domingo, outubro 07, 2012

Sonhos de uma noite de verão.

 Tudo começo numa quente tarde de verão caminhando com um amigo brasileiro por Union Square. Nós passamos em frente a uma livraria muito grande aqui nos EUA e vimos um cartaz promocional. O cartaz dizia que em determinado dia, Glen Hansard, um músico Irlandês que eu amo de paixão, estaria na dita livraria assinando CDs. Pensei comigo mesma, se ele está aqui é por que vai fazer show. Fucei na internet, e descobri as datas que coincidiam com a chegada de outro amigo brasileiro que estaria em NYC. Comprei dois ingressos pensando nesse amigo.


O tempo passou e meu amigo chegou. Contei para ele dos ingressos, ele se animou e estava tudo combinado. Nós nos encontraríamos na livraria, pegaria meu autógrafo, a gente jantaria e depois iria para o show. Desencontro clássico de brasileiro sem telefone em NYC... esperei muito, mas ele nada de dar as caras, acabei indo só e atrasada para a livraria.
Quando cheguei lá, não só todas os acentos estavam tomados mas atras das cadeira arranjadas para o evento, uma multidão de gente, pois antes dos autógrafos ele iria tocar algumas músicas. Nem nas pontinhas dos pés eu podia ver nada. Fiquei triste, mas resolvi ficar.

Glen Hansard para quem não conhece é um encanto de pessoa... engraçadíssimo. Tocou duas músicas e se sentiu muito incomodado com a multidão atras das cadeira onde eu estava. Na opinião dele tinha muito espaço mais perto do pequeno palco onde as pessoas poderia ver a performance melhor. A contra gosto da segurança do lugar, a faixa que separava as cadeira e as pessoas de pé onde eu estava foi removida. Onde eu fui parar? Sentada no palco com mais meia dúzia de sortudos. E foi assim que eu ouvi ele cantar, tocar e conversar fiado, as um metro e meio de distância do cara.

Saí de lá em estado de graça, tão feliz que nem liguei de ficar na fila para pegar autógrafo. Hora, mas se eu tinha sentado no palco de um ganhador do Oscar de melhor trilha sonora original... eu lá preciso de autógrafo!!!!

Fui jantar só quando meu amigo finalmente me ligou. Estava na casa do amigo que o hospedava, mas o amigo tinha saído sem chave de casa e se ele saísse o amigo ficaria trancado na rua. Dilema, esperei até a última hora o tal do amigo voltar do lado de fora da casa de show, mas nada... Acabei chamando uma amiga minha na última hora, mas por causa da espera, quando nós entramos, acabamos ficando muito longe do palco. Para piorar a situação, nesse show estavam as pessoas mais altas do mundo!!!! Sem brincadeira!!! Nunca vi tanta gente alta no mesmo lugar. Eu pobre coitada, anã em meio aos gigantes, quase choro de tristeza. Minha amiga, que é brasileira e nunca desiste, rodou o lugar todo até encontrar um lugarzinho que de dava para eu mais ou menos ver show.

Como alegria de pobre dura pouco, percebi que um cara que tinha ido comprar cerveja, estava voltando. Pela cara das pessoas na nossa frente, eles eram amigos e o grandalhão ia se enfiar na minha frente. O homem era uma parede de grande mas, para a minha surpresa, ele parou do meu lado. Respirei aliviada!

Entrei total no clima do show. Estava bem cantarolando uma das minha música favoritas quando o grandalhão se encurvou um pouco e se dirigindo a mim disse: “ Ele é muito bom, né?” Minha amiga nos observou de rabo de olho, mas eu só balancei a cabeça que sim, sorri e continuei vidrada no show. Pouco tempo passou quando um dos caras na nossa frente viu o Grandalhão tão afastado deles. Ele perguntou o que ele fazia ali tão para trás e por que não se unia e eles. O grandalhão respondeu apontando para mim e minha amiga: “Não, eu sou muito alto, vou ficar aqui mesmo.”

