sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Tudo indo esgoto a baixo! E a comunicação? Zero!











A minha confusão mental não podia ser maior! Agora eu tinha dois homens bonzinhos fazendo absolutamente tudo para me agradar. Isso pode parecer bom, mas como o diz o ditado: Quando a esmola é muita, o santo desconfia. Não que eu fosse uma santa, mas eu estava duplamente desconfiada. De um lado, o Sem Face sendo, desde o princípio, assustadoramente carinhoso, mas mais mole que ostra fresca; do outro, o Ex-nanorido com sua mudança exagerada de pós-revelação. Ai que vontade de dormir!!!!

Eu tinha tentado me distanciar um pouco dos dois, mas não completamente. Eu andava um pouco doente e tive que ir ao médico. Aproveitei a oportunidade para pensar. Nessa época eu estava terminando o trabalho para a HBO, estava correndo contra o tempo para mandar todas as roupas alugadas de volta para Los Angeles. Eram pilhas e pilhas de uniformes da marinha, exército e aeronáutica, todos decorados com broches, medalhas, símbolos de patente e uma infinidade de outros detalhes, cada um listado por seu nome técnico. Eram folhas e folhas de listas que formavam um livro e das duas pessoas que ainda trabalhavam comigo nesse ponto do filme, a única que era qualificado para fazer isso, estava ocupado com o livro de continuidade. Eram caixas e mais caixas cheias de brochinhos, todos misturados, outra coisa que me dava vontade de dormir! Com tanto trabalho para fazer em tão pouco tempo, eu não podia me dar ao luxo de ficar pensando na morte da bezerra, enquanto trabalhava tinha que estar 100% concentrada.

Depois de muito pensar, resolvi que eu queria era paz. Do Ex-namorido, eu não tinha como me afastar, uma vez que a gente tinha que permanecer casados pelo menos mais uns três anos. Ele já tinha deixado claro também que não tinha maturidade para continuar meu amigo depois de separado. Por mais que me doesse o coração, eu teria que me afastar do Sem Face, para o bem da minha sanidade mental! O problema é que se tem algo que eu não sei fazer é terminar relacionamentos. Sou um desastre, eu prefiro a morte por enforcamento a ter que olhar no olho de alguém e dizer: “Foi muito bom te conhecer, mas não dá mais. Boa vida pra você!” Ah! Só de pensar, meu estomago se revirava todo. Naquela manhã eu estava extremamente mal humorada. Por causa de um péssimo planejamento da produção do filme, nós tivemos que mudar de espaço físico pelo último mês de trabalho, era um trabalho extra totalmente desnecessário que só estava acontecendo por incompetência da produtora. Quando eu cheguei à frente do novo local, abri a porta do caminhão e na hora de descer, ouvi que algo caíra de dentro da minha bolsa. Quando eu olhei para o chão, era meu celular, boiando no esgoto! Eu dava gritinhos de nojo e desespero enquanto tirava, com o pé, todos os meus contatos profissionais do esgoto. O motorista me ofereceu um lenço de papel. O celular ainda se estribuchou por algumas horas antes de morrer. Mandei um e-mail a todos que poderiam estar interessados em saber que eu não estaria com meu celular por alguns dias.

Era sexta-feira quando isso aconteceu, mas é claro que algo desse tipo não aconteceria em uma sexta-feira qualquer. Aquele fim de semana era o aniversário do Ex-namorido, que havia reclamado o mês todo sobre como nenhum de seus amigos estaria em NYC para o evento. Eu mandei um e-mail para ele e, assim que cheguei em casa, nos falamos via Skype. O meu celular faz parte de um “plano família” com ele, por isso, eu achei que ele teria que ir comigo a loja resolver o caso do óbito do meu aparelho. O motivo pelo qual os amigos do Ex-namorido não estariam na cidade era um feriado na segunda-feira. No sábado o Ex-bofe foi comigo a loja de celulares, eu fingi de doida e me mostrei muito surpresa quando eles disseram que algo úmido talvez houvesse entrado em contato com o celular. Como o aparelho tinha poucos meses e eu tinha assinado um plano de dois anos, o vendedor pediu que eu comprasse uma bateria nova, que ele me daria um celular novo, além disso, ele iriam também resgatar a minha agenda telefônica e transferi-la para o novo brinquedinho. O procedimento demoraria algumas horas, o acompanhante perguntou se eu não gostaria de dar uma volta. Nós estávamos no Soho, bairro famoso pela quantidade de lojas. Andamos nas lojas, almoçamos, conversamos fiado e voltamos para pegar meu celular. Quando eu ia embora, ele me pediu para ficar. Era aniversário dele e ninguém estava na cidade.

