dos jardins. No caminho de casa, procurei por muito tempo um canteirinho que fosse para me equilibrar, mas não achei. Na falta do canteiro, pulei pelo meu caminho sobre as folhas de outonos que cobriam as calçadas. Foi a primeira vez em que eu pensei sobre esse velho hábito.
Minha história de equilibrista não passava de uma maneira de relaxar, me concentrar em algo ordinário para limpar a mente. Para que? Para parar de pensar!
Engraçado como cresci ouvindo que os jovens da minha geração não eram acostumados a pensar sobre a vida. Ouvindo as histórias de nossos pais que lutaram contra a ditadura, minha geração cresceu se sentindo um grande saco de batata, alguns completamente alienados a qualquer coisa que não tivesse haver com a cultura pop, outros, sempre achando que deviam estar lendo mais filosofia e assistindo menos novela. Agora, depois de 28 anos tentando elevar minha insignificante existência a um nível minimamente mais intelectualizada, tenho que ouvir que o meu problema é: Eu penso demais!
Nunca pensei que isso existisse! Para mim, quanto mais a gente pensasse, mais desenvolvesse nossa intelectualidade! Pensei errado... para variar! Primeiro meu namorado me disse isso: “Você pensa demais.” Achei um absurdo. Como assim? Raul Seixas me disse que eu uso apenas 10% da minha cabeça animal, então, qual é o problema em tentar pensar um pouco mais?
O primeiro problema: Insônia! Não posso colocar toda a culpa dessa minha companheira de longas noites na minha incapacidade de aliviar as idéias, mas sei que quando a noite chega e minha cabeça está cheia de dilemas, a probabilidade maior é de que Morpheus não me prestará visita. Quando alguns dos poucos médicos que tentaram entender minha insônia me questionaram sobre esse problema, a resposta era simples: minha cabeça não para, e eu não consigo dormir. Um pensamento leva a outro e em cinco minutos, já nem lembro como comecei a pensar naquele assunto...
O segundo problema é a incapacidade de desassociação de certas coisas. Semana passada, enquanto me visitava, um de meus familiares, médico psiquiatra, não conseguiu acreditar quando me ouviu falar sobre alguns dos motivos pelo qual não consigo comer carne. Para mim, bife é vaca morta! Não é só uma questão de ter pena da vaca ( o que eu tenho), mas tenho um pouco de nojo e estranheza de comer um bicho morto. Como peixe, tive que me acostumar por uma questão de saúde, mas não gosto da idéia! Agora, comer um boi! Pior uma galinha, que para mim é um dos animais mais asquerosos que existe. Depois de ouvir tudo isso, meu primo não teve dúvida: “Você pensa de mais!”
Meu problema não para aí., tem a culpa. Meu peixe preferido é provavelmente atum. Pois outro dia, li que o atum está sendo super-consumido e que provavelmente entrará em extinção. Quando menciono isso para qualquer pessoa, a resposta é a mesma: melhor aproveitar enquanto tem, mas eu me consumo em culpa. Já me vi várias vezes pedindo outro peixe em vez de atum num restaurante pensando no assunto. Meus acesso de culpas já me fizeram desistir de também de vários vestidos “Made in China” depois de assistir um documentário sobre as ações Chinesas no Tibet. Claro, que muitas vezes eu como atum, e compro um sapato lindo e extremamente barato feito na China, mas quase sempre a culpa me persegue e acaba me levando de volta ao meu primeiro problema (insônia) criando uma corrente maluca de neurose sem fim.
Hoje, enquanto pulava de folha em folha por falta de um canteiro para aliviar o juízo, me vi debaixo de uma árvore pelada. Todas as folhas já haviam caído. Sem folhas e sem canteiro, me vi forcada a pensar na vida depois de longo e relaxante dia de outono. Três visitas consecutivas de diferentes familiares fizeram a saudades de casa praticamente insuportável! Pior que a saudades, foi descobrir que algumas memórias de infância iam se apagando.
Tentei me lembrar da letra de duas músicas que meus pais cantavam para me fazer dormir quando pequena. Me faltaram versos para as duas. Claro que com internet agora tudo se descobre num piscar de olhos, mas fica a sensação de que devia estar pensado mais sobre se é melhor ficar por aqui, ou voltar para o Brasil... lá se foi outra noite de sono... Por enquanto, tento viver um dia atrás do outro até minha cidadania sair, esperando sempre que as noites se acalmem, que Morpheus venha me ninar ao som de Casinha Branca ou Riacho do Navio.