Antes que pensasse na repercussão, já tinha respondido: “Você é muito fofo!” “Fucking fofo, né?”- respondeu o enorme samaritano. Abri o maior sorriso, primeiro por que achei engraçada a resposta, segundo por que ele tinha sido fofo de não entrar na minha frente e terceiro, por que reconheci um sotaque estranho.
Quem leu meu último texto sabe do poder do sotaque, por isso perguntei: “De onde você é?” E a resposta foi encantadora: “Dublin”. Ah, o bofe é Irlandês!

O único probleminha com o sotaque dele era que eu só entendia 40% do que ele dizia, o resto eu só balançava a cabeça e sorrira. Mesmo com toda a fofura do mundo, quando me virava pro palco e via o Glen Hansard, era como se o mundo só fosse ele, por isso o grandalhão saiu do meu pensamento. Agora, amiga que é amiga chama a gente na besteira, e foi isso que a minha fez. Reparando que tinha largado o bofe de mão, já por um tempo, aproveitou uma brecha pra me alfinetar. Quando comentei, quase que hipnotizada pelo show:

Oh mulher, mas é lindo o Glen, né?”- ela respondeu na hora.
Lindo é esse menino que falou contigo e tu não tá dando a menor bola, tu acha que eu não vi?!”

Ela estava certíssima, o bofe era um espetáculo. Alto, ombrudo, uma barbinha por fazer do jeito que eu gosto...! Fiz o que tinha que ser feito: abri um sorriso que praticamente engolia minhas orelhas e perguntei para ele as coisas básicas: a quanto tempo estava aqui, quanto tempo ia ficar, o que vinha fazer... De todas as respostas que ele me deu, só entendi que ele havia chegado a um mês. Oh povo para falar rápido e enrolado, acho que Irlandês é o piauiense da Europa nesse sentido. Ele perguntou se queria beber algo. Disse que só uma água. Ele buscou um copo de água. Estava sedenta e em dois goles terminei minha água. De repente, ele tirou o copo da minha mão e colocou outro cheio no lugar. Eu agradeci. Se não fosse suficiente, ele passou o resto do tempo tentando achar melhor ângulo para que eu assistisse o show.

Depois de algum tempo de conversa, e quando digo conversa, quero dizer, ele falando rápido e eu fingindo que entendia, alguns amigos Irlandeses chegaram. Não havia reparado direito quando minha amiga me cutucou e falou em bom piauês:

Mermã, que diabo é isso? A gente tá arrudida de homi , se são tudo enormes. De onde que saiu esse tanto de homi grande.”

Eles não eram só grandes, eram todos lindos. “Mermã, acho que a gente morreu e foi pro céu. Não te disse que todo o nosso trabalho duro na terra ia ser recompensado mais cedo ou mais tarde.”- respondi debochada. O grandalhão disse que tinha que ir para o bar do outro lado da rua fazer alguma coisa que fingi que entendi, mas que voltaria em 20 minutos, que esperava me ver quando voltasse. O problema é que o show acabou antes dele voltar. Enquanto nós íamos saindo andando a passos de tartaruga, descobri que minha amiga estava hipnotiza pela beleza de um do altões. Desculpa perfeita para o meu subconsciente, que deixa eu mover mundos e fundos pelas amigas, mas tem o limite de tolerância bem baixo para correr atrás de homem. Então oficialmente, eu comecei a caçar o bofe da minha amiga, mas estava mesmo era atrás do meu.

Nós entramos no bar onde os meninos estavam. Vi o bofe da minha amiga, mas nada no meu. Os altões de repente todos saíram do bar e foram embora. Tinha acabado de comprar duas cervejas que não estava com a menor vontade de beber, só pra ter uma desculpa para ficar no bar... quando a tristeza começou e me corroer, vi pela vasta janela do restaurante o Grandalhão voltando. Entrou no bar como se tivesse uma missão, obviamente ele havia se perdido do resto do grupo. Acenei do bar, mas como não estava na altura do olhar dele, o infeliz passou direto e saiu do bar novamente. Aí que a tristeza bateu mesmo. Pensei comigo que o universo tinha me dado outra chance e eu não pulei na frente do homem com uma melancia na cabeça para ele me ver.