Nós assistimos um filme, voltamos para o seu apartamento e vimos mil episódios de Flight of the conchords, um dos meus seriados de tv preferidos. Ele não reclamou nem um minuto de estar vendo todo pela segunda vez. Abriu uma garrafa de vinho e eu caí no sono. Dormimos na mesma cama, cada um com a cabeça pra um lado. No domingo de manhã, eu acordei tomei banho e sobre os protestos de Ex- namorido, não fui embora. Fui à farmácia, comprei um desodorante, uma escova de dentes e uma calcinha nova. Tomei banho e vesti uma camiseta dele. Fomos ao Brunch. Eu tentei pela milionésima vez ir a um lugar chamado Clinton Bakery, mas a fila a espera por uma mesa dava a volta no quarteirão, como sempre. Era aniversário do Ex-namorido, então eu pensei que o jeito ia ser comer comida mexicana o dia todo. Brunch mexicano, planos de jantar mexicano. Eu fiz a gentileza de pagar pelo jantar já que era o aniversário do rapaz que, por sua vez, se dizia não merecedor de tanta bondade. Eu tive que concordar com ele, mas paguei o jantar mesmo assim. A noite de domingo imitou a de sábado.

Eu cheguei em casa na segunda a tarde e um sentimento estranho me tomou. Nada tinha acontecido entre nós dois, e mesmo eu tendo deixado claro para o Sem face que eu não estava em condições de nada sério, eu me senti mal pelo pobre coitado, pois depois do e-mail de sexta-feira, eu não tinha dado mais notícias. Liguei e deixei uma mensagem na caixa postal dizendo que o meu celular estava concertado e que se ele quisesse, poderia me ligar.

A semana passou rápido principalmente consumida pelo trabalho. Pensei que o fim de semana seguinte seria perfeito para ir a Boston. A última vez que eu cancelei minha ida, foi por causa do chilique pré-revelação do Ex-namorido. Liguei para a minha amiga, que adorou a idéia.

Durante toda a semana o Ex-“com sorte” ligou e falou comigo. Eu falei que ia a Boston, ele me ajudou a buscar umas coisas no trabalho e levar pra o meu apartamento. Enquanto isso, eu não ouvia uma palavra se quer do Sem face. Eu imaginei que ele tivesse me visto andando com o Ex durante o fim de semana que eu sumi. Senti-me mal por ele, mas no fundo eu adorei não ter que terminar nada. Tudo ia tão bem, que eu estava esquecendo a bagunça que minha vida tinha sido a à pouco tempo atrás. Eu e o Ex estávamos em relação civilizada, o Sem face sumiu por vontade própria sem dor para mim e, finalmente, eu teria tempo de visitar minha amiga.

Na quinta à noite, minha amiga me liga. Estava morrendo de vergonha, mas tinha uma proposta de trabalho para o fim de semana e não podia recusar. Eu disse que não se incomodasse que eu iria outra hora. Logo depois, meu telefone tocou de novo, era o Ex. Eu disse que ficaria em NYC par o fim de semana e ele agiu estranhamente. Me disse que na sexta-feira, “os caras” levariam ele pra jantar para celebrar o aniversário e depois eles sairiam. Considerei o termo “os caras,” como um sinal de que seria uma noite de homens e que eu não seria bem vinda. Não liguei à mínima.

Sexta à noite, eu estava em casa e depois de trabalhar um pouco no início da noite, eu e lancei aos braços de Morpheu, deus dos sonhos. Às duas da manhã, meu celular apita, era uma mensagem do Ex-namorido: “Noite muito estranha!” dizia a mensagem, achei melhor ligar. Pelo barulho, ele já estava em um bar e pela voz, ele já estava bêbado. Ele falou umas besteiras sobre o jantar e eu conversei um fiado, mas achando aquele papo muito fiado. Foi quando ele perguntou: “Você leu meu e-mail?” eu perguntei se era o e-mail sobre o zoológico, ele disse que não: “O da minha festa!” Eu fiquei comendo mosca... “Eu estou fazendo minha festa de aniversário hoje, no Orchard Bar, todo mundo está aqui!” Eu não sei como descrever a sensação de raiva tomando conta do meu corpo. “Um e-mail?” – perguntei. “Você me viu todo dia essa semana, falou comigo todos os dias e me convidou para seu aniversário por e-mail?” Entrei na minha caixa de mensagens para encontrar o bendito. Nem um e-mail normal era, era um link que levava a um site de convites de aniversário, coisa comum lá. Eu tinha aberto o e-mail, mas não tinha entrado no link achando que era spam. Eu falei por alguns minutos, absolutamente dominada pelo ódio, de como ele era idiota e sempre arranjava um jeito de estragar as coisas quando tudo ia bem. Ele justificou dizendo que tinha ficado com raiva de eu ter marcado a ida a Boston no fim de semana da sua festa, mas que s duas da manhã do sábado, no meio d festa, ele concluiu que talvez, eu não tivesse feito aquilo de propósito, e sim por não ter visto o e-mail. Eu, educadamente, mandei que ele fosse fazer uma visita a Lúcifer.

Orchard Bar era um dos meus bares favoritos. Havia ficado fechado por um tempo. Algumas semanas antes daquele dia, eu descobri que ele estava funcionando novamente e avisei o Ex-namorido. Ele marcou a sua festa no meu bar favorito, arrumou um jeito de eu não ir e de se fazer de coitado, só para arranjar confusão. Aquilo era crime premeditado, e a pena para aquilo devia ser apedrejamento em praça pública. A minha raiva não cabia em mim. Era sempre assim, ele dava um jeito, arrumava um motivo para ficar com raiva de mim sem eu nem saber o que se passava. Eu estava de saco cheio. Na briga da noite anterior eu tinha dito que se ele ia continuar a inventar desculpas para ficar com raiva de mim, era melhor eu começar a fazer o mal, se era para alguém ficar com raiva de mim, melhor que fosse com motivo.

Sábado eu acordei e olhei meus e-mails. O Sem face avia ressurgido! Era um e-mail da sexta-feira à noite perguntando se eu estava viva e se meu telefone estava funcionando. Tentei ligar, mas caiu na caixa postal, e deixei outro recado.

Meu telefone tocou ao meio dia. Essa era a hora que ele saia da terapia todo sábado de manhã. Atendi sem o menor bom humor: “Que é?” Ele pediu desculpas. Pela milionésima vez. Usou uns termos de psicologia para justificar a burrada e disse que eu estava certa, que ele inconscientemente estava arranjando sarna para coçar! Pediu paciência e disse que estava tentando melhorar. Eu desculpei, por que para quem já tinha desculpado 999999 vezes, uma a mais, não faria diferença, mas estava claro que o jogo que eu estava jogando, estava longe de ser justo comigo! Ele perguntou se eu queria encontrá-lo, eu disse que não.

No meio da tarde, naquele mesmo dia, eu recebi uma mensagem do Sem Face, queria saber o que eu ia fazer. Eu até uso mensagens, mas quando eu não posso falar. Então eu liguei de novo, e mais uma vez ele não atendeu. Resolvi que se ele quisesse falar comigo ia ter que parar de teclar e abrir a boca! Deixei mais uma mensagem dizendo que se quisesse falar comigo que me ligasse. No domingo, mas uma mensagem de texto, essa foi a sua cerimônia de enterro. Ali, naquela mensagem, na prova da incapacidade masculina de comunicação verbal, eu enterrei o Sem Face. Uma coisa era agüentar o Ex-namorido me convidado para um aniversário via e-mail, por que ele, eu era obrigada a agüentar, mas o Sem Face não tinha desculpa.

Obs:
Talvez seja maldade minha culpar os meninos por completa estupidez na questão da comunicação, afinal de contas a ciência explica. Em quantos os homens usam apenas um hemisfério do cérebro para se comunicarem, nas mulheres, observa-se atividade cerebral em ambos os hemisférios durante a comunicação verbal. Fisiológica ou não, a questão é que na era das comunicações e da globalização, se os homens não tratarem de correr atrás do prejuízo e se reciclarem, ele vão acabar virando material obsoleto!