Minha amiga avistou outro menino bonitinho e resolveu olhar para ele para afogar as mágoas. Ela deu uma olhadinha e o gato chegou junto. Achei aquilo muito estranho considerando o comportamento local. O menino abriu a boca: brasileiro! Agora estava explicado! O menino era a criatura mais boba e desinteressante, sorte dele que tinha uma carinha bem aceitável para gente aguentar a bobagens que ele estava falando.

Minha amiga bem conversando com ele quando dei um pulo na minha cadeira. Um por um eu vi os altões passando pela janela do bar em direção a entrada. Foi tudo em câmera lenta, todos ele depois um tempinho sem ninguém passar pela janela e por último: o Grandalhão em toda sua lindeza. Eles foram entrando, até que o bofe apareceu, eu e minha amiga, as duas acenamos, ele olhou sorriu e passou. Eu esbocei ficar triste, mas antes que tivesse tempo, ele parou, fez uma cara de confuso, e voltou. Foi quando reparei que ele não tinha me visto, só minha amiga.

Ele veio falar comigo, eu mencionei que era a segunda vez que ele passava por mim sem perceber que eu existia, ele pediu desculpas explicou o que eu já sabia: que estava perdido dos seus amigos. Alguns dos altões vieram conversar com a gente de depois de alguns minutos, nós percebemos que o brasileiro tinha ido embora e a gente nem reparou. Coitado, o menino era bonito, mas perto daquele harém invertido, ele não pegava nem gripe.

Conversa vai, conversa vem e eu falei para o Grandalhão que havia virado cidadã americana. Ele olhou para me e sem cerimônias disse:

Você quer casar comigo? Eu preciso de um green card, sou capaz de fazer qualquer mulher feliz.”

Não tenho a menor dúvida da capacidade do bofe, mas tive que dizer que estava resolvida a voltar ao Brasil antes do fim do ano. Ele disse que o jeito era aproveitar ao máximo o tempo restante. Eu sorri. Os amigos aglomeraram e de repente a má notícia: “Nós estamos indo, posso pegar seu telefone?” Antes que respondesse ele mesmo continuou: “Não, né? Desculpa, não devia ter pedido!” Agora, eu penso com os meus botões: Um infeliz desse só pode nunca ter visto um espelho na vida! Que mulher no seu juízo perfeito não daria o telefone para um homem lindo e gente boa? Quando ele ia se virando para ir embora, eu comecei a rir e puxei ele pela camisa:

Anota meu telefone seu bobo.”

Ele anotou e tentou me ligar, fiquei olhando para o meu celular, esperando tocar e nem percebi que ele tinha me dado as costas. Foi quando disse:

Meu telefone não está tocando, você tem certeza que colocou o número certo?”

Ele se virou rápido com uma cara de susto tentando desligar o telefone rapidamente quando deixou escapar:

Acabei de pedir um beijo para uma pessoa estranha...”

Awwwww.... que BUNITIM!!!!!! O jeito foi beijar o rapaz. Depois de um beijo espetacular, olhei para ele que continuava por alguns segundos com os olhos fechados:

Uau, que beijo é esse? Me dâ o telefone certo! Que eu preciso te encontrar!”

A gente sabe que a tecnologia foi feita única e exclusivamente para deixar a gente na mão quando a gente mais precisa. Eu tentava ligar para ele e o telefone dele nada, ele tentava ligar para mim e meu telefone nada. Já era quatro horas da manhã e isso estava dando nos meus nervos. Ele pegou meu celular. Anotou o número dele e o do amigo, caso o dele não funcionasse. Você liga para quem precisar, mas me ache!

Entrei no táxi suspirando e digerindo as orelhas que a muito tempo tinham sido engolidas pelo sorriso incontrolável que havia invadido meu rosto. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para os dois números de telefone que ele havia anotado:

Olá Grandalhão, aqui é a Laura. Beijos ;)”

Continua...